Numa cerimónia realizada no Palácio Dolmabahçe, na cidade turca de Istambul, com a parceria da Turquia e da ONU, foram assinados dois documentos - já que a Ucrânia recusou assinar o mesmo papel que a Rússia - devendo o acordo vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, renovável.

As quatro delegações reuniram-se na presença do secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, dos ministros da Defesa turco e russo e do ministro da Ucrânia para as Infraestruturas.

A cerimónia aconteceu sob as bandeiras da Rússia e da Ucrânia, separadas pela bandeira azul da ONU e a bandeira vermelha da Turquia, que se ofereceu para servir de mediador desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.

Depois de dois meses de duras negociações, os documentos visam criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.

O acordo implica também que passe a ser feita uma inspeção dos navios que transportam os cereais, para garantir que não levam armas para a Ucrânia.

Estas inspeções, que serão realizadas tanto à saída como à chegada dos navios, deverão acontecer nos portos de Istambul.

Em conferência de imprensa, António Guterres, secretário-geral da ONU, anunciou que a Ucrânia e a Rússia chegaram a acordo quanto à exportação de cereais através do Mar Negro. O acordo desbloqueia assim 80 portos ucranianos.

Referindo que este é "um acordo para todo o mundo", Guterres falou no momento como "um farol de alívio".

"Hoje temos um farol para o Mar Negro. Um farol de esperança. Um farol de possibilidades. Um farol de alívio num mundo que precisa desse alívio mais do que nunca", frisou, agradecendo de seguida "aos representantes da Federação Russa e da Ucrânia".

"Ultrapassaram obstáculos e puseram de lado as diferenças, para abrir caminho a uma iniciativa que vai servir os interesses comuns de todos", apontou.

O secretário-geral da ONU lembrou ainda que o acordo vai ajudar "a estabilizar os preços globais dos alimentos, que já estavam em níveis recordes mesmo antes da guerra – um verdadeiro pesadelo para os países em desenvolvimento".

"Especificamente, o acordo que acabámos de assinar abre caminho para volumes significativos de exportações comerciais de alimentos de três portos ucranianos importantes no Mar Negro – Odesa, Chernomorsk e Yuzhny. O envio de grãos e alimentos para os mercados mundiais ajudará a preencher a lacuna global de fornecimento de alimentos e reduzir a pressão sobre os preços altos", explicou Guterres.