“Vamos entrar em 2018, seguramente, desfalcados, ainda em situação de seca muito grave. No ano hidrológico 2018/2019, se não chove, a situação pode ser realmente de uma gravidade extraordinária”, perspetivou Francisco Nunes Correia, professor de Recursos Hídricos do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa e antigo ministro do Ambiente, no final do ano passado.

O início do ano hidrológico acontece a 1 de outubro, por um período de 12 meses compreendido entre o início de duas estações de chuva consecutivas – outono e inverno.

Relativamente ao prolongamento da situação de seca em Portugal, Francisco Nunes Correia apontou como consequência direta a aplicação de restrições ao uso dos recursos hídricos, referindo que a medida “vai variar muito de local para local”.

“Deixa de haver água nas torneiras ou passamos a ter água uma hora por dia. […] Muitas colheitas ou muita agricultura têm de se deixar de fazer - culturas regadas, se não houver água”, indicou.

Em termos de consequências ambientais e ecológicas, “se os rios não têm água, a capacidade de autodepuração é muito menor”, o que pode provocar a morte de peixes.

Neste sentido, o antigo ministro do Ambiente disse que a seca tem consequências “muito graves”, o que obriga a “um racionamento draconiano relativamente à pouca água existente”.

João Matos Fernandes, ministro do Ambiento, terá como grande desafio para o próximo ano a gestão das bacias hidrográficas.

“Teria que chover muito este ano [hidrológico 2017/2018] para que a situação recuperasse, até agora isso não aconteceu”, declarou o docente em Recursos Hídricos.

Com uma posição semelhante, o especialista em Recursos Hídricos pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) António Gonçalves Henriques disse que é fundamental uma previsão antecipada de uma situação de seca hidrológica para que sejam preparadas medidas de restrição dos consumos, visando uma melhor gestão e uma utilização mais eficiente da água.

De acordo com o especialista do LNEC, a seca meteorológica registada em 2017 em Portugal “não resultou numa situação de seca generalizada para todo o país, do ponto de vista de seca hidrológica”.

A situação mais crítica de seca hidrológica em Portugal verificou-se na barragem de Fagilde, “que já se sabia que era insuficiente para o abastecimento de concelhos de Viseu, Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo”, relatou António Gonçalves Henriques, considerando que as medidas de mitigação do problema chegaram “muito tarde”.

Na perspetiva de Nunes Correia, o país hoje sofre menos com o problema da seca do que há 20 ou 30 anos, porque foram construídos sistemas de armazenamento de água que, “apesar de tudo, ajudaram a mitigar os problemas até agora”.

Apesar de Portugal estar “bastante adiantado” em termos de infraestruturas para armazenamento de água, a atual situação de seca prova que “ainda é preciso reforçar a capacidade de armazenamento”, defendeu o antigo governante.

À problemática da seca associa-se a erosão dos solos, particularmente relevante após os incêndios florestais de 2017. Diversos municípios de áreas atingidas estão a fazer intervenções para protegerem solos e linhas de água, enquanto lançam concursos públicos para operações de maior dimensão, com fundos nacionais e europeus.

Em novembro do ano passado, o Governo prometeu celeridade na aprovação de candidaturas, informando que o Ministério da Agricultura disponibilizou 49,5 milhões de euros para este tipo de ações.

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