Criado em Antuérpia, na Bélgica, em 1964, com o objetivo de salvaguardar e promover o património cultural imaterial europeu, o festival Europeade decorre todos os anos num país diferente, tendo a última edição sido organizada em Turku, na Finlândia. Sem propósitos competitivos, os grupos que participam costumam fazer atuações de rua para dar a conhecer os seus diferentes costumes e músicas tradicionais.

Denominando-se "Cidade Europeia do Folclore", Viseu recebe a 55ª edição do festival, a terceira a decorrer em Portugal depois da Figueira da Foz ter acolhido duas edições: em 1986 e 1992. Todos os conteúdos da 55.ª edição do Europeade – que decorrerá até domingo - são da responsabilidade da organização internacional, cabendo ao município de Viseu o acolhimento do evento e toda a organização local, ao nível da segurança, dos transportes, do alojamento, das refeições e da preparação da cidade.

No que respeita à alimentação, “há toda uma logística preparada para o efeito, assegurada por duas empresas da especialidade”, e serão servidas quase 16 mil refeições diárias, explicou à agência Lusa o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Viseu, Jorge Sobrado.“O pequeno-almoço será servido nos próprios locais de alojamento. Já as refeições de almoço e jantar serão servidas em quatro espaços, nas escolas com maior dimensão”, referiu.

Jorge Sobrado disse que “houve naturalmente a preocupação em valorizar pratos tradicionais portugueses, como o bacalhau e o rancho à moda de Viseu”, mas os participantes poderão também comer “refeições vegan, vegetarianas, sem glúten ou lactose”. Serão 20 os locais de alojamento, predominantemente escolas do concelho, “para além dos hotéis que muitos participantes e acompanhantes procuraram”, acrescentou.

Vinte pessoas, sobretudo colaboradores do município e da Viseu Marca, têm estado em permanência a organizar o festival, nas áreas da gestão, da programação, da comunicação, da logística e equipamentos e das tecnologias de informação. “O staff de montagens, todavia, dispõe de um contingente de 50 pessoas, variável em função das fases de preparação do evento, mas que trabalha nestes últimos dias em permanência”, referiu Jorge Sobrado.

Durante o festival, os vários grupos terão o apoio de voluntários, num total de 365, de 13 nacionalidades. Segundo o vereador, estes voluntários são “predominantemente jovens, mas também adultos em idade ativa e seniores motivados em viver uma grande experiência por dentro”. Os voluntários são sobretudo portugueses, mas encontram-se também “nacionalidades tão distintas como Moldávia, Polónia, Roménia, Letónia, Hungria, Cabo Verde e Brasil”, num “verdadeiro melting pot cultural”, acrescentou.

Jorge Sobrado explicou que “a principal missão destes voluntários prende-se com o acompanhamento local dos grupos, embora abranja outras tarefas no apoio à estrutura permanente” do festival. “Estes voluntários têm recebido nos últimos dias formação específica sobre a organização e programação do evento, o plano de alojamento e alimentação, a mobilidade, mas também a história e os pontos de interesse turístico de Viseu”, contou. Os voluntários vão envergar fardamento desenhado por Katty Xiomara no âmbito do projeto #viseufolk, que é baseado numa valorização da iconografia do folclore e do património histórico de Viseu.

Com o objetivo de favorecer a mobilidade dos mais de 5.400 participantes do festival e a segurança nos espaços de maior concentração de pessoas e eventos, a cidade de Viseu vai sofrer várias alterações durante estes cinco dias. Além de várias limitações de tráfego automóvel no centro histórico, haverá condicionamentos nas zonas abrangidas nos períodos de realização das grandes galas (junto ao estádio municipal do Fontelo) e do cortejo etnográfico. Foram definidas zonas de estacionamento para os autocarros que transportam os mais de 200 grupos inscritos. Os participantes receberão guias específicos, com mapas, contactos úteis, dicas de português, oportunidades de visitas a museus, informação turística e gastronómica.

Viseu veste-se de gala

Para além das autoridades, também os comerciantes da cidade estão comprometidos em criar um ambiente propício para o festival. Nas montras dos seus estabelecimentos, onde estavam as últimas tendências da moda encontram-se agora trajes de ranchos folclóricos, alfaias agrícolas, vinho e cestas com broa e chouriço.

“Há 55 anos que faço montras, mas esta foi a que mais vivi. Quando a acabei, até fiquei emocionada”, admitiu à agência Lusa Maria de Lurdes Correia, que tem uma loja de alta-costura na Rua Direita. Na montra da “Marilú – boutique e atelier”, por estes dias não há vestidos de gala, nem malas enfeitadas com lantejoulas. O único manequim enverga um traje domingueiro emprestado pelo Rancho Folclórico Verde Gaio, de Lordosa.

A encimar a entrada da loja, está um estendal com cinco lenços coloridos e, no chão, várias alfaias agrícolas. No interior, a enquadrar a montra, foi colocada uma imagem da Fonte das Três Bicas. “Quando a associação comercial lançou o desafio, fiquei logo entusiasmada, mas tive a preocupação de ter algo relacionado com o património da nossa cidade, que não se resume à Sé e à Igreja da Misericórdia”, justificou a comerciante.

Descendo a Rua Direita, são muitas as lojas cujas montras se inspiram no folclore, independentemente de venderem roupa, calçado, joias ou gelados. Na ourivesaria Momentus Dourados, os clientes são recebidos à porta por um manequim vestido com uma capucha típica da região e uma saia e avental em tecidos vermelho e amarelo, cores usadas nos cartazes do Europeade. “Foram dois serões que passei a fazer a saia, o avental e as capuchinhas em miniatura que estão na montra”, contou à Lusa Licínia Almeida, que se congratula pela realização do festival em Viseu, até porque faz parte do Grupo Folclórico de Moure de Madalena.

Na montra, ao pé das capuchinhas que “vestem” garrafas, há colares e brincos como os que adornam as mulheres dos ranchos folclóricos, com preços para todas as carteiras, em prata e em ouro. “Temos muitas peças relacionadas com o folclore, como as filigranas e os cordões de ouro. Esperamos usufruir um pouco deste entusiasmo em torno do festival”, afirmou, salvaguardando que, acima de tudo, o objetivo foi participar e não ficar de fora do ambiente festivo destes dias.

O presidente da Associação de Comerciantes do Distrito de Viseu, Gualter Mirandez, mostrou-se muito satisfeito com a adesão de 53 comerciantes ao concurso de montras do Europeade, um número recorde neste tipo de iniciativas. “Creio que é uma primeira manifestação de que estão desejosos, estão também com vontade de ajudar”, considerou.

Gualter Mirandez considerou que esta poderá ser uma boa oportunidade de negócio para os comerciantes da cidade.“Eu estou convencido disso, até pela própria característica de quem nos vem visitar. É gente ligada à cultura e às tradições e com algum poder de compra”, realçou.

Entre os participantes, estão comerciantes de várias artérias da cidade, sendo a maioria do centro histórico. Os comerciantes foram também desafiados a alargar os horários de funcionamento quer à hora de almoço, quer ao final do dia, “pelo menos até às 21:00”, acrescentou.

Se quiser acompanhar o Europeade, consulte a programação no website oficial, aqui.