O antigo treinador do Sporting foi ouvido por videoconferência, a partir do Tribunal de Almada (Setúbal), na 17.ª sessão do julgamento da invasão em 15 de maio de 2018 à academia ‘leonina’, em Alcochete, que decorre no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, e que tem 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho.
O técnico explicou que havia um “mal-estar geral” entre o plantel, ele próprio e Bruno de Carvalho, originado pelo ‘post’ publicado na rede social Facebook pelo ex-presidente do clube a criticar os jogadores, após a derrota dos ‘leões’ com o Atlético de Madrid na Liga Europa.
“Havia um mal-estar entre os jogadores, o grupo todo, comigo também, e o presidente. O mal-estar era geral, do grupo todo. Vem na sequência do ‘post’ de Madrid e de mensagens privadas que ele [Bruno de Carvalho] mandava a cinco ou seis jogadores. Numa reunião, o presidente virou-se para o Rui Patrício e disse: ‘fala mais baixo que o presidente aqui sou eu’”, revelou Jorge Jesus.
Miguel Fonseca, advogado de Bruno de Carvalho, voltou a questionar o técnico sobre quais os jogadores que se recusaram a falar com o então presidente do Sporting, que se deslocou à academia de Alcochete após o ataque.
“Todos os jogadores foram para a sala de estar para não se encontrarem com ele. Nenhum queria falar com ele. Houve um telefonema a dizer que o presidente vinha à academia. Alguns jogadores até disseram: ‘nem vale a pena ele vir’. Os jogadores afastaram-se dele, fugiram dele”, referiu Jesus.
O treinador revelou que, após a invasão, disse a Bruno de Carvalho que “não queria trabalhar mais com ele, que queria ir embora”.
Jorge Jesus afirmou também que Bruno de Carvalho o informou de que havia a possibilidade de Rui Patrício e William Carvalho saírem do clube.
“Disse-lhe que para mim era importante eles não saírem”, indicou.
Sobre o ataque à academia, o treinador reconhece que o episódio o marcou.
“Emocionalmente, mexeu comigo. Já passaram dois anos, mas ainda hoje sinto tristeza pelo que aconteceu”, assumiu, admitindo que os jogadores sentiram o episódio de uma forma mais intensa.
“Eles ficaram muito mais traumatizados do que eu. Senti que tiveram muito mais medo do que eu. Estávamos a uma semana da final da Taça de Portugal. Tentei treinar, mas diziam ‘nós não temos capacidade para treinar, não temos capacidade para entrar na academia’. Por isso, só treinamos sete dias depois [da invasão], na véspera da final com o Desportivo das Aves. O único treino que fiz foi na véspera, no Estádio Nacional, no Jamor”, relatou.
Jorge Jesus adiantou que, nessa semana, pediu aos capitães da equipa para treinar, mas a resposta foi: “ninguém tem capacidade psicológica para entrar na academia”.
Questionado sobre como estava a equipa para a final da Taça de Portugal, realizada em 20 de maio, o treinador foi claro.
“Senti uma equipa completamente perdida, descomprometida, sem capacidade emocional para o jogo. Foi um dos grandes erros meus deixar que a final se realizasse naquele momento, pois os jogadores mão tinham condições para jogar”, afirmou o técnico.
O julgamento prossegue na quarta-feira com as inquirições, de manhã, do jogador André Pinto, e, à tarde, vai testemunhar Mário Monteiro, preparador físico, e testemunhas de defesa.
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