Num 'briefing' na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, o porta-voz adjunto do secretário-geral, Farhan Haq, fez um ponto da situação em Moçambique, frisando que os ataques em Cabo Delgado, juntamente com eventos climáticos extremos, têm levado ao aumento de deslocados internos.

"O ACNUR alertou que o conflito e o deslocamento, agravados por eventos climáticos extremos, levaram ao aumento das necessidades de proteção -- física, material e legal -- para centenas de milhares de refugiados afetados, pessoas deslocadas internamente e pessoas das comunidades anfitriãs", disse Haq.

A agência das Nações Unidas observou ainda que desde o início deste ano Moçambique já foi atingido por cinco tempestades tropicais e ciclones ao longo das suas zonas costeiras do norte.

"Estas tempestades tiveram impacto em milhares de famílias, incluindo refugiados e pessoas deslocadas internamente pela violência em curso na província de Cabo Delgado, no norte. O ACNUR disse que isso ilustra mais uma vez como os efeitos das mudanças climáticas interagem com muitas das causas profundas do deslocamento", sublinhou o porta-voz.

O ACNUR detalhou que a violência continua a prejudicar a vida de cerca de 783 mil pessoas na província de Cabo Delgado. Apenas nestes primeiros meses de 2022, estima-se que 6.000 pessoas foram registadas como recém-deslocadas após o ressurgimento do conflito nas províncias de Cabo Delgado e Niassa.

"Essa violência impediu as agências da ONU e outros parceiros humanitários de ter acesso às pessoas necessitadas. Nas áreas que podem ser alcançadas, o ACNUR, outras agências da ONU e parceiros humanitários continuam a aumentar a atividade de proteção e assistência e enfatizam o quão vital é que possamos continuar a fazê-lo", concluiu Farhan Haq.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.

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