O "mundo encantado das formas" fica a menos de 25 quilómetros do Porto, na rua Alto da Mina, freguesia de Campo, e produz para marcas como a Bimbo, a Dan Cake ou a Panrico, dominando 70% do mercado mundial.

Em 2014, A Metalúrgica teve o seu "melhor ano de sempre" com a faturação a ultrapassar os quatro milhões de euros, como explicaram os administradores à Lusa. A expectativa para este ano é chegar aos 4,5 milhões.

Belarmino Ferreira, 94 anos, Agostinho Santos, de 71, bem como Raquel e Ana Santos, de 34 e 29, cruzam-se diariamente numa unidade fabril de 6.300 metros quadrados que conta com 100 trabalhadores, mas começou com cinco em 200 metros quadrados do Bonfim, no Porto.

"A família tem uma sexta geração. Meninas que já brincam com as formas", contou Raquel Santos que, ao lado do pai, Agostinho Santos, recebeu na fábrica a 26 de abril o ministro da Economia.

Foi dia de bolo e de cantar os parabéns, mas antes, no dia 21, o 120.º aniversário já tinha sido comemorado com os colaboradores graças aos bolos que começaram a chegar à A Metalúrgica desde as 08:30 da manhã quer feitos por vizinhos, quer oferecidos por amigos.

A empresa tem milhares de tipos de formas para fabrico industrial (segmento que corresponde a 70% da produção), 300 modelos em tamanhos e cores diferentes para fabrico doméstico (30%), e cerca de meia centena de prensas mecânicas e hidráulicas, o que permite "uma capacidade única a nível mundial", contou Agostinho Santos a quem se poderia chamar, se a linhagem familiar exigisse um cognome, "O Visionário".

Já ao fundador de A Metalúrgica, Joaquim Moreira Pinto, poder-se-ia ter dado o nome de "O Revolucionário". Em 1896 entrou no mercado das formas domésticas em folha-de-flandres com uma produção artesanal que passou a ser a retaguarda da pastelaria portuguesa. Não esperou pelo alvará para se estabelecer, algo que só conseguiu meio ano depois da implantação da República.

A Metalúrgica sentiu a principal ameaça quando a globalização dos mercados se generalizou, altura em que Agostinho Santos decidiu, e porque se recusava a "perder um património tradicional e familiar", comprar a empresa ao avô, David Moreira Pinto.

"O Visionário" apostou em 1977 na compra de um telex - "algo que só os bancos e as seguradoras tinham" - e de um computador que custou "qualquer coisa como 1.500 contos, ou seja o necessário para comprar uma casa", contou.

"Isto é um nicho de mercado e eu sempre fui um bocado avesso a fazer o que os outros fazem. Tentei o mercado industrial. As fábricas com grandes linhas de montagem. E entramos na Bauli [Itália]. Era um milagre entrar ali, um mercado muito exigente, o maior mercado de pastelaria na altura", descreveu.

Abastecer a pastelaria italiana foi a "porta de entrada" em outros países. Somou-se a Mercadona (Espanha), Barilla e Dal Cole (Itália) e Schneider (Alemanha), entre outras marcas europeias. "E também estamos na América e em África", completou Agostinho Santos, que sobre o sucesso sublinha a palavra "carinho".

"O espírito de lealdade, de amizade, é muito importante. Entre funcionários claro e perante clientes também. Há um carinho imenso entre todos. E não se consegue um bom cliente, sem se ter um bom fornecedor. A relação humana, o carinho, marca a diferença", atirou.

Na página das redes sociais de A Metalúrgica é frequente encontrar fotografias de idas e vindas ao aeroporto com os administradores a receberem e a despedirem-se de clientes que merecem a ‘tag', espécie de etiqueta digital, "visita".

Já a "selfiesmetalurgica" (fotografias tiradas pelo próprio) é reservada aos trabalhadores que se apresentam na página mas se conhecem de longa data já que são frequentes os "ajuntamentos" quer na festa de Natal, quer no magusto, quer no dia da matança do porco.

De Valongo para o mundo saem, entre outros modelos e estilos, ursinhos, estrelas, bonecos, corações, bolas de futebol, sinos, formas para pão rústico, formas de pudim, tabuleiros para panificação.

Completamente autónoma porque faz as próprias ferramentas e assegura a manutenção das máquinas, na A Metalúrgica fazem-se, garantiram os administradores, "formas à medida de cada cliente" porque "cada cliente tem as suas necessidades".