Nasceu homem, mas desde tenra idade que Tia Thompson percebeu que algo “não estava bem”. Até porque só andava com raparigas e gostava de coisas femininas. Em casa, devido ao ambiente religioso em que foi criada (fruto da também religiosa educação dos pais), o assunto era tabu. Mas Tia, assim que fez 18 anos, saiu de casa e começou a fazer a transição e a iniciar o tratamento hormonal, disse ao jornal Hawaii News Now.

Apaixonada por voleibol jogou mais de dez anos em competições masculinas. Até ao início deste ano.

Num processo que demorou três anos a ser concluído, Tia enviou os papéis à USAV (entidade que regula o desporto) e ao Comité de Género para poder participar nas competições femininas de voleibol nos Estados Unidos, tendo conseguido obter uma resposta definitiva (e positiva) em janeiro deste ano. 

“Desde o início da terapia hormonal, ao momento em que reuni e apresentei os papéis ao Comité de Género, todo o processo demorou três anos. Mas fui finalmente aceite”, disse a atleta havaiana, que entretanto já completou a transição de género.

As organizações desportivas mundiais estão a atualizar as regras para fazer face a casos semelhantes ao de Tia Thompson. Mas, no Havai, este caso tem dado que falar por se tratar de um desporto com uma forte tradição.

“É um tema sensível porque o vólei é dos principais desportos [no Havai]”, explicou a atleta transgénero ao Hawaii News Now.

Aos 32 anos, Tia Thompson considera que o mundo do vólei tem estado em mudança.

Para aprovar a passagem de género, a Federação de Voleibol dos Estados Unidos requer que as candidatas estejam de forma consistente a realizar o tratamento hormonal, durante pelo menos um ano, e que estas alterem o género nos documentos de identificação como o passaporte ou carta de condução. Anteriormente, algumas organizações, incluíndo a dos Jogos Olímpicos, pediam que os atletas transgénero se submetessem a uma intervenção cirúrgica para mudança de sexo.

Críticas e falta de consenso na comunicade

Este não tem sido um tema consensual dentro da comunidade de voleibol. De acordo com a publicação havaiana, algumas jogadoras e pais não concordam com esta aprovação porque cria um nível “irrealista” de competição.

Apesar das críticas, Thompson participou num popular torneio regido pela Federação de Voleibol dos Estados Unidos, no Havai, durante este mês de março. Foi a primeira vez que participou num evento enquanto mulher e a primeira vez que um atleta transgénero competiu abertamente numa competição desta escala.

Agora, o sonho continua e a jogadora tem nova ambição: fazer parte da equipa olímpica de voleibol nos Jogos de Tóquio em 2020. Mas não se fica por aqui. Através do seu caso, Thompson pretende sensibilizar a comunicade desportivo para casos similares, lutando pela participação de atletas transgénero em modalidades de alta competição.