"Estas exportações têm a ver com zonas onde existem muitos portugueses e madeirenses e nós queremos chegar exatamente ao mercado da saudade", explicou à agência Lusa Bruno Vieira, gerente da pequena fábrica funchalense, que começou a laborar em 1893 e pertence à mesma família há cinco gerações.

A produção inicial era de bolachas, mas, ao correr dos anos, foram introduzidos novos produtos e os rebuçados de funcho acabaram por adquirir elevado protagonismo, continuando a ser fabricados "à moda antiga".

É preparada uma calda, à base de açúcar e essência de funcho, que depois arrefece em cima de uma pedra de mármore. Ao solidificar, é enrolada em forma cilíndrica e, por fim, partida à mão com uma espátula, pelo que os rebuçados apresentam tamanhos irregulares.

"Devemos ser das poucas empresas que ainda usam o modo tradicional na confeção de rebuçados", disse Bruno Vieira, sublinhando que apenas pretende mecanizar o embalamento.

A Fábrica Santo António produz 200 quilos de rebuçados de funcho por dia, comercializados em embalagens de 160 gramas. O pico de vendas ocorre no inverno, porque a guloseima, translúcida e alaranjada, é um bom calmante para a garganta.

Bruno Vieira reconhece que o fabrico artesanal encarece o produto, mas faz a diferença e garante a autenticidade.

"Podíamos entregar a receita a uma linha industrial e em poucas horas obtínhamos 1.000 quilos de rebuçados, mas o produto não fica igual, nem ao nível do corte, nem da consistência, nem do sabor", vincou, afirmando que o segredo não está na fórmula, mas no processo de fabrico.

O grosso da produção é comercializado nas grandes superfícies da Madeira e destinado à exportação, mas a Fábrica Santo António mantém intacta a loja de venda ao público, um local quase museológico, onde o balcão e o expositor principal são originais e onde é possível observar vários instrumentos centenários e velhas caixas de bolacha em folha-de-flandres.

O atual espírito revivalista colocou-a na linha da frente dos estabelecimentos comerciais mais puros do Funchal. Atraídos pelo aspeto, os visitantes acabam seduzidos pelos produtos.

"Há muitos continentais e até mesmo espanhóis que chegam à Fábrica Santo António, pela primeira vez, apenas com a intenção de comprar os rebuçados de funcho", contou Bruno Vieira.

O produto, acrescentou, começa a ombrear com o bolo de mel, o bolo do caco, a poncha e o vinho Madeira, embora a matéria-prima seja oriunda do continente, pois não há produção de funcho no Funchal, ainda que, supostamente, a cidade deva o nome à sua abundância na época do povoamento.

Em 2015, a empresa registou um crescimento global de vendas de 12% e, entre bolachas, broas, doces e compotas, o que mais se destacou foram os rebuçados, não apenas os de funcho, mas também os novos sabores, como mel de cana regional, maracujá, mel de abelha, tangerina, mango e gengibre.

"Queremos atrair novas gerações e novos clientes", explicou Bruno Vieira, num momento em que a loja era "invadida" por um grupo de jovens, portugueses e estrangeiros, que, embora não tendo comprado nada, tiraram muitas fotografias.

"A loja é uma coisa sagrada. Nisto, não se pode mexer", disse o gerente, acrescentando: "Mexer nesta loja era estragá-la, era um crime."