Entre o painel de intervenientes estiveram Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato de Jogadores de Futebol, José Couceiro, treinador do Vitória de Setúbal e antigo líder do Sindicato, Joaquim Milheiro, coordenador técnico das seleções jovens nacionais, e Armando Evangelista, treinador do Penafiel, equipa que integra a II Liga.

E os dados revelados por este estudo são claros e prendem-se a diversas interpretações: o espaço de intervenção dos jovens portugueses nas I e II ligas profissionais em antítese com os futebolistas estrangeiros tem vindo sucessivamente a diminuir nos últimos anos.

"Este estudo procura refletir sobre o futuro do futebol português, os seus quadros competitivos e a qualidade do jovem futebolista luso. Na I Liga assistiu-se, pela terceira época consecutiva, a uma diminuição da utilização dos jogadores nacionais", sublinhou o líder do Sindicato de Jogadores, o qual adiantou:

"E o mesmo aconteceu na II Liga, cuja tendência é também para a diminuição da aposta nos jogadores nacionais pela quinta época consecutiva."

Os números são claros relativamente a 2016/17: esta época a percentagem de utilização dos futebolistas lusos decresceu de uma percentagem global de 57 para 43 por cento (I Liga) e de 54 para 46 por cento na II Liga.

"As percentagens registadas na II Liga é que são, na minha opinião, mais surpreendentes", evocou ainda o líder sindical dos futebolistas profissionais.

José Couceiro, atual treinador do Vitória de Setúbal, a equipa da I Liga que é, a par do Belenenses, a que mais portugueses utiliza, é especialmente sensível a esta questão.

"Quando olho para um grupo de jogadores, não há divisão entre nacionalidades, assim como não há raças nem religiões. O problema é que durante a Lei Bosman houve falta de visão dos reguladores que fizeram as regulamentações", disse.

O antigo presidente do Sindicato de Jogadores foi mais longe nas suas conclusões: "Obviamente que concordo que Portugal, estrategicamente, tem de apostar na qualidade dos seus jovens."

José Couceiro recorreu ao passado para sustentar a sua tese. "Portugal foi campeão do mundo em 1991 e a Lei Bosman só surgiu em 1995. Sempre que há grandes gerações de jogadores, isso reflete-se mais à frente", disse.

E acrescentou: "Não há visão de que o risco deve ser partilhado entre o clube formador e o clube que arrisca na sua contratação. Nunca vi nenhum jogador evoluir sem jogar. Isso também acontece nas vossas profissões. Como dizia o professor Teotónio Lima, o caminho faz-se caminhando."

Joaquim Milheiro, coordenador técnico da FPF para as seleções jovens, também deu uma 'acha para a fogueira', fornecendo alguns dados:

"Para nós, é determinante o aproveitamento dos jogadores portugueses. Em sub-19 ocupámos o primeiro lugar do 'ranking' da UEFA. Temos, atualmente, 145 mil jogadores portugueses a praticar futebol nos nossos atuais quadros competitivos. A Alemanha tem cerca de dois milhões de praticantes. São realidades distintas."

E a concluir, Joaquim Milheiro disse: Nós, portugueses, temos de fazer das tripas coração para termos qualidade. Mas vale a penas apostar no jovem jogador português enquanto projeto, enquanto processo. Os bons exemplos, as boas práticas, valem mais do que mil palavras."

Armando Evangelista é o atual treinador do Penafiel, a equipa da II Liga que optou por utilizar mais jogadores nacionais: "Relativamente ao Penafiel, quando cheguei, o plantel já estava formado. O clube dá preferência ao jogador português, pois 20 dos 26 elementos do plantel são nacionais."

Mas Armando Evangelista ressalvou: "Mas não fechamos portas ao futebolista estrangeiro. Tenho dúvidas que consigamos fornecer 38 clubes profissionais com jogadores portugueses de inequívoca qualidade."

A questão do pagamento das transferências de atletas na formação e dos empréstimos de jogadores entre clubes da I Liga mereceu fortes críticas de todos os intervenientes, com José Couceiro à cabeça.

"Sou contra os empréstimos e, posteriormente, a inibição de utilizar esses jogadores. Temos de pensar como um cartel, pois os nossos interesses são comuns. Nós nem sequer conseguimos influenciar os reguladores", sublinhou.

E Couceiro concluiu o seu raciocínio: "O que temos de melhor no nosso futebol são as pessoas. E cito o exemplo do Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Fernando Gomes. A nossa marca mais forte é a seleção de Portugal. Temos de pensar como cartel."