"Queremos que sejam devidamente averiguados os casos de saúde pelas autoridades, não apenas no que respeita aos efeitos de curto prazo, como irritações de olhos, de garganta, nariz e pulmões, mas a efeitos irreversíveis que provavelmente tiveram lugar", disse hoje à agência Lusa Carla Graça.

É também indispensável, segundo a Zero, "ter muito mais atenção à prevenção deste tipo de acidentes e maior articulação entre as entidades que, em caso de dúvida, devem atuar com maior prevenção".

A ambientalista da Associação Sistema Terrestre Sustentável, Zero, referiu que as populações a norte da península de Mitrena e na zona leste de Setúbal "estiveram sujeitas durante várias horas a uma exposição de vários milhares de microgramas por metro cúbico de dióxido de enxofre, o que é uma situação extremamente grave".

Por isso, "é preciso fazer um seguimento da população para os efeitos de médio e longo prazo", acrescentou.

O incêndio deflagrou na madrugada de terça-feira nos armazéns de enxofre da Sapec Agro, na Mitrena, e foi declarado extinto às 9:10 de hoje, tendo provocado lesões em 20 pessoas, entre os quais 10 bombeiros, devido ao excesso de dióxido de enxofre libertado, como anunciou a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Na quarta-feira, a pluma, ou nuvem, do poluente chegou até à região do Porto, passando por Alverca ou Chamusca.

"É preciso averiguar as responsabilidades, é preciso realizar um inquérito porque há consequências para a saude pública e certamente também para os ecossistemas envolventes", salientou a Zero.

Segundo Carla Graça, terá de ser registada a exposição da população mais perto do local do incêndio a "vários milhares de microgramas por metro cúbico face aos resultados medidos em estações a dezenas de quilómetros de distância, como Alverca ou a Secil no Outão".

O que se passou na terça-feira, aponta a Zero, foi que "as condições de dispersão e de controlo do incêndio provavelmente melhoraram, as condições meteorológicas dispersaram melhor os poluentes, mas a situação voltou depois a agravar-se e ontem [quarta-feira] houve picos de concentração".

Para os ambientalistas, as medidas que hoje foram bem tomadas deviam ter sido ativadas na quarta-feira, mais cedo, havendo "muito que aprender" com o que está a passar-se neste caso.

Ao final da tarde de quarta-feira, a Câmara de Setúbal mandou encerrar as escolas do concelho de todos os graus de ensino, na sequência das recomendações da DGS, mantendo-se hoje sem funcionar.

A Zero criticou ainda a "limitada" disponibilização de dados acerca da evolução da concentração de dióxido de enxofre na atmosfera.

Na quarta-feira, pelas 16:30, os habitantes da península de Setúbal foram aconselhados pela DGS a protegerem-se devido a elevados níveis de dióxido de enxofre no ar, e crianças, idosos e doentes com problemas respiratórios crónicos ou cardiovasculares a não não saírem de casa e a fecharem as janelas.

A população tem de ser avisada quando no ar há mais de 500 microgramas de dióxido de enxofre por metro cúbico, sendo que, disse, esses valores foram superados e numa das estações de medição chegaram aos 900 microgramas.