“A temática que nós vamos desenvolver este ano é: Europa-África, oportunidades de crescimento” para esta aliança, falando “de investimento, infraestruturas, transição energética e transformação digital”, adiantou em entrevista à Lusa António Calçada de Sá, presidente da direção do Conselho da Diáspora Portuguesa.

Esta organização não-governamental para o desenvolvimento é a organizadora do evento, que decorrerá em 18 e 19 de julho, em que é esperada a participação de pelo menos 500 pessoas.

A cerca de um mês da realização do fórum, a organização tem confirmadas as presenças de ministros e decisores públicos de todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), ou seja Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, além de África do Sul, Zimbabué e Ruanda, e manifestação de vontade de participar de outros, podendo ultrapassar a dezena.

Nesta 6.ª edição, um dos temas a tratar é a inovação, “mas já com projetos muito concretos para África”, salientou na entrevista à Lusa o presidente da organização que trabalha para mobilizar a diáspora portuguesa para a melhoria da imagem e credibilidade de Portugal no estrangeiro e dar a conhecer as potencialidades do país.

“Transformação digital: maior integração para um ecossistema digital global” é o primeiro tema em debate, contando entre os oradores com Normam Albi, presidente da MEDUSA Submarine Cable Sistem, o operador de infraestruturas que nasceu para interligar países do Sul da Europa – Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia e Chipre – com países do Norte de África – Marrocos, Argélia, Tunísia e Egito.

Neste painel, o primeiro depois da abertura oficial do evento a cargo do presidente do Conselho da Diáspora e de Durão Barroso, presidente do EurAfrican Fórum, intervêm também Audrey Mothupi, presidente executiva da SystemicLogic Group, um ator global de inovação financeira, dados e tecnologia, da África do Sul, e Abdellah Menou, diretor da Autoridade Aeroportuária de Marrocos.

“Estamos a ver uma coisa interessante: África, apesar de nós pensarmos sempre que chega mais tarde, e chega (…) mas chega com a última versão das transformações digitais”, e é uma “grande vantagem chegar nos últimos capítulos de uma transmissão digital”, referiu Calçada de Sá, para salientar a importância deste painel.

“Transformação verde: necessidade e oportunidade económica para aproximar a Europa e África” é o tema do painel que fecha a manhã do primeiro dia do encontro, que conta ainda com dois outros debates.

O primeiro será sobre “Educação de qualidade através da cooperação em pesquisa e inovação”, com a participação, entre outros, de Mónica Ferro, diretora do gabinete de Genebra do Fundo das Nações Unidas para a População.

O segundo é sobre “Reforçar os sistemas de saúde: fabrico e acesso a vacinas, medicamentos e tecnologias da saúde”, em que um dos intervenientes é Marie-Ange Saraka-Yao, diretora da área financeira da Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (Gavi).

Como “Apoiar o financiamento sustentável do crescimento”, “Oportunidades e desafios da internacionalização e do comércio transfronteiriço UE-África” e “Ligar áfrica e Europa através de infraestruturas e transporte sustentáveis”, são os temas para debate no segundo dia.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, faz a abertura dos trabalhos deste último dia do Forum, em que participam oradores como Frannie Léautier, presidente da SouthBridge Investments, Rita Laranjinha, responsável pela política externa europeia para África, e Ngozi Okonjo-Iweala, antiga ministra das Finanças da Nigéria e atual diretora-geral na Organização Mundial do Comércio.

Com figuras destacadas do mundo empresarial e financeiro, mas também da academia, ciências, cultura e cidadania, o presidente do Conselho da Diáspora acredita que esta será uma grande oportunidade para mostrar “projetos concretos, muitos já a acontecer ou feitos” e “atrair quem são os principais interessados”.

“Éramos 80 há dois anos. Neste momento somos 160. No final deste ano seremos 200”

O recente projeto da Repsol em Sines, de mais de 600 milhões de euros, e a fábrica de cosméticos da Amyris Bio Products são exemplos de como a diáspora pode ajudar a atrair investimento e talento para Portugal.

Esta é uma convicção de António Calçada de Sá, que falou do “enorme potencial de Portugal” e de como os já 160 membros desta organização não-governamental podem ajudar.

“Éramos 80 há dois anos. Neste momento somos 160. No final deste ano seremos 200”, disse Calçada de Sá, um crescimento da rede, espalhada por 40 países de todos os continentes, que diz demonstrar a vontade de participar.

“Nós conseguimos ser a melhor versão da diplomacia portuguesa fora de Portugal, conseguimos vender a marca Portugal lá fora”, sublinhou, lançando o apelo aos portugueses espalhados pelo mundo para fazerem “mais e melhor” com o propósito de “atrair interesse para Portugal, não só na área económica e no investimento, mas na academia, nas ciências, na cultura, na cidadania”.

Questionado sobre exemplos dessa ação, Calçada de Sá menciona o projeto da Repsol para duas fábricas de materiais poliméricos de alto valor acrescentado em Sines, um investimento de 657 milhões de euros, o maior investimento industrial em Portugal nos últimos 10 anos.

“Este investimento, não quer dizer que dependa da minha ação, mas eu ajudei a que isto acontecesse (…) fiz tudo o que estava ao meu alcance”, garantiu o gestor, atualmente também Presidente da Fundação Repsol mas que foi membro do comité executivo da empresa espanhola e Presidente da Repsol Portugal.

Outro exemplo que apontou foi o do investimento de 60 milhões de euros da Amyris Portugal, uma subsidiária da empresa norte-americana com o mesmo nome, na produção e exportação a partir de Portugal de cosméticos, conseguida por John de Melo, diretor executivo da empresa sediada na Califórnia.

“O meu apelo à diáspora é, digamos, bidirecional. Ou seja, eu acho que nós temos que conseguir trazer para Portugal recursos financeiros, recursos académicos, repatriar talento para Portugal, apoiar a inovação em Portugal e sermos mais positivos”, declarou Calçada de Sá.

“Portugal, o que não pode nem deve, é ser prisioneiro do seu fado, de país pequeno”

“Portugal, o que não pode nem deve, é ser prisioneiro do seu fado, de país pequeno” e por isso, cá dentro, é preciso, “sair da caixinha e ganhar”, porque “somos muito bons a jogar nas equipas estrangeiras, mas temos sempre vergonha de ser campeões do mundo”, sublinhou o gestor.

Questionado sobre o que as instituições e os decisores públicos podem fazer para atrair essa vontade de investir ou de participar, Calçada de Sá, com uma carreira de duas décadas no estrangeiro, desmistificou a ideia de que a burocracia em Portugal é mais pesada do que noutros países, mas apontou também dificuldades.

“Um dos grandes problemas que temos em Portugal, é que normalmente os projetos têm muitos donos. Diria que tem demasiados donos e, portanto, o problema é como se consegue executar aquilo tudo, porque quando não é este ministério é o outro e se não é esta secretaria de Estado são outras, e a seguinte…”, o que dificulta encontrar “um ponto de acordo relativamente a projetos”.

O EurAfrican Fórum, evento organizado anualmente pelo Conselho da Diáspora, que este ano vai decorrer a 18 e 19 de julho, é uma oportunidade para mostrar projetos e proporcionar o encontro de interesses, sublinhou na entrevista o presidente desta organização não-governamental.

“Há portugueses sentados nos ‘boards’ de algumas das maiores empresas do mundo, na banca, na consultoria”, em instituições e empresas da ciência, da cultura, do mundo académico, que “têm motivação” mas, alertou, “é preciso dizer-lhes um bocadinho qual é o ‘roadmap’ para que isto aconteça”, um papel que os membros e conselheiros da diáspora fazem.