14 de fevereiro. Esta é uma data sobejamente conhecida, e celebrada, um pouco por todo o lado, como Dia de São Valentim (Dia dos Namorados).

Reza uma lenda (ou história para quem acredita em carochinhas) que esta tradição tem o seu berço em Roma, no século III, numa era em que o Imperador Cláudio II (ou Aureliano, conforme as teses), desejando criar um exército forte e querendo os jovens concentrados na guerra e na vida militar decidiu proibir, temporariamente, a celebração de casamentos.

A ordem não foi, no entanto, acatada por um bispo de nome Valentim que continuou a unir homens e mulheres, na clandestinidade. Um desvio que lhe valeu a pena de morte.

A putativa oferta de flores e cartas, que recebeu enquanto aguardava a sentença, ajuda a justificar a tradição de troca de flores e presentes neste dia, embora a Igreja Católica não só não reconheça oficialmente esta versão, como retirou, em 1969, São Valentim do calendário dos Santos (celebra no dia 14 de fevereiro o dia de São Cirilo e São Metódio). E para baralhar há registo de mais outros dois Valentins. Que também foram santos.

Mas este dia é, curiosamente, também, marcado por outras duas efemérides menos conhecidos do público. Falamos do dia da Disfunção Sexual (Dia Europeu da Disfunção Erétil) e o Dia Nacional da Doença Coronária.

Calhou o calendário desportivo da UEFA, época 2018-2019, determinar que ao 14º dia do segundo mês do ano da graça de 2019 (de acordo com o Calendário Gregoriano) nesta noite se disputasse 16 avos da Liga Europa.

Diversos temas – casamentos, saúde e futebol – evocados numa só data que têm, todos eles, no entanto, um denominador comum: o amor, a paixão e o coração.

Um golo precoce

Diz um ditado que “de Espanha nem bom vento, nem bom casamento”. Esta era uma noite para atestar da veracidade do mesmo.

Em 26 encontros disputados com seis equipas espanholas os leões somam somente sete vitórias, seis delas em casa, 14 derrotas e cinco empates. É necessário recuar a meados dos anos 80 para se encontrar o feito de eliminarem uma equipa – o Atlético Bilbao (única equipa que conseguiram bater por duas vezes).

Já o Villarreal, apresentava-se com um coração dividido. Embora tenha afastado o Benfica na Liga dos Campeões (2005), foi eliminado pelo Porto, em 2011, na meia-final da Liga Europa.

Sporting e Villarreal, dois dos clubes com mais presenças na fase a eliminar da Liga Europa (17 vezes, um número que partilham com os holandeses do Ajax), tiveram esta noite o seu primeiro encontro.

A partida começou de feição para o Submarino Amarelo. Os espanhóis, que viajaram da comunidade autónoma de Valência, não entraram de rosa na mão em casa alheia. Antes dos três minutos, uma jogada pelo lado direito conduzida por Chukwueze, extremo nigeriano, resultou no disparo de Pedraza para o fundo das redes de Salin.

0-1, um golo precoce com a equipa que veste toda de amarelo a assumir-se como aquele emplasto que está pronto a estragar a noite a quem morre de amores pelos verdes e brancos.

Aos 14 minutos e os leões já somavam dois amarelos (Acuña e Miguel Luís, curiosamente, ambos ligados ao primeiro golo forasteiro).

Ristovski entrou para o lugar do lesionado Bruno Gaspar, Coates levantava os braços, não sabendo a quem passar a bola, o público assobiava e desesperava, Bruno Fernandes, depois de uma correria, recupera uma bola e o amor com o menino bonito de Alvalade acontece. Aplausos das bancadas para o Bruno dos golos e dos livres.

Miguel Luis
créditos: MIGUEL A. LOPES / LUSA

O jogo leonino não fluía. Kaiser, a pensar na gestão do grupo para os desafios que se avizinham, meteu a titular dois jogadores que tinham estado preteridos, Miguel Luís e Jovane Cabral. E foi dos pés do jovem extremo que saiu o primeiro remate à baliza de Andrês Fernandez.

A primeira parte não acabou sem mais um amarelo para os leões. O descanso anunciou um misto de assobios e de palmas, demonstrando que nas bancadas o coração estava um pouco dividido quanto à demonstração de sentimentos.

No regresso dos balneários, jogadores e o público anfitrião continuavam... murchos. O Villarreal continuava a explorar o enorme buraco na zona central leonina, saindo em triangulações e passes certeiros e calculados, gerindo e pausando o jogo.

O onze do Sporting continuava sem grandes ideias e com um futebol híbrido (claramente diferente dos primeiros tempos de Kaiser, que soma somente três vitórias nos últimos 11 jogos). Coates, central, pegou na bola a meio campo, fez uma troca de pés, bola do pé direito para o esquerdo, de regresso ao pé que está mais à mão e profere um remate que aqueceu momentaneamente o ambiente em Alvalade.

Na resposta Pedraza, o marcador do golo, sentou literalmente Miguel Luís, pondo em sentido o último reduto leonino.

Os espanhóis optaram nos segundos 45 minutos por um ataque mais inclinado para o lado esquerdo, por onde andava Pedraza e Carlos Bacca, terreno oposto ao pisado pela jovem estrela nigeriana de 19 anos, Samuel Chukwueze.

O momento da noite teve todos os condimentos do bom futebol, menos um: faltou o golo. Foi desenhado em três atos. Primeiro, um bailado de Raphinha na esquerda, que parte os rins a um adversário e mete a bola rasteira na área; segundo, Bas Dost, num remate de primeira; e, finalmente, o terceiro momento, a defesa da noite. Faltou o tal clímax, o tal orgasmo do futebol, o golo.

 As redes não abanaram e, à falta de melhor, celebrou-se o amarelo dado pelo árbitro francês Clément Turpis ao guarda-redes espanhol.

Quase tanto entusiasmo foi escutado com o som saído da junção das mãos com a dupla substituição operadas pelo treinador holandês que retirou Petrovic (em especial com a saída do médio) e Cabral, para a entrada de Wendel e Luiz Phellype. Javier Calleja responde às mexidas leoninas e deu descanso a Chukwueze.

Raphinha atira ao poste e pouco tempo depois, numa fase do jogo em que os leões aparentemente cresciam, Acuña, de regresso a defesa esquerdo, volta a expulsar-se de campo. Falta dura, segundo amarelo, um gesto que mereceu assobios da bancada. Assobios que se estenderam ao anúncio dos 27 mil espetadores na noite dos namorados.

Quando se esperava que o Villareal criasse perigo pelo lado onde já não estava o internacional argentino, a bola percorreu de uma ponta à outra até chegar ao pé de Pedraza. E só não deu golo porque Salin evitou um mal maior.

Com cinco minutos de descontos os leões desesperavam metendo a bola na área.

Apito final, fim de noite desportiva sem direito a beijos, nem abraços. Escutou-se antes um coro de assobios. E em vez de rosas, lenços brancos.

A noite que era alusiva ao Dia dos Namorados e a outras duas efemérides alusivas à paixão e ao coração, resultou, assim, com sentimentos de traição.

 O segundo encontro está marcado para Espanha daqui a uma semana. O Sporting registou um dado. O Villareal, que não vive momentos áureos na Liga espanhola, explicou em Lisboa porque nesta prova a história pode ser outra. A equipa detém o recorde de jogos na Liga Europa nesta fase (68), é a que mais golos marcou (116) e justificou em Alvalade porque foi uma das poucas equipas invictas na fase de grupos.

Sporting CP
créditos: JOSE SENA GOULAO/LUSA

Bitaites e postas de pescada

O que é que é isso, ó meu?

Miguel Luís regressou à equipa leonina em noite europeia. Perdendo muitas bolas a meio campo e falhando demasiados passes, ainda foi capaz de vestir a pele de defesa central, na área do Villareal. A história conta-se assim: Coates subiu ao terreno contrário a que está habituado a pisar. Ganhou bolas a adversários, progrediu, entrou na área e quando se prontificava a central, o médio Miguel Luís fez de muro.

Coates, a vantagem de ter duas pernas (e grandes)

De entre a mediania da prestação leonina, Coates, central uruguaio, foi uma peça que destoou do baralho. Cinco minutos separam dois cortes providenciais. A acabar a primeira parte, o uruguaio salva o Sporting com um corte no momento certo quando Fornals se preparava para rematar dentro da área. No reatamento, esticou a perna e evitou o contra-ataque de Chukwueze.

Fica na retina o cheiro de bom futebol

Futebol é golo. Futebol é magia. E futebol é também uma defesa. Em apenas 5 segundos de frame registou-se esta máxima do futebol. Três atos: bailado de Raphinha, que numa troca de pés tirou do caminho um adversário. Remate de Bas Dost, de primeira. E defesa magistral de Andrês Fernandez. Só faltou o orgasmo do futebol: o golo. Mas poucos dias depois do desaparecimento de Gordan Banks, o tal da melhor defesa do mundo, este momento serviu para prestar uma justa homenagem à posição mais ingrata no campo.

Nem com dois pulmões chegava à bola

Fixem este nome. Chukwueze. É jovem, 19 anos. Nasceu na Nigéria. Joga na Liga Espanhola. Tem o perfume de África. Deambula pelos adversários. Usa e abusa do pé esquerdo, é uma realidade, mas essa questão pode ser ultrapassada porque o único pé que conduz a bola vale por dois. A jogada que dá origem ao golo é exemplo disso. Aproveitou a falta de altura de Miguel Luís, que não cortou a bola no meio-campo, dominou o esférico, que seguiu colado à bota, deixou para trás o médio trocou os olhos a Acuña e meteu no pé direito de Pedraza. De uma jogada só eliminou dois jogadores leoninos e deu o golo que mete a equipa de Valência com um pé na fase seguinte da Liga Europa.