O jogo tinha como atrativos ver como reagiria o Liverpool à perda de Philippe Coutinho e, claro, saber se seria desta que o Manchester City não pontuava num jogo desta edição da liga. Além disso há já oitenta anos que o Liverpool não se deixava bater pelo Manchester City nos dois encontros (casa e fora) durante a mesma edição do campeonato. Depois do imensamente desnivelado 5-0 da primeira volta, a probabilidade de os Citizens levarem de vencida o Liverpool era grande. A juntar a tudo isto, na primeira volta de campeonato o City tinha ganho a todos adversários ‘directos’, os restantes cinco dos chamados ‘top 6’ clubes ingleses.
Como o Liverpool derrotou o Manchester City
Já aqui tive oportunidade de dizer qual o segredo para derrotar o Manchester City. São três as hipóteses: ou não se deixa o City ter a bola (o que é mais fácil dizer do que fazer), ou o City pura e simplesmente está num mau dia e, de uma forma ou de outra, o jogo corre mal ou, por fim, tendo uma intensidade tal que se consegue impôr um ritmo de jogo incompatível com a estratégia e sistema de jogo dos azuis de Manchester.
No domingo, o Liverpool conseguiu a vitória por intermédio da terceira. Fazendo um jogo a uma intensidade tal, que não me lembro de ver nenhuma outra equipa na Premier League conseguir, os Reds conseguiram, dessa forma, levar a melhor sobre o City na maior parte do tempo de jogo. A infelicidade de uns é, obviamente, a felicidade de outros, e também com alguma sorte o Liverpool foi mesmo a melhor equipa e conseguiu quebrar a invencibilidade de Guardiola e seus pupilos (deixando, assim, Arsène Wenger mais aliviado, ao saber que o seu recorde de 2003-04 não será batido e que continuará a ser o único treinador da história a ter conseguido um título sem qualquer derrota).
O que parecia uma equipa, à partida, audaciosa era, na verdade, uma equipa pronta para correr. É à posteriori fácil perceber que a semana de preparação para o jogo terá sido, por parte de Klopp, muito tática e que o discurso pré-jogo e ao intervalo terão sido de enorme paixão e entusiasmo, de forma a conseguir que a sua equipa conseguisse produzir aqueles níveis de energia durante tanto tempo.
Assim sendo Klopp optou por não ser conservador e colocar apenas dois médios de contenção, Emre Can e Georginio Wijnaldum, três médios de características muito ofensivas, Sadio Mané, Mohamed Salah e Oxlade-Chamberlain, e, na frente, Roberto Firmino. Com este esquema as coisas poderiam ter corrido pelo melhor ou pelo pior. O desgaste a que estes cinco jogadores foram sujeitos foram a causa e o efeito do desfecho da partida. O City raramente teve o controlo do jogo e Klopp utilizou a tática de pressão de Guardiola, sempre com 2 jogadores no mínimo a pressionar o portador da bola. Outro tipo de atletas, ou outro dia em que estes não conseguissem produzir estes níveis de intensidade, e o City teria, com alguma facilidade, levado mais uma vez os Reds de vencida. Não quero com isto tirar qualquer mérito à estratégia de Klopp e exibição dos seus jogadores, muito pelo contrário. Este City é extremamente forte e, por isso mesmo, seriam precisas ideias audazes e ‘soldados’ prontos para as colocar em prática.
A intensidade a que me refiro e a sua duração não foi, apenas e só, devido ao facto do Liverpool conseguir atacar sempre em velocidade. Foi conseguir roubar a bola ao City com uma pressão altíssima, o que desgasta imenso os jogadores mais ofensivos, foi o atacar em grande velocidade sempre que recuperava a bola, o que, mais uma vez, desgasta mais os mesmos jogadores ofensivos e foi, sempre que o City teve o controlo do jogo e da bola, ter que continuar a correr para fechar espaços e evitar que estes jogassem a seu belo prazer - o que, por si só, desgasta todos os jogadores em campo já que a equipa, principalmente nessa situação defensiva, funciona como um todo.
(De realçar que a equipa deve funcionar sempre como um todo, mesmo em situações de pressão alta. Caso contrário, haveria muito espaço entre linhas e a pressão teria menos probabilidades de ser eficaz. Ainda assim, os jogadores defensivos têm um desgaste menor nessas situações em comparação com os jogadores de meio campo para a frente, que em todas as situações mencionadas acima, trabalham a níveis elevadíssimos).
Foi um jogo de alto nível que correspondeu não só à expetativa criada como veio fazer uma de duas coisas (que deixo à consideração do leitor): ou dar uma alegria adicional à Premier League, ou retirar a pouca emoção que esta ainda tinha por assistirmos aos jogos do City tendo sempre em mente o recorde dos ‘Invencíveis’.
O que falhou no Manchester City
A resposta poderia ser fácil e direta: nada, jogou apenas contra uma equipa que foi muito superior nesse dia. Não deixando de ser verdade que o Liverpool foi muito superior, o Manchester City também jogou muito bem e conseguiu expor as fragilidades defensivas (já muito mencionadas) dos Reds e por pouco não poderia ter conseguido outro resultado. Ainda assim, podem ser apontadas algumas falhas aos azuis.
Na origem do resultado negativo do City estão, com toda a certeza, a inexistente consistência de passe a que nos tem habituado e a fraca prestação de alguns dos elementos da equipa, com Raheem Sterling à cabeça. Há bem pouco tempo escrevi que no mercado de inverno Guardiola poderia beneficiar de duas peças no seu plantel, principalmente se quer atacar os jogos grandes da Liga dos Campeões. E, de acordo com essa opinião, num jogo grande, de alta pressão e em que os jogadores têm, mais que nunca, de se evidenciar, Sterling não foi capaz de o fazer, acabando por ser substituído sem ter dado muito à equipa. Visto este jogo e esta exibição terem sido ainda dentro do mercado de transferências de inverno, quem sabe o que nos espera nos próximos dias de janeiro no que toca a reforços para o Manchester City.
À atenção de Carlos Carvalhal e Sérgio Conceição
Façamos, agora, um exercício de imaginação. O que acontecerá este fim de semana com a intensidade e estratégia de jogo do Liverpool? Tendo conseguido dominar o jogo de tal forma que raras foram as vezes que a sua defesa - que é a principal causa da sua vulnerabilidade como equipa -, Klopp poderá agora utilizar a mesma estratégia em jogos decisivos como os da Liga dos Campeões, já que estes são a eliminar. Analisando o próximo jogo do Liverpool, frente ao Swansea de Carlos Carvalhal (nesta segunda-feira, dia 22 de janeiro), poderemos ver até que ponto a equipa perderá intensidade e que estratégia adotará se isso acontecer.
Estando ciente dessa situação, Sergio Conceição e o FC Porto poderão, na altura, prestar muita atenção às poupanças e à intensidade de jogo que a equipa do alemão colocará em campo. Porque o mais provável será o Liverpool enfrentar os portistas da mesma forma que encarou o City. Não porque a equipa portuguesa tem uma estratégia de jogo parecida com os Citizens, mas porque o Liverpool percebeu que, ‘se quiser’, pode dominar o jogo de tal forma que evita expor as suas fraquezas com tanta regularidade, aumentando (e de que maneira!) as probabilidades de levar de vencida a equipa adversária, seja ela qual for.
Esta é, claramente, uma tática ‘suicida’ a longo prazo. Não teria grandes efeitos, já que nenhum plantel, por muito rico que fosse em todas os setores do campo (que no caso dos Reds não o é, de resto), não conseguiria manter estes níveis de intensidade. Ainda assim, chegado o ‘início do fim’ da época e não estando o Liverpool na corrida pelo campeonato, parece-me que Klopp e companhia colocarão todas as ‘fichas’ na Europa e poderão mesmo fazer tremer os grandes europeus, caso a equipa consiga, de tempos a tempos, produzir este tipo de jogo e intensidade física.
Esta semana na Premier League
Já mencionado acima, será importante perceber a reação, não só do Liverpool, como do Manchester City. O primeiro joga contra um Swansea motivado com a entrada de Carlos Carvalhal (que terá que mostrar que todos os jogos valem três pontos), ao passo que o segundo terá que provar que o resultado da semana passada foi por puro mérito do adversário e que, com confiança no mesmo sistema de jogo, volta às vitórias, neste caso contra o Newcastle.
Comentários