Em 1970, eu era uma criança de seis anos e o Brasil disputava o Mundial no México com uma das equipas mais talentosas de todos os tempos: Pelé, Gerson, Tostão, Jairzinho, Clodoaldo, Piazza, Rivellino e o capitão Carlos Alberto Torres. Eles encantaram o mundo com jogadas de mestre, elegância e dribles desconcertantes. Carlos Alberto arremataria a goleada de 4x1 imposta à Itália, na partida final do mundial, com um remate tão poderoso quanto fulminante que ficaria marcado para sempre.

Ontem, dia em que faleceu vitimado por um enfarte do miocárdio aos 72 anos, todos os grandes veículos de comunicação do mundo teceram elogios à sua imagem. Ex-jogadores citaram o seu carácter e a sua postura. Carlos Alberto, ou “Capita” (como era carinhosamente chamado), só tinha amigos. Carinhoso com todos que o rodeavam, transformou-se numa referência para diversas gerações do futebol brasileiro. Eu que o conheci posso testemunhar que era um gentleman.

O craque ganhou diversos títulos no Brasil a atuar por equipas como o Fluminense, do Rio de Janeiro, onde começou a sua carreira, e o Santos, São Paulo e de Pelé, com quem jogaria ainda no New York Cosmos ao lado do amigo Franz Beckenbauer. Juntos enfrentaram Eusébio, no Las Vegas Quicksilver, outro amigo. Nesse tempo e espaço, o que menos importava aos jogadores era o penteado, a cor do cabelo ou o ângulo focado pela câmara.

Atualmente, Carlos Alberto, que teve uma carreira vitoriosa também como treinador de equipas de futebol no Brasil e no exterior, fazia comentários para o canal desportivo SporTV, no Brasil, e participava num grupo de estudos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que tem o propósito de melhorar a modalidade em todos os aspectos. O 'Capita', com as suas ponderações equilibradas, a sua inteligência e experiência não fará mais parte deste grupo. Perdemos uma das nossas maiores referências do desporto, e essa notícia deixa-nos tão angustiados como o guarda-redes italiano Enrico Albertosi na hora daquele remate fulminante na final do estádio Azteca, no México, em que o Brasil se sagrou campeão do mundo. É uma pena, perdeu-se mais um campeão. O nosso consolo é saber que se trata de um imortal.