O Natal, com o seu espírito de comunhão, os presentes e a família toda reunida? O Ano Novo, com a festa, o champanhe e a esperança no futuro renovada? O Verão, com o calor, a praia e as férias? Não, nada disso. A melhor altura do ano é o par de meses entre meados de Abril e meados de Junho. As oito épicas semanas entre este sábado, dia 15 de Abril, e (se as Finais forem a sete jogos - façam figas) o dia 18 de Junho. Os dois meses de Playoffs da NBA.

Depois de 6 meses e 1230 jogos de temporada regular, depois de 82 jogos disputados por cada equipa nessa primeira fase da temporada, as 16 melhores (ou, para ser mais exato, as oito melhores da Conferência Oeste e as oito melhores da Conferência Este) avançam para esta segunda fase da época. Onde se ganha ou se vai para casa. Onde as equipas vão caindo até restar apenas uma.

As 16 que este ano vão lutar por ser a última de pé e aquela que levanta o troféu Larry O’Brien estão encontradas. E estes são os duelos com que se vai iniciar a luta:

Agora é a doer. E todos os anos, nestas oito mágicas semanas, somos relembrados porque gostamos tanto de basquetebol e da NBA. São oito semanas de jogos emocionantes, resultados incertos, exibições individuais extraordinárias e soluções táticas engenhosas. É quando os jogos são mesmo a sério, quando os treinadores e jogadores tiram todas as cartas da manga e utilizam todos os recursos à sua disposição. É quando o basquetebol da NBA atinge o seu expoente máximo.

Não é que a temporada regular não tenha estes ingredientes, mas nos Playoffs tudo é elevado a um outro nível. A temporada regular tem emoção, resultados e jogos imprevisíveis, jogadas espetaculares e sistemas defensivos e ofensivos excitantes, mas joga-se contra uma equipa diferente todos os dias, mal se tem tempo para treinar e a preparação para cada adversário (e a preocupação com cada um) é limitada. Joga-se contra uma equipa e parte-se para o jogo seguinte. Não há nem tempo nem condições para ajustamentos e as equipas costumam manter-se fiéis ao seu sistema.

Apesar dos “scouting reports” e da preparação que cada equipa faz para cada jogo, é comum manterem-se dentro do seu sistema e não sairem dele para vencer um jogo isolado. Nessa fase regular, cada equipa está focada em si, em praticar as suas jogadas, em dominar as suas movimentações e criar rotinas individuais e colectivas. São 82 jogos para praticar e consolidar o seu sistema. 82 jogos para preparar o que vem a seguir.

As soluções táticas são mais genéricas. O foco é "o que nós temos de fazer" e não "o que temos de fazer para ganhar à equipa x". Para além disso, os treinadores não querem revelar todas as suas armas nesta primeira fase e, principalmente na defesa, optam por soluções standard.

Nos Playoffs, por outro lado, há um estudo do adversário e um planeamento em função deste que não ocorre nos 82 jogos da fase regular. A temporada regular é standard. Os Playoffs são personalizados. A temporada regular é um jogo de damas, os Playoffs são um jogo de xadrez.

O facto de termos uma série (à melhor de sete) com várias partidas entre as mesmas equipas eleva o nível do jogo a um patamar inédito no resto do ano. Porque as equipas se enfrentam vezes consecutivas (e também porque nesta fase da temporada estão as melhores equipas) as defesas familiarizam-se com as jogadas ofensivas, ajustam-se e melhoram. Por isso, os ataques são obrigados a procurar outras soluções e o ritmo de jogo baixa (esta é uma das grandes razões para o ritmo de jogo mais baixo nos Playoffs. Não é por nenhuma diferença de filosofia nesta fase, é porque as defesas são melhores e estão mais preparadas para parar as movimentações do adversário. E, ao conseguir negar-lhes a primeira, segunda ou terceira opções das jogadas, tornam os ataques mais longos. Logo, cada jogo tem menos posses de bola).

Porque não há jogos em dias consecutivos (há, no mínimo, um dia de descanso entre jogos e às vezes, quando a série muda de cidade ou quando uma equipa vence a sua série e tem de esperar pelo vencedor de outra série, têm mais dias de descanso) e porque a parada é mais alta, as rotações também apertam e as equipas jogam com os seus melhores jogadores durante mais tempo. Não há poupanças e é altura de por a carne toda no assador.

Nestes dois meses, vemos uma riqueza tática que não vemos na temporada regular. É isso que os Playoffs fazem à NBA (e ao basquetebol): elevam o nível de jogo, obrigam a soluções criativas e inovadoras. Obrigam as equipas a tentar soluções diferentes. Fazem o jogo evoluir. E, para além da emoção, da intensidade, da incerteza e daquilo que está em jogo, é essa dimensão estratégica que torna este o momento mais alto da melhor liga do mundo.

Se na NBA temos o melhor basquetebol do mundo, nos Playoffs temos o melhor basquetebol da NBA. Os Playoffs são o melhor do melhor basquetebol E mal podemos esperar que comecem.

Márcio Martins já foi jogador, oficial de mesa, treinador e dirigente. Atualmente, é comentador e autor do blogue SeteVinteCinco. Não sabe o que irá fazer a seguir, mas sabe que será fã de basquetebol para sempre.