A votação britânica a favor da saída da União Europeia (UE) revela, além disso, um certo desencanto dos cidadãos britânicos, o que deve levar a UE a ser mais transparente, segundo palavras de Lagarde.

"Esta é uma das principais fontes de perigo por agora, mas não acreditamos que uma recessão mundial seja muito provável", afirmou, ao ser questionada sobre o impacto da decisão britânica.

"Os efeitos imediatos dessa votação serão sentidos no Reino Unido, com réplicas na zona euro", afirmou Lagarde, pedindo aos britânicos e europeus que acertem o mais rapidamente possível um calendário de separação para diminuir as incertezas. "A palavra-chave neste tema do Brexit é incerteza, e quanto mais tempo durar esta incerteza, maior será o perigo", afirmou Christine Lagarde, que acaba de iniciar um segundo mandato à frente do FMI.

O voto britânico expressa algum nível de desencanto vinculado à complexidade das instituições europeias, afirmou. "A UE deve fazer muito mais para explicar de maneira mais transparente o que está a fazer, o que isso significa para a população, os custos e benefícios da sua ação", acrescentou.

Lagarde pediu, no entanto, aos países da União Europeia que deixem de atacar Bruxelas por tudo o que acontece de menos bom. "É possível que eu mesma tenha sido culpada de uma atitude deste tipo", admitiu a ex-ministra da Economia de França.

"Ajuda aos perdedores"

Christine Lagarde afirmou que a decisão britânica pode obedecer igualmente à natureza da consulta. Nos referendos, os eleitores geralmente não respondem à pergunta que lhes é feita.

"Por mais simples que seja a pergunta, as pessoas apegam-se aos temas mais presentes", analisou. Apesar da incerteza económica, a diretora-geral do FMI mostrou-se otimista. O Brexit "pode paradoxalmente ser um catalisador que leve os países da UE a aprofundar a sua integração económica". O FMI deve ajudar, por outra parte, os "perdedores da globalização", apesar de continuar com o seu papel de guardião da ortodoxia orçamental, afirmou ainda.

"Mesmo quando somos os maus, devemos igualmente ser sensíveis e ter uma dimensão humana", declarou. Geralmente criticado pelas medidas de austeridade que preconiza, o FMI deve responder às falhas da globalização económica e à aceleração do intercâmbio comercial no mundo, assinalou.

"A globalização produziu muitas coisas boas e tirou muitas pessoas da pobreza, mas também gerou perdedores, cujos postos de trabalho foram transferidos para lugares de produção mais baratos", destacou.

Na sua opinião, o FMI pode ajudar estas populações ao prestar mais atenção às desigualdades excessivas, ao lugar das mulheres, às alterações climáticas ou à corrupção", garantindo a solidez das "redes de segurança sociais". Esta mudança de foco pode permitir que se chegue a uma globalização aceitável, que não gere um aumento do PIB, mas permita ajudar "quem correr o risco de sair como perdedor", concluiu.