O Manchester United de José Mourinho está a crescer — literalmente! — e a tornar-se uma equipa fisicamente assustadora, no bom sentido do termo. Com sucessivas e expressivas vitórias por quatro bolas a zero nas duas primeiras jornadas da Premier League, os Red Devils mostram-nos que a ideia e o conceito de uma equipa mais física está a resultar e poderá dar frutos já esta época. Muitos foram os treinadores que, ao longo dos anos, se queixaram da "fisicalidade" do campeonato inglês e de que o sucesso dificilmente passa pela táctica, mas sim por ganhar vantagem nas disputas das primeira e segunda bola.
Normalmente, numa liga, o segredo não está em levar a melhor sobre os principais adversários, mas principalmente em conseguir levar vantagem sobre todas as outras equipas da liga. Mas isso já José Mourinho fez na época passada. O grande problema do técnico português foram os 20 pontos perdidos (em 30 possíveis) contra os mais directos adversários.
Assim sendo, Mou decidiu construir uma equipa que consiga massacrar, fisicamente, os seus mais diretos opositores. Mais do que nunca veremos um United a explorar contra-ataques, lances de bola parada, bolas diretas para Lukaku segurar, etc. Será muito interessante ver os primeiros jogos ‘grandes’ do Manchester United e perceber que tipo de estratégia José Mourinho irá adotar para levar de vencida os principais adversários.
O que nos remete para outra vantagem do United: o seu primeiro duelo com um adversário direto não acontecerá até à oitava jornada. Com sete jogos jogados e, espera José Mourinho, uma já boa vantagem sobre a concorrência, essa será a altura ideal para testar a ‘força’ dos seus pupilos. A visita a Anfield, para defrontar o Liverpool, na oitava jornada, será um dos momentos mais importantes da época para a equipa do norte de Inglaterra.
Primeira vs. segunda temporada e capacidade de adaptação
Todos conhecemos a capacidade de adaptação de José Mourinho. Sendo um de apenas cinco treinadores a conseguir conquistar o título de campeão em quatro ligas diferentes, Mou consegue tamanha proeza devido à sua capacidade de transformar as equipas de forma rápida e eficaz. Por onde passou, com mais ou menos tempo de adaptação, o português nunca perdeu de vista o objetivo e, mais que isso, sempre soube adaptar-se às circunstâncias onde estava inserido.
Não só este processo não acontece por acaso, como acaba por corresponder a um padrão. Como as mudanças não acontecem de um dia para o outro e como a seleção e compra de jogadores é difícil de fazer numa só janela de transferências, o treinador português leva, normalmente, um ano para colocar as equipas ao seu gosto. E os exemplos estão aí:
FC Porto 2003-04
No FC Porto não se pode dizer que a primeira época não tenha sido de alto nível. Ainda assim, a segunda conseguiu ser ainda melhor. Com a contratação de jogadores fisicamente mais fortes, como foram os casos de Nuno Valente, Paulo Ferreira, Maniche ou Derlei, Mourinho tornou o Porto numa equipa muito agressiva na recuperação da posse de bola e capaz de lutar de igual para igual com equipas europeias dos mais variados campeonatos acabando por vencer a liga dos campeões passado um anos e meio após a sua chegada ao clube.
Chelsea 2005-06
A primeira passagem de Mourinho por Chelsea e Inglaterra é o período de tempo em que menos diferença se nota da primeira para a segunda época na equipa do português. Não por a segunda época ter sido pior que a primeira, que não foi, mas por logo na primeira a "revolução" encetada pelo "Special One" — com a entrada de jogadores como Didier Drogba, Petr Cech, Arjen Robben ou os portugueses Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira — ter dado frutos de imediato. Conquistando a liga inglesa nas duas primeiras temporadas o sucesso de Mourinho foi imediato. A liga não teve estofo para duas épocas de um Chelsea com uma enorme capacidade física, encabeçada por nomes como John Terry, Ballack, Essien, Gallas, Frank Lampard e, claro, Drogba.
Inter de Milão 2009-10
Com as entradas de Lúcio, Thiago Motta, Diego Milito, Wesley Sneijder e Samuel Eto’o, o Inter transforma-se, no segundo ano do técnico português aos comandos dos nerazzurri, numa equipa fisicamente capaz de se adaptar a todos os adversários. Desde "esmagar" os oponentes com pressão alta, a conseguir passar a maior parte dos noventa minutos sob pressão mas mesmo assim levar de vencido o adversário. Conquistando a Liga, Taça de Itália e Liga dos Campeões, o segundo ano do Inter de Mourinho viria a ser conhecido como uma das suas melhores obras no que toca a transformar equipas e adaptá-las à realidade do futebol em que estão inseridas.
Real Madrid 2011-12
No Real Madrid a adaptação foi ligeiramente diferente. Jogadores como Ángel Di María e Mesut Özil vieram dar um perfume diferente a um Real Madrid que rivalizava então com um super-Barça. Ainda assim, Sami Khedira foi uma aquisição que veio dar uma capacidade física ao meio campo do Real que até então não existia. Se a primeira época foi de adaptação para José Mourinho e as suas contratações, na segunda o Real Madrid, já a todo o gás, conseguiu o que muitos achavam impossível e conquistou a liga, batendo o Barcelona de Guardiola, considerada uma das melhores equipas de todos os tempos.
Chelsea 2014-15
Na primeira e segunda temporadas de regresso a Inglaterra, José Mourinho limitou-se a organizar os jogadores que tinha e a contratar peças-chave para o onze inicial, como foram os casos de Nemanja Matić, Juan Mata, Cesc Fàbregas e Diego Costa. Mais uma vez, a capacidade física de jogadores como os já mencionados Matić e Costa, mas também Ivanovic, Cahill ou Azpilicueta, viria a fazer a diferença. José Mourinho reconquista o título em Inglaterra e prova, mais uma vez, que o seu processo de reinvenção das equipas é extremamente eficaz.
O que faz Mourinho de diferente
Poder-se-ia dizer que Mourinho "arruma a casa" como ninguém. Essa é claramente uma das principais características do técnico. Mas não é essa a melhor qualidade do português. Apesar das muitas saídas que o português impõe após a sua chegada a um clube, as entradas e ajustes no plantel são o que acabam por fazer maior diferença de época para época.
Ainda assim, com o passar do tempo, José Mourinho parece comprar menos e melhor.
Muitas das vezes as contratações de jogadores, por um motivo ou por outro, acabam por desiludir, e quanto a isso é difícil fazer algo. Mas o português parece estar a prevenir essa ideia e quase todos, dos poucos jogadores contratados, parecem estar a singrar no onze.
Com Eric Bailly, Victor Lindelöf, Henrikh Mkhitaryan, Paul Pogba, Nemanja Matić, Romelu Lukaku e agora (novamente) Zlatan Ibrahimović, Mou está a transformar o Manchester United numa equipa eficaz e extremamente poderosa fisicamente. Será difícil ter acesso a esta estatística mas deverá ser inédito no futebol moderno, em sete contratações, a média de alturas ser de 1,89m. Não fosse por Mkhitaryan e a média seria mesmo de 1,90m. Com uma variedade grande em termos de capacidade técnica e física e posição a ocupar no terreno, este conjunto de sete contratações vem revolucionar a equipa herdada por Louis van Gaal e mostrar que José Mourinho é capaz de dar um toque especial aos conjuntos que lidera.
Após as queixas de Pep Guardiola e Jürgen Klopp na época passada em relação à natureza física do campeonato, José Mourinho eleva ainda mais a fasquia e promete tornar a vida dos adversários, cada vez que tiverem que o defrontar, num autêntico pesadelo. Ainda não tendo terminado a janela de transferências, o Manchester United parece-me, desde já, o grande vencedor do mercado de verão.
Com o City a visitar o Bournemouth, que tudo fará para conseguir os primeiros pontos nesta temporada, o Liverpool e Arsenal a defrontarem-se, o Chelsea a receber o sempre difícil Everton de Wayne Rooney e o Tottenham à procura dos primeiros pontos em Wembley, após um mau começo, o Manchester United tem tudo para cimentar a sua posição no topo da tabela este fim de semana. Os Red Devils recebem o Leicester City já neste sábado, dia 26, pelas 17:30.
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