Muitas das vezes, olhando aos valores pagos por certos clubes para adquirirem certos jogadores, o leitor deve interrogar-se como são possíveis tais loucuras. Pois bem, existem muitas formas de rendimento na Premier League: publicidade (nas mais variadas formas), bilheteira, venda de produtos de merchandising (sendo que as camisolas são o que mais dinheiro rendem aos cofres dos clubes) mas, principalmente, e colocando uma sombra sobre todas as outras formas de lucro, os direitos televisivos.
Sem necessitarmos de falar sobre a importância, para os clubes, de pertencer aos quadros da Premier League, cabe-nos hoje, perceber o porquê de haver tantos investidores na liga inglesa e como isso afeta o tema da semana passada, onde me debrucei sobre as razões por detrás do recente despedimento de Frank de Boer do Crystal Palace.
Quando referi, há uma semana, que Frank de Boer foi “a primeira vítima de uma época que promete ser atribulada”, foi porque se esperam mais despedimentos. Os próximos dois anos serão, para os proprietários, de constante tensão e sempre com os nervos à flor da pele. Vejamos porquê.
Um ponto de viragem no futebol inglês
No passado dia 12 de Setembro ficou-se a saber que a cadeia de televisão Sky e a English Football League (EFL) chegaram a um acordo, pela módica quantia de 600 milhões de libras, para o direito das transmissões televisivas dos jogos de todas as ligas da EFL — Championship, League One e League Two — com a duração de cinco anos, a decorrer entre 2019 e 2024. O acordo envolve a transmissão de um máximo de 150 jogos por época, incluindo 16 jogos a meio da semana e um mínimo de 20 jogos da League One e League Two, terceiro e quarto escalões do futebol inglês, respetivamente. Outra curiosidade no contrato será a autorização dada aos clubes para a transmissão dos jogos, pela primeira vez, nos seus respetivos sites. Com todas estas novidades não podemos, ainda assim, descurar o ponto de viragem neste contrato: o seu valor.
Tendo o presente contrato entre a Sky e a EFL, com término no final da época 2018-19, um valor a rondar os 88,3 milhões de libras/época, os números mudam radicalmente para 120 milhões de libras/época, o que perfaz um aumento na ordem dos 36%. Números astronómicos mas que, ainda assim, não impressionam todo mundo. Muitos clubes que participam na Championship já demonstraram o seu desagrado pelo valor, afirmando que o preço de mercado da liga a é imensamente superior.
Não falando do preço de mercado da Championship, mas fazendo uma análise aos preços praticados em 1997, a EFL vai receber 28% menos por ano, do que o valor auferido pela Premier League há precisamente 20 anos. Ignorando essa disputa interna pela qualidade da liga e respectivo valor de mercado, esta quantia leva-nos a pensar no que a Premier League poderá cobrar brevemente no seu novo contrato de direitos televisivos. Aberto o precedente, resta-nos esperar e especular quanto à percentagem de inflação a cobrar pela Premier League em cima do valor do contrato corrente, de 5.14 biliões de libras.
O contrato com a Premier League foi estabelecido pela Sky em conjunto com a BT e termina, igualmente, no final da época 2018-19. Responsáveis da Sky já se pronunciaram quanto ao assunto e esperam ter que pagar um valor 40 a 45% superior ao do presente contrato, aproximadamente 600 milhões de libras mais por época, perfazendo um total de 1,6 biliões/época ou 8,14 biliões pela total duração do contrato caso seja, igualmente, de 5 temporadas. Uma última nota para o facto de o último contrato entre ambas as partes já ter significado um aumento de 71%, batendo todos os recordes possíveis e imaginários, e levando também às constantes loucuras nos mercados de transferências, feitas pelos clubes ingleses nas últimas temporadas.
Uma nova forma de ver futebol
O valor apresentado acima (8,14 biliões) poderá mesmo ser o mínimo a pagar, uma vez que há a possibilidade de ser imensamente superior. Isto porque há especulação relativamente ao facto de empresas como a Amazon, a Google, a Apple, o Facebook ou a Netflix estarem interessadas em ter parte dos direitos da Premier League. Há anos que a Sky domina o meio de transmissão do futebol em Inglaterra, mas isso poderá vir a mudar muito em breve.
De lembrar que a Amazon, desde a criação do serviço de streaming Amazon Prime está em luta renhida não só pela disputa do primeiro lugar no que toca a transmissões online com a Netflix, mas também com a Apple e a Google para ver qual delas se torna a primeira empresa a ser avaliada em um trilião de dólares.
Depois de a Amazon ter ‘roubado’ os direitos de transmissão de ténis em Inglaterra à Sky, oferecendo à Tennis ATP World Tour 50 milhões de libras, e depois de ter comprado no mês passado a Whole Foods — companhia de super mercados americana — por 13,7 biliões de dólares, espera-se uma disputa sem precedentes na luta pelos direitos de transmissão da Premier League.
À semelhança do que acontece na NFL (Liga de Futebol Americano dos EUA), estará para breve a transmissão de jogos de futebol em plataformas online. Prevendo o futuro, um dos benefícios para o espectador poderá ser a interação com estatísticas, cameras e toda a informação relacionada com o jogo de uma forma completamente diferente à que conhecemos hoje em dia.
A pressão do lado dos treinadores
Por último, o facto de tudo o que foi dito anteriormente liga-nos diretamente ao artigo da semana passada. A pressão a que os treinadores, clubes e respetivos donos estão sujeitos é enorme. Iniciar a época de 2019-20 na Premier League significa estar dentro da bolha de acesso aos valores pagos pelas transmissões televisivas.
Se tivermos como exemplo o Newcastle, que falhou presença na Premier League no início do último acordo para direitos televisivos, as dificuldades encontradas nos últimos anos são evidentes. Muitos apontam tal dificuldade ao falhanço em permanecer na Premier League no ano em que o acordo se iniciou. Mas seja o Newcastle, seja qualquer outro clube, a importância de ficar na Premier League e por lá permanecer é fundamental visto os acordos para os direitos de transmissões televisivas serem a maior fonte de riqueza dos clubes, salvo raras excepções.
Se, tal como eu, acha que a culpa não está sempre do lado dos treinadores e que lhes deveria ser dado mais tempo, terá mudado de opinião relativamente às decisões dos proprietários em despedirem treinadores com tanta regularidade? Ou mantém a mesma posição desde o início do texto? Quem será a próxima vítima da pressão para a permanência na Premier League?
Esta semana, na Premier League
Depois de falar do incrível meio-campo do Southampton, chega a hora do primeiro grande teste. Serão Mario Lemina, Oriol Romeu, Dušan Tadić, Steven Davis e companhia capazes de fazer frente a um Manchester United com dezasseis golos marcados e apenas um sofrido?
Ainda assim, esse poderá não ser o jogo mais excitante do fim de semana. Everton e Bournemouth têm quatros jogos disputados entre eles na Premier League, e nesses quatro jogos vimos 19 golos. Estão reunidas todas as condições para ser um festival de golos, ainda que ambas as equipas tenham tido um início desastroso de campeonato e estejam na zona de despromoção no arranque da sexta jornada.
Pedro Carreira é um jovem treinador de futebol que escolheu a terra de sua majestade, Sir. Bobby Robson, para desenvolver as suas qualidades como treinador. Tendo feito toda a sua formação em Inglaterra, passou por clubes como o MK Dons e o Luton Town, e também pela Federação Inglesa, o seu sonho é um dia poder vir a treinar na melhor liga do mundo, a Premier League. Até lá, pode sempre acompanhar as suas crónicas, todas as sextas, aqui, no SAPO 24. E não se esqueça que poderá sempre juntar-se à nossa liga SAPO 24 na Fantasy Premier League. O código de acesso é o 3046190-707247.
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