"Mais de 100 pessoas mortas em menos de 4 meses em fogos em Portugal. Por muito que a frieza destes tempos, cheios de números e de chavões políticos, económicos e financeiros nos convidem a minimizar ou banalizar, estes mais de 100 mortos não mais sairão do meu pensamento com um peso enorme na minha consciência como no meu mandato presidencial", disse Marcelo Rebelo de Sousa no seu comunicado ao país.
Do coração da última tragédia, em Oliveira do Hospital, o Presidente afirmou que esta é a derradeira "oportunidade para levarmos a sério a floresta e a levarmos a sério como prioridade nacional".
Num discurso marcadamente emocional, Marcelo disse que "olhar para os dramas de pessoas com carne e osso, com a distância das teorias, dos sistemas ou das estruturas, por muito necessário que possa ser, é passar ao lado do fundamental na vida e na política”, sublinhando estas mortes têm uma interpelação política".
"Mais de 100 mortos em menos de quatro meses, sendo um peso na consciência, são igualmente uma interpelação política, uma interpelação política ao Presidente da República, que foi eleito para servir incondicionalmente os portugueses, para cumprir e fazer cumprir uma Constituição que quer garantir a segurança e a confiança dos cidadãos", disse.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a segurança e a confiança dos cidadãos estão em causa para muitos portugueses, que "não viram os poderes públicos como garante" desses princípios.
De acordo com o chefe de Estado, é inegável que muitos "ficaram fragilizados" perante "o que lhes pareceu a insuficiência de estruturas ou pessoas" no combate aos incêndios deste ano.
"Ficaram, sobretudo, fragilizados perante a ideia da impotência, da impotência da sociedade e dos poderes públicos em face de tamanha confluência de catástrofes no tempo e no espaço", reforçou.
Admitindo que possa ser "em muitos casos excessiva ou injusta", o chefe de Estado insistiu: "O certo é que a fragilidade existiu e existe, e atinge os poderes públicos. E exige-se uma resposta rápida".
Neste contexto, rejeitou a possibilidade de se "conviver com novas tragédias", prometendo atuar com "todos os seus poderes" para que haja mudanças e a segurança e a confiança sejam salvaguardadas.
"É tempo de reconstruir, de iniciar um novo caminho, de acreditar no futuro, na base da mudança em relação ao passado", afirmou.
Em vésperas do debate do Orçamento de Estado para 2018, Marcelo pedi que "se houver margens orçamentais, que se dê prioridade à floresta e à prevenção dos fogos".
Os mais de 500 incêndios que deflagraram no domingo, o pior dia de fogos do ano segundo as autoridades, provocaram pelo menos 41 mortos e 71 feridos, dos quais 16 em estado grave, além de terem obrigado a evacuar localidades, a realojar as populações e a cortar o trânsito em dezenas de estradas.
O Governo decretou três dias de luto nacional, entre hoje e quinta-feira.
Esta é a segunda situação mais grave de incêndios com mortos este ano, depois de Pedrógão Grande, em junho, em que um fogo alastrou a outros municípios e provocou 64 mortos e mais de 250 feridos.
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