O que este jogo teve de especial, e que alterou o formato e desenrolar da partida, foram pequenas alterações táticas de parte a parte. Umas tomadas e outras por tomar.

Vejamos o que aconteceu durante a partida, e pelo meio analisemos a vertente tática que mudou, no caso do Manchester United, e poderia ter mudado, no caso do Manchester City, o desempenho de ambas as equipas.

Mourinho disse, durante a semana, dar prioridade à qualificação para a Liga dos Campeões via Liga Europa (vencendo a competição), remetendo para segundo plano a qualificação por via do quarto lugar da classificação na Premier League. E não poderia ser de outra forma, até porque, com o dérbi a aproximar-se, isso retiraria pressão da equipa. Por falar em retirar pressão, sem Zlatan Ibrahimovic e Paul Pogba, ambos afastados por lesão, o discurso de Mourinho no balneário com certeza que retirou toda e qualquer pressão que existisse nos seus jogadores. Resumindo, tudo indicaria que o United jogasse mais solto, melhor e com menos responsabilidade para vencer o jogo que o City de Guardiola. E por melhor entenda-se, nos respetivos papéis e táticas idealizadas pelos treinadores.

Em jogos pequenos ambos, Ibrahimovic e Pogba, são fundamentais, o primeiro a dar profundidade e eficácia à boca da baliza, e o segundo a dar criatividade e a produzir momentos de bom futebol e inspiração que podem, de um momento para o outro, quebrar uma defesa compacta. Contra equipas grandes, principalmente onde o adversário é o Manchester City e a posse de bola será muito superior para o adversário, ambos não encaixam bem nos planos de Mourinho. Porquê? Porque na batalha da pressão aos defesas adversários, evitando os passes de ruptura, Ibrahimovic é muitas vezes um homem a menos, já que a idade e a constituição física não lhe permitem uma grande intensidade durante a maior parte do encontro. Na batalha de pressão aquando da ruptura das linhas, Pogba não tem o posicionamento tático e poder físico e mental para ‘varrer’ o meio campo. Mas quem deixaria ambos os jogadores de fora de partidas tão importantes como esta? Provavelmente ninguém. Daí Mourinho ter tido alguma ‘sorte’ em não os ter disponíveis.

Com uma tática típica do treinador português, bloco médio pronto a roubar bolas e a sair no contra ataque e com uma defesa do City que tem tido enormes dificuldades, nesta edição da Premier League, em lidar com os ataques rápidos das equipas adversárias, estava montado o cenário ideal para tudo dar certo para a equipa de José Mourinho.

Na primeira parte, com superioridade e domínio por parte do City, o United acabou por fazer o seu jogo e só cedeu verdadeiramente à meia hora da partida. O cansaço levou a que o United recuasse e não conseguisse manter o bloco médio. Consequentemente, a pressão do City foi maior, ainda assim, só um rasgo de génio ou um erro crucial da defessa do United alteraria o resultado. Tal pressão acabou por durar menos de dez minutos e já perto do intervalo o United jogava novamente à semelhança do plano tático inicial. Não só voltou a jogar o seu jogo como tendo mais espaço, agora devido a desgaste do adversário, acabou a primeira parte com uma oportunidade flagrante por parte de Ander Herrera, que tanto fez por merecer um golo, já que foi o melhor em campo nos primeiros quarenta e cinco minutos da partida.

Não só fica a nota para Ander Herrera, como para a rotação entre Eric Bailly, a sair na pressão, e Carrick a recuar para a posição central fazendo as vezes do Costa Marfinense sempre que este acompanhava Aguero para não o deixar receber entre linhas.

Na segunda parte tudo na mesma mas com menos oportunidades para ambos os lados, pelo menos até ao vermelho exibido a Marouane Fellaini. Com os treinadores a mexerem nas equipas apenas ao minuto oitenta, e sem alterarem nada no plano tático, a segunda parte teve menos emoção e nem viu o United ser forte o suficiente para manter o ritmo de contra-ataque da primeira, nem o City alterar a sua postura em relação à primeira parte.

Se a saída de Ibrahimovic e Pogba facilitam o esquema tático de Mourinho para jogar contra equipas tecnicamente mais fortes, no caso do City, jogar com Leroy Sané e Raheem Sterling acrescenta, em jogos como este, muito pouco à equipa de Guardiola, obviamente em ataque organizado. Ao substituir ambos os jogadores por jogadores mais técnicos, mesmo que jogadores tipicamente mais centrais, o City perderia velocidade nas alas mas ganharia vantagem nas combinações e controlo do jogo em toda a largura do campo. Com ocupação das alas por jogadores tecnicamente mais refinados, não tão explosivos, o City poderia criar outras formas de perigo, colocar mais gente na área e com a bola no chão jogar mais o jogo de Guardiola e menos o jogo de cruzamentos para o homem na área.

Seria difícil para ambos os treinadores justificarem tais alterações, mas sendo que Mourinho foi obrigado a fazê-las, acabou, em minha opinião, por levar vantagem inicial, não tendo, ainda assim, a sorte de finalizar nenhuma das poucas oportunidades que criou. Já Guardiola, sendo conservador nesse aspecto do jogo, acabou por não ter apoio suficiente a Kun Aguero e a Kevin De Bruyne, que tanto tentaram durante os noventa minutos.

Depois da expulsão de Fellaini tudo poderia ter acontecido, pelo menos para o lado do City. O United fechou-se completamente e as oportunidades para os Citizens duplicam. Com ambas as equipas a anularem o adversário, será expectável que o City arrecade o terceiro lugar da liga e que o Liverpool e o United lutem, até ao fim, pelo último lugar de acesso à Liga do Campeões.

Esta semana, com toda a emoção no fundo da tabela, chegou a hora da aliança portuguesa. Com Mourinho a enfrentar o adversário directo do Hull City de Marco Silva, ficamos então na expectativa de ver o United bater o Swansea e o Hull levar de vencida a formação do também português Cédric Soares. Ainda que o Hull City não tenha, mais uma vez, obrigação de ganhar pontos nesta jornada, ainda mais, vindo o Southampton de uma derrota a meio da semana frente ao Chelsea.

Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra e tendo passado por clubes como o MK Dons e o Luton Town, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24.