“Estou muito preocupado pois nós temos uma dívida pública muito elevada e neste momento em que estamos na fase alta do ciclo económico, já deveríamos estar em ‘superavit’ ou pelo menos défice nulo. E não estamos”, disse o antigo ministro da Indústria e da Energia num almoço organizado pelo International Club of Portugal, em Lisboa.

E prosseguiu: “Já tenho elogiado publicamente o ministro da Finanças, Mário Centeno, e reconheço um grande mérito pelo esforço tremendo que ele tem feito para reduzir o défice, mas isto não é sustentado”.

Segundo Mira Amaral, o ministro das Finanças tenta compensar com cativações nos serviços e “às tantas o Estado português, a administração pública, esgota-se em pagar salários e depois os serviços públicos não funcionam com as cativações que está a fazer”.

“A culpa não é dele, mas desta maioria política que este ano vai gerar um aumento de despesa pública de cerca de 1.200 milhões de euros, que é despesa permanente e não sabemos o que implicarão os professores. Isto é uma dinâmica de despesa que é insustentável”, alertou.

O antigo ministro afirmou que o grande problema que Portugal tem é que “a despesa fica e, quando vier uma crise, que há de acontecer, é uma questão de tempo, a receita vai-se e voltamos a ter um sério problema de finanças públicas”.

Mira Amaral defendeu ser necessário reforçar a necessidade de reformas estruturais e de políticas do lado da oferta para aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) potencial português, mas advertiu para o facto de a atual solução do Governo se centrar em medidas de estímulo da despesa.

“O orçamento de 2018 é um orçamento pós-eleitoral, na medida em que o Governo teve que acomodar propostas do PCP e Bloco de Esquerda, na sequência do desconforto destes partidos com os seus resultados nas eleições autárquicas”, afirmou Mira Amaral, lembrando que é um orçamento “muito simpático para a Função Pública e negativo para as empresas”.

É, pois, para o antigo ministro, um orçamento amigo da distribuição e não da criação de riqueza.

No fundo, trata-se de “um orçamento simpático para eles [os cidadãos] e antipático para elas [as empresas]. Clara diferenciação de género…”, ironizou.

A tendência para o PIB diminuir o ritmo de crescimento em 2018 e 2019 é também clara para Mira Amaral, que disse que “o PIB português já está acima do PIB potencial (a capacidade potencial da fábrica Portugal), e a fábrica Portugal está enferrujada. Só se desenferruja com reformas estruturais”.

O facto de o PIB português estar acima do PIB potencial significa que “vamos ter dificuldades de crescer porque a fábrica Portugal não dá mais e apesar do crescimento que o primeiro-ministro [António Costa] diz que é o melhor do século”.

Mas a maior parte dos países da União Europeia, segundo Mira Amaral, está a crescer mais do que Portugal, apenas cinco estão a crescer a um ritmo inferior, por isso, advertiu: “Nada de euforias”.

Sobre o PSD, Mira Amaral reiterou que apoia o candidato Rui Rio à liderança do partido, pois “o PSD não está só a escolher um líder, está a escolher o futuro candidato a primeiro-ministro” e o primeiro-ministro, com o problema dos incêndios “levou um tiro no porta-aviões”.

“Acho, portanto, que há muita probabilidade do PSD, associado ao CDS, vencerem as eleições, pelo que nesta perspetiva Rui Rio é o melhor que temos para primeiro-ministro de Portugal”, salientou.