Chegado da Alemanha, onde em três anos conquistou três campeonatos e duas Taças da Alemanha, Pep Guardiola aterrou na Premier League pela porta grande. O seu currículo europeu impressionava: três Supertaças Europeias, três Campeonatos do Mundo de Clubes e duas Ligas dos Campeões. Os ingredientes perfeitos para dar ao Manchester City aquilo que os seus adeptos queriam: afirmação europeia.

Guardiola chegou, viu e venceu. Dez vitórias seguidas em jogos divididos pelo campeonato, Taça da Liga (EFL Cup) e Liga dos Campeões, um registo impressionante para um recém-chegado àquele que muitos apelidam de melhor campeonato do mundo.

Mas o sucesso foi sol de pouca dura. Após a série vitoriosa, seguiram-se seis jogos sem vencer (três empates e três derrotas).

Depois de ter chegado a liderar a Premier League, o técnico espanhol está a 10 pontos do Chelsea de Antonio Conte - uma distância acentuada pela pesada derrota por 4-0 frente ao Everton, a mais pesada enquanto treinador -, e arrisca-se, pela primeira vez na sua carreira, a não ser campeão nacional na sua primeira época ao serviço de um novo clube.

A liga inglesa é, sem dúvida, uma outra realidade. Aqui não só jogam os melhores jogadores do mundo, como praticamente todos os clubes têm disponibilidade financeira para contratar qualquer estrela dos campeonatos europeus. Uma realidade muito diferente da que o técnico encontrou em Espanha, ao comando do Barcelona, ou na Alemanha, ao comando dos bávaros do Bayern de Munique.

Aqui, em terras de sua majestade, ele não é o mais rico, a luta pelo campeonato não se faz a dois ou a três e a imprevisibilidade é elevada ao seu mais alto nível, que o digam todos os ‘gigantes’ que o ano passado viram o Leicester sagrar-se campeão.

Em Inglaterra todos podem ganhar a todos e os percalços podem ser muitos. Especialmente desde que os direitos televisivos, valorizados em muitas centenas de milhões de libras, da Premier League foram negociados e divididas por todos os clubes e as receitas. Uma realidade anteriormente reservada apenas aos maiores clubes, que tornou possível aos emblemas, ditos, "mais pequenos" tornarem-se mais competitivos. Mas esse não parece ser o problema de Pep. As derrotas do técnico na Premier não foram contra nenhum clube, dito, pequeno.

O principal problema de Guardiola aparenta ser o plantel e a uma ideia de jogo que parece demorar a implantar-se. Sem uma defesa forte e coesa, o Manchester City sofre mais golos do que o habitual. Esta época, à 21ª jornada já sofreu 26 golos, mais 5 que na época passa pela mesma altura, mais 6 do que há dois anos e mais 3 do que há três anos, época em que os citizens conquistaram o seu último título.

Na baliza, o treinador espanhol dispensou Joe Hart, que seguiu por empréstimo para o Torino, e foi buscar Claudio Bravo ao Barcelona. Pep dizia que queria um jogador que jogasse melhor com os pés, mas o guarda-redes chileno tem comprometido em vários jogos. Mais à frente, na linha defensiva, os problemas são vários. Kompany, capitão de equipa, não está a ter uma temporada fácil, com lesões umas atrás das outras. E com John Stones, uma das contratações mais caras feitas pelo técnico, e Otamendi a estarem longe do pretendido por Guardiola - Kolarov foi, inclusive, várias vezes chamado a atuar no centro da defesa -, o técnico espanhol não tem muito mais a fazer do que reforçar-se com novos jogadores que se enquadrem melhor nas suas ideias de jogos.

No meio-campo, e apesar de os problemas com Yaya Touré parecerem ter ficado em Camp Nou, o espanhol tem tido, mais uma vez azar. Gündogan, por questões, físicas não tem estado tão disponível quanto o treinador catalão pretenderia. Já no ataque, a falta de um substituto de qualidade para Kun Agüero é, provavelmente, o maior problema.

Recentemente, Pep disse que as suas equipas jogavam melhor sempre no seu último ano, independentemente dos títulos conquistados. Ora bem, o espanhol ainda tem mais dois anos de contrato e não se sabe se os adeptos terão paciência para esperar até 2019 para ver a equipa a assimilar os processos do treinador e a jogar para ganhar, quer na Europa, quer em Inglaterra.

Guardiola chegou ao Reino Unido com o peso de um sucesso constante sobre os ombros. O domínio total na Alemanha não apagou o insucesso europeu, mas ajudou a esquecer. Em Inglaterra, Pep esbarrou numa liga extremamente competitiva, tropeçou num plantel pouco adaptado ao seu habitual estilo de jogo e num tipo de futebol muito diferente dos dois outros campeonatos onde tinha atuado.

Será no terceiro clube que o espanhol vai falhar o título de campeão nacional na sua época de estreia? O ditado popular diz que ‘à terceira é que é de vez’, mas será que esta não é a vez de Pep?