"O objetivo é contrariar algum clima de pessimismo que tem existido sobre o mercado angolano, consubstanciado nos dados concretos das trocas comerciais e outros problemas que surgiram", disse o presidente da AEP - Associação Empresarial de Portugal, Paulo Nunes de Almeida à Lusa.

"Temos a expetativa que 2017 possa ser já um ano de relançamento da economia angolana, primeiro pelos ajustamentos internos, e depois porque tem havido nos últimos meses uma retoma do preço do petróleo, ainda longe do desejável para o país, mas melhor do que antes", continuou o empresário.

A AEP leva 17 empresas portuguesas para um conjunto de reuniões e mostras de produtos e serviços nacionais em Luanda; "tendo em conta que das 17 empresas que integram a comitiva, 70% já estão a desenvolver operações no mercado angolano, o Fórum irá ter como foco principal as parcerias entre as empresas angolanas e portuguesas na diversificação da economia de Angola", referiu a AEP.

"As empresas portuguesas têm de contribuir para a diversificação da economia, mas têm também de pensar que o futuro vai ser diferente e que Angola é um mercado muito importante no ranking das nossas exportações", salientou Paulo Nunes de Almeida.

Questionado sobre a saída de várias empresas portuguesas de Angola no seguimento da crise económica e financeira que o país atravessa devido à quebra do preço do petróleo desde meados de 2014, o empresário respondeu que "as empresas que se querem internacionalizar têm de contar com a volatilidade e lembrar-se que o mundo muda".

Nunes de Almeida considerou que apesar das dificuldades em vários mercados importantes para as empresas portuguesas, "o peso das exportações no PIB subiu de 30 para 40%, e isso mostra que a capacidade de adaptação aos mercados é uma característica mais que evidente nos empresários portugueses".

Os empresários, defendeu, "nunca fecham horizontes, podem desacelerar ou tirar ritmo à internacionalização, mesmo devido às dificuldades na transferência de dinheiro, e outras não viram os créditos cobrados, e outras ainda tiveram de fazer regressar recursos humanos, mas não vi nenhum pôr uma cruz neste mercado onde a volatilidade é grande".

Também por isso, enfatizou, é importante "que Portugal continue a marcar uma presença forte em Angola, que é um mercado natural para as empresas e tem muitos portugueses a viver lá".

Exportações para Angola descem 30%

O saldo favorável a Portugal relativamente às trocas comerciais com Angola desceu 34,4% entre janeiro e novembro, para 1,34 mil milhões de euros, devido à queda de 30,5% nas exportações nacionais.

De acordo com os mais recentes dados da Agência para o Investimento Comércio Externo de Portugal (AICEP), a que a Lusa teve acesso, as exportações de Portugal para Angola passaram de 3,2 mil milhões de euros, de janeiro a novembro de 2015, para 2,2 mil milhões nos primeiros onze meses do ano passado.

Os números da AICEP mostram também uma redução significativa nas importações portuguesas, de 23,9%, tendo caído de 1,2 mil milhões de euros para 919 milhões no mesmo período, mas em valor absoluto é na queda das exportações que reside a principal razão para a degradação do saldo da balança comercial, que se mantém, ainda assim, positiva para Portugal.

A quebra nas exportações nos primeiros 11 meses do ano permite antecipar que Portugal vai chegar ao final de 2016 com o valor mais baixo desde, pelo menos, 2011, ano em que as exportações chegaram a 3,7 mil milhões, mas muito abaixo dos 4,74 mil milhões alcançados em 2014, o melhor dos últimos cinco anos para as vendas de bens e serviços portugueses a Angola.

As importações, por sua vez, também devem fechar 2016 no valor mais baixo dos últimos cinco anos: em 2011, o ano mais baixo dos últimos cinco, Portugal comprou bens e serviços angolanos no valor de 1,3 mil milhões de euros.

A crise financeira e económica angolana revela-se também na percentagem de exportações que tem como destino o maior produtor de petróleo na África subsaariana: em 2016, Angola foi o destino de 3,3% das vendas de Portugal para o estrangeiro, o que vale menos de metade dos 6,9% de 2013.

Em sentido inverso, isto é, enquanto fornecedor, Angola vale 1,4% das importações nacionais, o que revela uma quebra face aos 1,9% de 2015 e aos 2,6% do ano anterior.