Numa das mais reputadas escolas de negócio chinesa, a Cheung Kong Graduate School of Business (CKGSB) - e não são referências da Wikipedia, com todo o respeito pela Wikipedia, mas sim resultantes de uma experiência em que pude constatar, por mim, o nível de oradores e docentes, os locais visitados e a relevância dos executivos que nos receberam nas sedes das suas empresas e, o mais importante, pela clareza e profundidade dos conteúdos - participei durante uma semana no programa "China Start". E é isso mesmo, agora estamos prontos para começar! A somar a tudo o que já enumerei, e não menos relevante, importa o conjunto de empreendedores presente. Entre nós havia empreendedores early stage, investidores e gestores de inovação na banca com características peculiares, duas descendências reais,  "sangue azul" de origem nórdica e asiática, e tudo isto tornou a experiência absolutamente memorável.

Uma experiência tão enriquecedora que criou um problema: gera expectativas. Mas todos saímos com a consciência de que estamos em condições de continuar a aprender mais e que nada acontecerá sem estudo, preparação e investimento. Este foi apenas o início do muito que há pela frente com potencial para ser feito.

Se, em abstrato, eu quisesse vender canetas "Bic" para a China, seria errado haver uma estratégia para a China, porque dentro deste país existem muitas Chinas em diferentes níveis de desenvolvimento, competição e abertura. Há que ter consciência que uma cidade chinesa pode representar o mercado potencial de vários países europeus no seu conjunto. É preciso utilizar as ferramentas que os chineses já usam, é preciso não tentar levar para a China os nossos sites ou formas de comunicação não adaptadas ao uso local. Eu, como outros, já caímos nesse erro noutras "vidas". No mercado do B2B ou industrial, alerta especial para uma única precaução: verificar quão replicável é a nossa tecnologia ou inovação, barreiras à cópia, porque, sim, eles vão C2C (Copy to China) sem apelo ou agravo, mas se virem valor e oportunidade serão parceiros.

Nada se faz com uma viagem, duas ou três, será desgastante, terá de haver orçamento, o processo de negociação é intenso e muito relacional.

Com o crescimento económico da última década, o custo da mão de obra aumentou, mas prevê-se que, a curto e médio prazo, deixe de ser mais barato produzir na China. As empresas europeias e chinesas estão a desviar a produção industrial para países asiáticos vizinhos, criando novas oportunidades, sobretudo para relocalização de novas indústrias e fornecedores.

Uma nota para dois exemplos. Na China, Espanha é vista como exportador de carne e França como exportador de vinho, o que significa que só um esforço concertado de produtores de carne e vinho poderá ter um impacto na China para estes dois produtos. É verdade que já há empresários desta área com vendas na China, mas face ao potencial do mercado, há muito por fazer. Quanto a outras áreas de negócio, a China precisa de tudo todos os dias, mas é o único país do mundo com condições para produzir tudo o que precisa. Por outro lado, é ávida em C2C (copy to China) para desenvolver produto e mercado e mais tarde KFC (kopy from China). Com inteligência, risco e investimento, há potencial para oportunidades gigantes.

Uma vez em processo de negócio, quase tudo se fechará à mesa com uma refeição (é elevada a probabilidade de karaoke e álcool) e ainda vale mais a palavra dada que o contrato assinado. Um dos docentes e advogados chineses que participou no programa dizia-me mesmo que nós, europeus, "levamos os contratos assinados muito a sério!". A minha primeira resposta seria: "e não são para levar?!", mas agora limitei-me a sorrir e a estender a mão para aquele aperto de mão como os homens da Beira Alta, forte e olhos nos olhos. Claro que os contratos são precisos, mas os grandes negócios acontecem se houver empatia e um sentido de justiça negocial. Todos os preços e custos serão sempre negociados, é isso que lhes dá gozo, recordem-se que o processo negocial é relacional.

À mesa na China ninguém pede individualmente o que quer comer. Normalmente uma só pessoa assume a gestão do processo em nome do grupo e o que vier para a mesa é para todos. Uma refeição deve ser um evento social de partilha. Esta atitude à mesa reflete um pouco a visão de estabilidade, crítica na gestão negocial e no entendimento da sociedade chinesa. Repito "estabilidade", porque a sua ambição e visão não é tão individualista como no ocidente em que à mesa há o hábito de comermos juntos, mas cada um o seu prato (naturalmente não é literal). O Confucionismo deve fazer parte da lista de palavras-chave de quem quer estar ou fazer negócios com a China.

Esta foi uma semana tremenda, onde aprendemos a respeitar a República Popular da China, a sua evolução e os seus princípios. Naturalmente, a Europa e a China têm um trabalho de relação negocial e nós, empresários, nem sempre concordaremos com tudo, mas como em todas as relações, há dias melhores que outros e ninguém é perfeito. Importa sim querer fazer mais e melhor todos os dias, sempre, e o mais importante, ser fiel sempre, porque sem dúvida essa será a parte mais complicada de cumprir. Nenhum chinês deseja perder a face e um ocidental na China só quebra relações comerciais ou negociais uma vez, primeira, única e última.

Como terminou o curso? Bem, com as apresentações finais, avaliação, entrega de diplomas, fotos oficiais, jantar e pós-jantar, mas sobre essa parte, como se diz sobre Las Vegas: "What happens in China stays in China!".

Obrigado por terem acompanhado esta viagem e até breve.

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