O dinheiro no futebol, no futebol indústria, está na ordem do dia. Como vê a injeção de capital estrangeiro em SAD’s?
A Associação de Futebol de Lisboa não diferencia capital estrangeiro de capital português desde que esse capital estrangeiro consiga manter a identidade dos clubes, da história dos emblemas que representa.
Há boa e má proveniência de dinheiro. O futebol não é distinto de outros negócios e setores. Preocupa-o esta injeção repentina e de identidade desconhecida, por vezes?
Claro que me preocupa, mas aí está a justiça para funcionar. O que defendo é a entrada de capital estrangeiro lícito. E todas as SAD’s são para mim de capital lícito. A partir do momento que há suspeitas, as entidades próprias devem entrar em campo, como foi o caso no ano passado em que o Ministério Público entrou em ação um pouco por todo o país, visando alguns clubes.
Como vê as divergências entre SAD’s e clubes no seio de associados da AFL. Falo do Belenenses, do Atlético, neste último em que o conflito com o clube impede a SAD e a equipa de futebol de jogar na Tapadinha?
O Atlético merece toda a nossa atenção. É um histórico do futebol português. O futebol profissional está de candeias às avessas com o clube que até joga num estádio que não é a Tapadinha. É um problema que está em cima da mesa.
Temos um bom exemplo que funciona: o Estoril. Há uma articulação estreita entre clube e SAD. A SAD do Torreense tem funcionado muito bem com o clube. O Sintrense também. Há outras SAD’s que têm tido problemas, vamos tentar no seio da AFL, através do diálogo, sentar à mesa....
“Tenho uma excelente relação pessoal e institucional com o Dr. Bruno de Carvalho... Tenho orgulho que Benfica, Sporting e Belenenses e todos os clubes subscreveram a minha candidatura”.
Acha que só lá vai com diálogo?
Julgo que sim... nos últimos anos, os problemas entre os associados que tivemos, em Lisboa, foram resolvidos através do diálogo, tentando chegar a um ponto de equilíbrio. E temos conseguido.
De que forma?
Dou um exemplo: na Taça de Honra da AFL sentámos Benfica e Sporting, embora no ano passado, não se tenha realizado. Mas fizemos nos dois anos anteriores. Foi através do diálogo.
Sente-se um pacificador? A juventude e a profissão que exerce (advogado) ajuda?
Talvez sim, ajude. Até agora temos tido bons resultados através do diálogo sem necessidade de recorrer a outras situações.
“Nos grandes temas do futebol, Benfica e Sporting tem muito mais a ganhar em estarem juntos nas ideias. No campo, rivais, sempre”.
Falou de Benfica e Sporting. Os dois clubes vivem de costas voltadas....
Tenho uma excelente relação pessoal e institucional com o Dr. Bruno de Carvalho. A minha relação vem antes do futebol, dele enquanto presidente do Sporting Clube de Portugal e da minha tomada de posse da AFL. Tenho orgulho que Benfica, Sporting e Belenenses e de todos os clubes que subscreveram a minha candidatura. O Dr. Bruno de Carvalho fez questão de ele próprio assinar a subscrição da minha candidatura. Tenho uma ótima relação com Bruno de Carvalho, Luís Filipe Vieira e todos os clubes de Lisboa. Com Patrick Morais de Carvalho e Rui Pedro Soares, do Belenenses, com João Ribeiro, do Estoril.... enfim, com todos de forma institucional e pessoal.
Mas em relação ao Benfica-Sporting a crispação tem subido de tom. Entre clubes, comentadores televisivos e temos um dérbi à porta...
Não me vou demitir das minhas funções enquanto presidente da AFL, que é conseguir que tenham relações institucionais. Mas tenho que salientar que quando cheguei a AFL ainda não haviam estas guerras. Os clubes não ganhavam e o futebol dá nisso... a crispação é o resultado dos resultados do futebol. Os clubes grandes de Lisboa, os maiores clubes portugueses a disputarem títulos, por isso, é natural que a crispação cresça. É normal. Nos grandes temas do futebol, Benfica e Sporting tem muito mais a ganhar em estarem juntos nas ideias. No campo, rivais, sempre.
Tem dito que o futebol indústria não aguenta mais este clima... não aguenta, mas é um fato que a NOS investiu mais de mil milhões de euros nesses dois clubes. E a MEO investiu outros milhões noutros clubes?
Foi num momento excecional em que aconteceram esses negócios. Socorro-me de um exemplo: no Arouca, houve o problema com o túnel de Alvalade e o patrocinador deixou de estar nas camisolas. Hoje em dia nenhuma empresa quer estar associada a climas de guerra. O objetivo é tentar pacificar o futebol de Lisboa e tentar pacificar o futebol português.
Previsões para o dérbi?
Que seja um bom espetáculo com fair play.
Vai ao jogo?
Devo ir ao jogo sim, tenho eleições na 6ª feira e gostaria de ir. Que se respeitem todos porque frente a frente estão as maiores equipas de Portugal.
“Lideramos nos clubes, nas vitórias e nas ideias. Deixámos de andar atrás de outras associações para ter ideias próprias”.
É candidato único a este ato eleitoral. O que se propõe fazer?
É a consolidação de um projeto. Fiz um balanço positivo, ouvi os clubes de Lisboa, ouvi os meus parceiros e todos eles sentiram a necessidade de haver um mandato de consolidação. E é agora o que proponho.
São a maior Associação do país. O que é que isso acarreta?
Antes do início do meu mandato, estávamos atrás, em segundo lugar do ranking associativo, em risco de ser ultrapassados, mas hoje em dia somos a maior associação de futebol do país. Hoje a AFL lidera em Portugal. Temos o maior número de jogadores inscritos. E os nossos clubes começaram a ganhar as provas nacionais em masculino e feminino, no futebol, futsal e futebol praia.
Com o título de maior associação queremos que todos os anos os nossos clubes inscrevam mais jogadores, participem em mais provas, queremos trazer os clubes que desistiram de competir, queremos e tudo faremos para que regressem. Isentamos os clubes de taxas de inscrição, por exemplo, damos benefícios, nos campeonatos seniores baixamos 30% custos de inscrição ...
“A Televisão da AFL servirá para consolidar a nossa imagem de marca: a proximidade com os clubes. Queremos dar visibilidade aos clubes. E depois pode ser uma fonte de receita para estes”.
O que diferencia a AFL de outras?
Lideramos nos clubes, nas vitórias e nas ideias. Deixámos de andar atrás de outras associações para ter ideias próprias. Não significa que não agarremos boas ideias e de projetos que merecem.
Somos a única associação regional da Europa que temos um campeonato de futebol de praia – campeonato distrital. No futebol feminino, há 4 anos tínhamos um escalão: os seniores. Hoje temos sub-18, sub-17... é uma aposta da Federação e da associação. Queremos uma liga de Veteranos.
Quer também ter um canal de televisão. Em que moldes?
A Televisão da AFL servirá para consolidar a nossa imagem de marca: a proximidade com os clubes. Queremos dar visibilidade aos clubes. E depois pode ser uma fonte de receita para estes. No espaço de um ano vamos apresentar o projeto estrutural. Em cima da mesa: ou fazer como todos os outros canais de clube e começar na internet e ir para a TV ou começar logo na negociação com os operadores. Temos mais de 500 jogos por semana em Lisboa. Há muitos dérbis na formação. Aliás, nos últimos anos fui contactado por operadores para negociar essas provas. Julgo que AFL e clubes ganharão mais em serem eles próprios os promotores....
Mas esses jogos dos escalões de formação também são transmitidos pelos clubes que têm TV e canais próprios? Falo dos “grandes” de Lisboa...
Sim, mas a partir desse momento seriam visionados no canal da AFL que os transmitiria. Somos o promotor. Essa promessa de um canal TV e uma nova sede assentam numa promessa. Não haverá custos para os clubes que não têm esse peso na edificação desses dois projetos.
E a arbitragem?
Na avaliação que fiz ao primeiro mandato detetei que não correu tão bem. Por isso, apresentei um novo Conselho de Arbitragem, com novos elementos, todos com jovens ex-árbitros. Quero fazer uma refleção profunda. Qual o problema da arbitragem? O recrutamento de novos valores. Temos poucos candidatos para as necessidades que temos. O objetivo passa por tentar chamar mais gente para a arbitragem. Vamos fazer parcerias com o Desporto Escolar e vamos tentar perceber o porquê deste afastamento e fazer um recrutamento por todos os concelhos de Lisboa. E depois queremos alterar regulamentos e aprofundar melhor este setor.
Como se vende o futebol de Lisboa?
Vende-se com a participação nas nossas provas. Temos muito boas assistências nos jogos nos Distritais. Como é que o fizemos? Reorganizamos as provas e tentamos deslocalizar as provas, aproximamos os clubes, promovendo mais dérbis e mais rivalidades, logo mais público.
Temos feito um trabalho muito bom nas seleções distritais. E hoje a seleção distrital de seniores – seleção de futebol amador – ganhou o Nacional e está hoje a disputar a prova europeia organizada pela UEFA. Está na fase final da liga dos campeões de futebol amador. Em todos os países há interassociações. As 32 melhores disputam até chegar a fase final com 8 equipas.
Qual o peso de hoje das associações hoje em dia?
Perderam efetivamente o peso que tinham no colégio eleitoral da federação. Hoje está pulverizado por árbitros, treinadores... agora se as associações estiverem todas juntas será difícil parar este poder porque elegem muitos votos direta e indiretamente...
Para trás já está a crispação que manteve com AF do Porto?
Um facto que muito me orgulha é que as associações futebol de todo o país me tenham escolhido para liderar a mesa do plenário de todas as associações distritais.
O caso que tive com o FC Porto e com o administrador Adelino Caldeira está na justiça, vamos aguardar… é um momento triste para o futebol português.
Longe vão os tempos de guerras de associações, entre Lisboa, Porto...
Sinais dos tempos. De novos dirigentes.
Fazem falta novos dirigentes?
Fazem falta novos e antigos dirigentes. Todos são importantes. Agora é verdade que em todos os setores surgiu uma nova classe de dirigentes que trouxe uma lufada de ar fresco ao futebol que era necessário.
“O meu futuro imediato é na Associação. É aquilo que eu gosto é de defender os clubes de Lisboa e, portanto, é isso que me proponho fazer”.
O que difere a nova geração da anterior?
Há uma visão diferente. Não e só o desporto favorito, é uma indústria, um negócio. Há uma visão mais empresarial.
Mas a anterior geração não via assim o futebol?
Os tempos eram outros, não havia estas transmissões televisivas ...hoje olhamos de forma diferente.
Até onde quer chegar. Vai iniciar um segundo mandato. Luís Duque e Fernando Seara, que passaram por esta casa, acabaram por estar ligados a clubes de futebol, aos “grandes” e a assumir outros cargos de liderança no futebol.
Não sei, o futuro a Deus pertence como alguém em tempos disse e que cito. Sei que entrei cedo para o dirigismo. Fui presidente do Conselho de Disciplina da AFL com 29 anos. E 2012 assumi o lugar da direção da Associação de Futebol de Lisboa (AFL). O meu futuro imediato é na Associação. É aquilo que eu gosto é de defender os clubes de Lisboa e, portanto, é isso que me proponho fazer.
Seleção nacional: somos favoritos no Mundial?
Depois de campeões europeus, [algo] em que só o treinador acreditava, agora tudo é possível. Não é a geração de ouro porque isso era a outra, mas é fantástica.
Muitos deles nasceram em Lisboa?
Muitos passaram pelas seleções jovens da AFL. Aliás o Ronaldo foi capitão da nossa seleção. É motivo de orgulho.
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