Estas posições foram transmitidas pelo dirigente democrata-cristão João Almeida na reta final do primeiro de dois dias de debate na generalidade da proposta do Governo de Orçamento do Estado para 2017.

Numa intervenção que mereceu veementes protestos da parte das bancadas da esquerda parlamentar, mas que foi muito aplaudida pelos deputados do CDS-PP, João Almeida acusou o ministro Mário Centeno de ter averbado este ano "um falhanço épico" ao nível das suas metas crescimento económico, dizendo, com ironia, que "o seu quadro [macroeconómico apresentado em 2015] ficou pela metade em 2016".

"Mas este Governo não corrige, não porque não queira, mas porque não têm capacidade para isso. Pelo segundo ano consecutivo, o que não deixa de ser extraordinário, o Governo do PS acolhe no seu Orçamento o enorme aumento de impostos" de 2013, sustentou João Almeida.

Em síntese, para o dirigente do CDS-PP, como o Governo socialista falhou nos seus objetivos de crescimento económico, "pelo segundo ano consecutivo o ministro das Finanças, Mário Centeno, foi incapaz de apresentar uma proposta de Orçamento sem aumentar a carga fiscal e sem ir ao bolso dos contribuintes".

"Por isso, os portugueses deram ao PS o resultado que se conhece nas últimas eleições legislativas de 2015, já que os portugueses sabem que os socialistas são tão maus a prever como a governar", declarou ainda.

Mas João Almeida aludiu igualmente às opções do Governo em termos de aumento das pensões, apontando que as pensões no valor de 7500 euros vão aumentar no próximo ano 263 euros, "enquanto as pensões exatamente de 263 euros vão aumentar um só euro em 2017".

"Para que servem afinal os socialistas, os bloquistas e os comunistas? É para darem tudo isso, 263 euros a mais por mês um pensionista com 7500 euros, mas somente um euro a um pensionista do subgrupo das pensões mínimas? Estamos a falar de um milhão de pensionistas que vivem das suas pensões mínimas", declarou o deputado do CDS-PP, elevando o tom de voz.

João Almeida deixou ainda um desafio específico às bancadas do Bloco de Esquerda e do PCP, convidando-as a apresentarem agora, no âmbito da discussão orçamental para 2017, perante o atual Governo socialistas, as propostas que apresentaram nos debates dos orçamentos para 2014 e 2015 perante o anterior executivo PSD/CDS-PP.

Na reação à intervenção de João Almeida, o deputado socialista Eurico Brilhante Dias considerou que o país está no presente confrontado com "um CDS-PP 2.0", que tenta "regressar às suas origens de partido democrata-cristão".

"Durante quatro anos, o Governo de que fez parte o CDS-PP votou a favor do enorme aumento de impostos, da criação de sobretaxa em sede de IRS, do corte das pensões e do completamento solidário para idosos. Durante quatro anos, o CDS-PP largou a democracia cristã numa gaveta", advogou Eurico Brilhante Dias.

Já a dirigente do Bloco de Esquerda Joana Mortágua perguntou a João Almeida que reposição salarial faria o CDS-PP caso continuasse no Governo e, ainda nesse hipotético cenário, quantas horas por semana teria de trabalhar um funcionário público.

"Mas o CDS deve explicar qual o motivo de ter aumentado a pobreza, sobretudo dos idosos, nos quatro anos que governou. O que o CDS-PP escolheria se fosse hoje Governo, a escola pública ou os contratos de associação e as negociatas com os colégios?", questionou ainda Joana Mortágua.