"Não nos podemos esquecer de que a ‘troika' [União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional] queria a privatização da CGD”, salientou Nogueira Leite, durante a sua audição na comissão parlamentar de inquérito ao banco estatal.

O ex-vice-presidente da Caixa disse que Teixeira dos Santos, ministro das Finanças do Governo Sócrates, "tinha negociado ‘in extremis' não privatizar a CGD, mas vender a maior parte do capital dos seguros" em 2011, no acordo relativo à ajuda financeira que Portugal recebeu da ‘troika' entre 2011 e 2014.

"Uma Caixa privada é uma Caixa que vai ser estrangeira", lançou, depois de assinalar o papel central que a entidade desempenha no sistema financeiro português e defender a sua manutenção na esfera pública.

Nogueira Leite criticou a capitalização da CGD feita pelo Governo de Passos Coelho, em 2012, tanto pelo montante, que considerou insuficiente (1,65 mil milhões de euros), como pelo recurso à emissão de instrumentos de dívida convertível (CoCo).

"Eu não acho bem que um banco público tenha sido capitalizado com obrigações contingentes. Ficámos numa situação de desvantagem face aos outros bancos", vincou, sublinhando que os rivais reforçaram o capital para devolver as ajudas de Estado recebidas ao abrigo do programa da ‘troika', ao contrário da CGD.

O gestor destacou que, apesar de se dizer que a Caixa nunca pagou os CoCo, os outros bancos só o fizeram por serem privados e poderem fazer aumentos de capital.

Sobre a operação de recapitalização da CGD que está agora em curso, superior a cinco mil milhões de euros, Nogueira Leite declarou que "não ter sido considerada [por Bruxelas] ajuda de Estado desta vez, e ter sido da outra vez [em 2012], foi uma grande vitória".

Ainda sobre o aumento de capital de 2012, Nogueira Leite disse que na altura "talvez não houvesse abertura" da ‘troika' para aceitar uma operação "inédita a nível europeu".

E rematou: "A ‘troika' tinha uma visão negativa do sistema financeiro português. Acenavam sempre com o facto de nós não termos capacidade para ter um banco público. Havia muito pouca boa vontade da ‘troika' para com os bancos portugueses".