No passado dia 28 de outubro, Donald Trump saía do golfe. A caravana do presidente norte-americano vinha do Clube Nacional de Golfe Trump, nas margens do rio Potomac, perto de Washington DC, a capital dos Estados Unidos.

Pelo caminho, passou por Juli Briskman, que ia de bicicleta na mesma estrada. Tudo isto seria banal, não fosse o gesto de Briskman à passagem do presidente: levantou-lhe o dedo do meio, que é como quem diz, fez um gesto de conotação pouco simpática.

A imagem invadiu a imprensa e cedo se tornou num símbolo do descontentamento com a presidência de Donald Trump, eleito há um ano. Foi mesmo a Casa Branca quem explicou o sucedido: “A caravana do Presidente saiu do Trump National Golf Club às 15:12, passando por dois peões, um do quais fez um sinal de desaprovação. Depois, ultrapassou uma mulher ciclista, que usava uma camisola branca e um capacete, que respondeu mostrando o dedo do meio”, pode ler-se na nota dada pela residência oficial do presidente.

“A caravana teve de abrandar e a ciclista aproximou-se, ainda a mostrar o dedo, antes de seguir outra direção”, acrescenta o relatório, citado pelo ‘Guardian’.

O gesto, capturado pelo fotógrafo da AFP na Casa Branca Brendan Smialowski, que estava a acompanhar a caravana do presidente norte-americano, rapidamente se tornou viral. E agora custou o emprego desta mãe solteira.

Briskman mora nos arredores do campo de golfe de Donald Trump e havia saído para andar de bicicleta no sábado quando a caravana começou a passar.

Smialowski, veterano nas caravanas da Casa Branca, disse que está sempre com a câmara pronta a disparar.

"Nunca sabes o que vais ver. Nunca sabes o que vai acontecer", conta o jornalista. Gestos vindos de espetadores, como polegares para cima ou dedos do meio, são comuns.

Neste caso, diz o fotojornalista, Briskman "parecia saber exatamente quem estava dentro daqueles veículos".

"O que tornou esta ciclista única foi a sua tenacidade. Quando a caravana a ultrapassou, ela conseguiu recuperar e mostrar os seus sentimentos novamente", explica Smialowski.

A foto apenas mostra Briskman de costas, sem identificação, com o braço para cima e o dedo do meio levantado.

Logo as redes sociais apoiaram a causa de Juli, sem saberem, todavia, quem era a ciclista anónima. Houve quem lhe chamasse heroína, houve quem apelasse a uma candidatura presidencial da mulher da camisola branca.

Agora, porém, a história conhece um novo rumo. Consciente da mediatização que o gesto ganhou, Juli Briskman, uma mulher de 50 anos, com dois filhos, decidiu contar a história à empresa para que trabalhava - A Akima, uma companhia que colabora com o governo norte-americano.

No dia a seguir estava a ser despedida.

Os patrões explicaram-lhe que ao usar a imagem como foto de perfil no Twitter e no Facebook, Briskman estava a violar as regras da empresa para as redes sociais. “Basicamente, não podes ter conteúdos ‘sexuais’ ou ‘obscenos’ nas tuas redes sociais. Ou seja, eles estavam a dizer que mostrar o dedo [a Trump] é ‘obsceno’”, disse Briskman ao Huffington Post.

Na mesma entrevista, a mulher conta que explicou aos patrões, para quem trabalhava há pouco mais de seis meses, que o incidente ocorreu fora do horário de trabalho e que nada nas suas contas das redes sociais refere a empresa. Todavia, os executivos da Akima ter-lhe-ão explicado que como uma empresa contratada pelo governo, a imagem pode afetar o negócio.

No estado da Virginia, a legislação permite que os empregadores despeçam a qualquer altura e por qualquer razão.

Contudo, Juli Briskman lembra uma outra história, que diz ser semelhante na forma, mas diferente no resultado. É que no passado, conta, um colega, homem, pôde manter o emprego depois de fazer comentários grosseiros na página pessoal do Facebook, onde figura, na foto de destaque, o nome da empresa.

Briskman, que trabalhava no marketing e comunicações da empresa, explica que o homem levou uma reprimenda, mas pôde manter o emprego depois de apagar os comentários.

Agora, quer encontrar um trabalho numa causa com que se identifique, como as de planeamento familiar ou de proteção dos animais, diz a mulher, uma Democrata (Donald Trump foi eleito com o apoio do Partido Republicano, o Partido Democrata é a principal oposição).

Entretanto, os amigos de Briskman criaram uma campanha na página de angariação de fundos GoFundMe, para ajudá-la a recolher dinheiro enquanto procura um novo emprego.

Todavia, não se arrepende do que fez. Pode ter perdido o emprego, mas alegra-se por ter criado um símbolo para o protesto contra Trump. “Estou chateada com o estado do nosso país. Isto foi uma oportunidade de dizer alguma coisa”. E disse.

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