“Longe de ter dividido a Europa, a crise pode revelar-se uma oportunidade para levar ainda mais longe a centralização política. Sem dispararem um tiro, os administradores da Europa podem ter sido bem-sucedidos onde Napoleão e Hitler falharam”, escreve Ian Morris, referindo-se à unificação monetária dos países europeus.

O académico aborda questões relacionadas com os problemas que afetam a moeda única, designadamente a crise económica e financeira que atinge diretamente vários países, como Portugal.

No livro “Guerra! Para que Serve?”, que acaba de ser lançado em Portugal, Morris diz que a União Europeia, dependendo da “mão invisível do mercado”, em vez da “mão invisível do poder militar”, para aplicar as regras, parecia estar perto do abismo no início da década mas as situações limite foram, até ao momento ultrapassadas.

O autor recorda que, no final de 2011, o banco suíço UBS manifestou publicamente o receio de um aumento da violência na Europa, na sequência da crise financeira, ao afirmar que “quase nenhuma união monetária de papel-moeda se desfez sem uma qualquer forma de governo autoritário ou militar, ou sem uma guerra civil”.

“Apesar do aumento em flecha do desemprego, das violentas manifestações que encheram as ruas e da crise política, a Grécia permanece na zona euro, e apesar da pressão crescente sobre a Irlanda, Portugal e Espanha, a Itália e até a França, nenhum destes países colapsou”, aponta o historiador.

Morris sustenta que a política “muito criticada de completa inatividade”, e que faz apenas o suficiente para manter os países endividados “à tona”, parece estar a evitar o desastre.

O pensamento do historiador britânico Ian Morris, 56 anos, doutorado em Cambridge e atualmente professor na universidade norte-americana de Stanford, sobre a guerra “desde os primatas aos robôs”, propõe um estudo polémico sobre os efeitos dos conflitos nas civilizações ao longo de 15 mil anos de História, incluindo Portugal.

“A importância de Ceuta, só reconhecida muito mais tarde, é que esta era a primeira vez, desde o Império Romano, que a guerra produtiva europeia se tornara intercontinental”, escreve Ian Morris, referindo-se à conquista de Ceuta, no norte de África, em 1415, durante o reinado de D. João I.

“Foi um pequeno começo, mas ao longo dos 500 anos seguintes os europeus viriam a escapar pela força ao ciclo de guerras produtivas e contraproducentes para porem três quartos do planeta sob o seu domínio”, sublinha o autor, que encara os conflitos através de um ângulo pouco habitual.

“A guerra produziu cidades maiores, geridas por governos mais fortes, os quais impuseram a paz e criaram as condições prévias para a prosperidade”, proclama o historiador, reconhecendo que atualmente as circunstâncias estão a mudar.

“Combatemos em inúmeras guerras no passado porque combater compensava, mas no século XX, conforme os lucros da guerra foram diminuindo, fomos encontrando maneiras de resolver os nossos problemas sem fazer abater sobre nós o Armagedeão”, escreve Morris.

Em conclusão, o académico considera que o século XXI vai assistir a mudanças “espantosas em todos os aspetos, incluindo no que diz respeito ao papel da violência.

O livro “A Guerra? Para que Serve”, de Ian Morris foi editado este mês em Portugal e inclui mapas, fotografias e gráficos sobre os efeitos da guerra, sobretudo nas economias das várias civilizações estudadas.