19 dias depois de ter partido de Lisboa, a frota da Volvo Ocean Race (VOR) chegou à cidade do Cabo. Ou antes, para sermos precisos e porque se trata de uma regata à volta do mundo em que todos os segundos contam, a equipa da MAPFRE, que partiu de Lisboa na 2ª posição, foi a primeira a cortar a meta no porto da cidade sul africana, na passada sexta-feira, passados que foram 19 dias, uma hora, dez minutos e 33 segundos. A Turn the Tide on Plastic foi a última equipa a pisar terra firme, chegando no dia seguinte, na noite de sábado, 20 dias, sete horas, 56 minutos e 29 segundos depois de terem deixado para trás a Doca de Pedrouços, em Lisboa, de onde saíram a 5 de novembro.

Percorrendo mais de 7 mil milhas (13 mil quilómetros) ao longo do oceânico atlântico, no sentido norte-sul, ao 14º dia, os espanhóis da MAPFRE beneficiaram de uma decisão que se revelou errada da tripulação franco chinesa do Dongfeng, que até então liderava, quando passavam os “doldrums”, zona do Equador e que separa o hemisfério norte do hemisfério sul. “Isto é o que veremos à volta do mundo. Regatas muito competitivas, todos com boa velocidade e os pequenos erros pagam-se muito caro. Desta vez, tivemos sorte, pois cometemos menos erros”, referiu o Xabi Fernández, velejador basco, campeão olímpico e que soma quatro edições da VOR.

Olhar em frente depois de um dia em que uma decisão deitou tudo a perder

Na cidade do Cabo, Charles Caudrelier, olha para trás e assumiu numa entrevista por email com o SAPO24 que o pior foi quando se apercebeu que “não tinha vento” enquanto todos os outros “tinham melhores ventos”. O skipper francês da Dongfeng que não se queixa “de ondas grandes nem de muito vento”, considera ser pior “quando se perde a posição no ranking e vemos que estamos numa situação delicada”, continuou. “É horrível porque velejamos muito bem durante duas semanas e depois perde-se tudo num dia”, resumiu. “Não podemos fazer nada…”, lamentou.

Contas feitas e em solo firme, é altura de debruçar-se sobre alguns aspetos da regata “da performance, comida e roupa”. Mas acima de tudo “é olhar para a frente”, sublinhou. “Agora quero descansar e depois olhar para a próxima etapa com dupla pontuação. É uma etapa (cidade do Cabo-Melbourne) excitante”, antecipou.

E em relação a este ponto de ligação entre a África do Sul e a cidade australiana, Charles Caudrelier comentou a mudança de rota da edição 2017-2018 da regata à volta do mundo. “O percurso é mais duro que o anterior”, começou por dizer. “Ir para Melbourne em vez de Abu Dhabi (como aconteceu na edição anterior) é totalmente diferente”.

Reconhecendo que se esta fosse a rota na edição anterior seria uma “desvantagem” para a equipa que “tinha muitos rookies a bordo”. Atualmente com a tripulação “mais experiente”, o trajeto assemelha-se a “uma verdadeira corrida à volta do mundo. Vai para Sul e regressa às origens e ao primeiro percurso e regata que a fez tão famosa”, conclui o skipper francês que se congratula de estar na cidade sul-africana com os dois filhos com quem vai aproveita para “passar uns dias” além de “comer boa comida e descansar”.

Frederico Pinheiro de Melo: “Cresci bastante como homem”

Para Frederico Pinheiro de Melo, que partiu de Lisboa a bordo do Turn the Tide on Plastic, embarcação com bandeira portuguesa (Fundação Mirpuri) e que foi o único velejador português a ter feito a icónica viagem de Lisboa à Cidade do Cabo, esta foi “experiência inacreditável”, afirmou à chegada da 2ª etapa da Volvo Ocean Race, apesar de não ter alcançado o resultado pretendido.

“Somos uma equipa muito jovem e estamos a aprender muito e foi uma luta até ao final...é frustrante”, admitiu referindo-se ao facto de terem sido ultrapassados mesmo em cima da linha de chegada pela Sun Hung Kai/Scallywag (68 segundos de vantagem). A bordo da embarcação, quando fazia a entrada no porto sul-africano, Pinheiro de Melo recordou ainda que “nunca tinha passado tanto tempo no mar em regata” e que cresceu “bastante enquanto homem”.

Com os sete barcos Volvo Ocean 65 entregues às equipas de terra, as regatas in-Port estão marcadas para 8 de dezembro. A 3ª etapa da Volvo Ocean Race, que vai ligar a Cidade do Cabo até Melbourne, 6500 mil milhas pelo Índico Sul, começa no dia 10 de dezembro.

O MAPFRE está no topo da tabela de classificação geral, apenas com um ponto de vantagem sobre o Vestas 11th Hour Racing. O Dongfeng Race Team está a dois pontos.