Segundo o diretor da Biblioteca Geral da UC, João Gouveia Monteiro, o prelo (máquina tipográfica para imprimir), datado do século XVIII, foi recuperado e musealizado e a sua presença “é uma honra” para a instituição.

“Vamos imprimir nele amanhã [quarta-feira]. Na tarde da inauguração, as pessoas verão folhas impressas no prelo restaurado e é muito interessante, uma Universidade, que também se orgulha de ter um grande Museu de Ciência e coleções muito interessantes ao nível da Antropologia, da Física, etc., ter também aqui esta memória editorial de uma máquina com a dimensão e até com a beleza que têm os prelos e com a história que ele transporta consigo”, afirmou o responsável à agência Lusa.

A UC adianta que o fabrico do prelo “está atribuído a Wilhelm Haas, o Filho, em Basileia, entre 1784 e 1794, o que o torna no mais antigo prelo metálico do mundo conservado”.

“Presente em Coimbra pelo menos deste 1845, quando foi intervencionado pelo ferreiro Manuel Bernardes Galinha, este prelo imprimiu periódicos da maior importância para a história da cidade, como ‘O Observador’ e o ‘Conimbricense’. Foi adquirido pela Biblioteca da Universidade há cerca de 150 anos, e esteve emprestado ao Instituto Botânico, onde imprimiu publicações e etiquetas para as plantas do Jardim Botânico”, acrescenta.

O prelo “estava nos baixos da Biblioteca Joanina, incompleto e com todas as partes de madeira em acelerada deterioração” e, em 2018, um dos mais relevantes historiadores de prelos manuais no mundo, o museólogo americano Robert W. Oldham, assegurou a sua disponibilidade para acompanhar o restauro.

Nos finais de 2019, com a reforma do átrio da Biblioteca, com a saída do turismo, surgiu a oportunidade e foi efetuado o restauro da peça.

“Estava datado de meados do século XIX porque tinha lá uma etiqueta de um ferreiro muito conhecido em Coimbra, que era o Manuel Bernardes Galinha (…) e, por via dessa etiqueta metálica, pensava-se que tinha sido ele próprio o construtor do prelo”, contou João Gouveia Monteiro.

A presença em Coimbra do investigador americano permitiu estudar a peça com atenção “e chegou-se à conclusão de que ela é bastante anterior”, da década de 1780 e “tem um valor único a nível mundial, na sua tipologia própria, na transição entre os prelos mais antigos do tempo do [Johannes] Gutenberg e os prelos metálicos mais modernos”.

O prelo foi totalmente restaurado e vai ficar musealizado no átrio da Biblioteca Geral da UC, devidamente sinalizado e com ecrãs eletrónicos “que permitem também alguma interatividade”, segundo o diretor.

A peça vai passar a ser uma das “atrações” da Biblioteca que, a partir de quarta-feira, com a inauguração da requalificação do átrio principal (18:00), terá uma zona para debates políticos e culturais.

A 1.ª edição da série “Questões disputadas”, recuperando uma velha tradição universitária de debate vivo de ideias, terá por temas “O hábito faz o monge?” e “Mudamos o mundo, ou é o mundo que nos muda a nós?”.

O átrio também servirá para divulgar iniciativas e publicações da Biblioteca Geral da UC, para acolher um espaço de estante e de recolha de sugestões da comunidade estudantil.