O SAPO24 falou com Bruno Janeiro, analista da Activotrade (plataforma onde é possível realizar operações em bolsa), sobre os contornos da OPA lançada pela EDP sobre a EDP Renováveis, sua subsidiária, e as questões pertinentes à volta da mesma. Vamos ao que importa, portanto. Questão a questão.

1. O que é uma OPA?

Uma OPA é uma Oferta Pública de Aquisição. Ou seja, uma empresa — neste caso a EDP — lança uma Oferta (o que quer dizer que os outros acionistas têm a possibilidade de aceitar ou não) Pública (ou seja, trata-se de um processo do conhecimento de todos e portanto totalmente transparente) com o propósito de Adquirir as ações detidas pelos outros investidores.

Neste caso, a EDP quer assumir o controlo total da EDP Renováveis, algo que conseguirá caso a OPA seja bem sucedida, adquirindo os cerca de 22% que não detém sobre esta empresa, sua subsidiária. Em linguagem de especialistas é o que se chama um takeover.

Mas porque é que não pode a EDP simplesmente ir ao mercado e comprar as ações da EDP Renováveis que estão cotadas?

Bruno Janeiro explica que tal iria gerar "problemas de liquidez financeira", uma vez que o aumento da procura iria fazer disparar o preço das ações da EDP Renováveis e, por isso mesmo, o valor que seria despendido pela EDP para adquirir as ações que pretende (o qual subiria ao longo do processo de compra, fruto do maior interesse nas referidas ações) acabaria por ser muito superior do que o que a EDP está, neste momento, a oferecer.

2. Porque é que a EDP decidiu, agora, fazer esta OPA à EDP Renováveis?

Para além da OPA, a EDP anunciou também, nesta segunda-feira, a venda da Naturgas, uma subsidiária responsável pela distribuição de gás em Espanha por, aproximadamente, 2,6 mil milhões de euros. E é este mesmo encaixe financeiro que permite à EDP financiar esta OPA.

Janeiro, ao SAPO24, ressalva, no entanto, que "a maior parte do financiamento vai servir para reduzir a dívida atual da EDP, que no final do ano passado superava os 15 mil milhões de euros". "A venda da Naturgas terá um impacto positivo nas contas da EDP", acrescenta.

Mas esta OPA acaba também por ter uma dimensão estratégica, que parte do facto de a EDP considerar que a sua subsidiária estava cotada em bolsa num valor abaixo daquele que é entendido pela energética como o valor real da EDP Renováveis.

Quando surgiu em bolsa, em maio de 2008, a EDP Renováveis apareceu com um preço de 8 euros por ação. Caso concretiza esta oferta de compra de 6,8 euros por ação, a EDP vai conseguir recuperar a totalidade da participação na EDP Renováveis por um valor por ação inferior aquele que foi vendido em bolsa, há quase 10 anos.

É importante dizer que o valor oferecido (6,8 euros) é superior à cotação da EDP Renováveis no final do dia do anúncio, segunda-feira (6,25 euros). Contudo, o mesmo anúncio fez com que, nesta terça-feira, as ações da EDP Renováveis valorizassem praticamente 10%. Isso acontece porque, logicamente, qualquer acionista da EDP Renováveis sabe agora que se quiser vender as suas ações, pode fazê-lo, no mínimo, a 6,8 euros, o que leva a que qualquer pessoa ou entidade que detenha ações da EDP Renováveis não esteja disponível para as vender por um valor inferior a 6,8 euros.

Então porque estão as ações a cotar em bolsa a um valor que já supera os 6,8 euros (as ações terminaram cotadas a 6,9 euros no dia de ontem, terça-feira)?

Bom, porque a maior parte dos analistas acredita na possibilidade da EDP efetuar uma contraproposta, ou seja, que faça uma atualização ao valor por ação que está a oferecer, na referida OPA. Que ofereça um maior valor por ação, portanto. Ora, isto torna a aquisição de ações da EDP Renováveis uma operação de risco menor: por um lado, existe a possibilidade de contraproposta (que, acredita-se, chegue aos 7,1 euros); por outro, é possível que a mesma não exista e que a perda, por ação, esteja limitada ao valor oferecido inicialmente pela EDP (6,8 euros).

Ainda assim, para Bruno Janeiro, o foco da EDP é só um, único e bem explicito: recuperar a totalidade do capital da EDP Renováveis.

No fundo, a EDP aproveitou a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos da América, que com os seus anúncios de diminuição de investimento nas fontes de energia alternativas, fez cair as cotações em bolsa das empresas que trabalham com energias renováveis — houve empresas que caíram até 20% em bolsa —, para adquirir a sua subsidiária a um preço mais baixo do que, por exemplo, seria possível de fazer há um ano atrás.

3. É possível que aconteçam mais operações deste género em Portugal, nos próximos tempos?

"Portugal tem sido palco, nos últimos anos, de aquisições por parte de investidores estrangeiros, nomeadamente chineses que aproveitaram o momento de crise do nosso setor bancário", refere Bruno Janeiro. E por estarmos perante uma aquisição de uma empresa portuguesa sobre outra empresa portuguesa, esta é uma situação revestida de um carácter particular.

Mas ressalva: "não vamos ver nisto uma situação espetacular, porque isto advém de uma venda que a própria EDP fez e que lhe permitiu ter liquidez para fazer este investimento".

Se a EDP não tivesse vendido a Naturgas, muito provavelmente esta OPA não teria acontecido, explica o analista da Activotrade.

No "final de contas", a operação não é mais do que a EDP a "adquirir a totalidade" que já pertence à empresa na sua grande maioria, termina o analista.

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