O debate prolongou-se durante seis horas e meia, com um longo protocolo de arranque, poucas questões colocadas e a eliminação, "por falta de tempo", como explicou o moderador, de perguntas em português, que estavam previstas.

Um corte a meio da transmissão e problemas com os microfones de vários candidatos suscitaram amplas críticas nas redes sociais e da parte de vários candidatos, que apontaram o dedo à CNE e à GMN TV, a televisão escolhida para o debate.

O debate foi divido em várias partes, com uma primeira introdução de cada candidato e uma pergunta diferente, sorteada, para cada um. Seguiram-se três perguntas colocadas por três membros de um painel escolhido pela CNE -- que os vários candidatos poderiam comentar -- e, finalmente, uma ronda com a mensagem final.

Grande parte do tempo foi passado com uma sucessão de monólogos em que a maioria das questões foram colocadas apenas a um candidato, sem oportunidade de contraditório.

Já antes do debate, vários candidatos contestaram a opção da CNE de atribuir os direitos dos debates à televisão privada, em vez da pública RTTL, com o organismo de supervisão a explicar que tomou a decisão olhando para critérios técnicos e financeiros.

Martinho Gusmão foi um dos mais críticos, considerado o debate "um desastre" e criticando a escolha da GMN, televisão que acusou de "crime eleitoral" por ter estado a transmitir uma alegada sondagem eleitoral.

"Não favoreceram os candidatos. No meu caso foi terrível e, para mim, uma parcialidade imperdoável. A CNE deveria ter procurado uma colaboração entre as várias televisões para fornecer um sinal conjunto, em vez de dar a transmissão a um canal que depois favorece mais um candidato", afirmou.

Martinho Gusmão considerou igualmente "inaceitável" a decisão de suspender, a meio do debate, a parte em português, e o formato de ter três convidados a fazer perguntas a três candidatos, "sem critério claro de escolha".

"Deveria ter havido um sorteio e dividir os candidatos para debates mais graduais, para não serem os 16 ao mesmo tempo", afirmou.

Francisco Guterres Lú-Olo, Presidente da República, e um dos que contestou a decisão formalmente junto da CNE , disse hoje à Lusa que sempre defendeu que "deveria ser a RTTL a fazer cobertura para transmitir até as aldeias e sucos [divisão administrativa], onde todos têm acesso".

"O formato também levanta dúvidas porque eram muitos candidatos e apesar de tantas horas de debate cada candidato teve cerca de 15 minutos. Não deu para responder às questões devidamente", vincou Lú-Olo.

Lere Anan Timur, outro dos candidatos, também criticou o debate, afirmando à Lusa que foi demasiado prolongado, especialmente na véspera dos comícios finais da campanha, em Díli.

"Cheguei a dizer que se continuasse mais tempo eu ia-me embora", disse, vincando que o debate deveria ter sido transmitido na televisão pública por ser de "interesse público" para todo o país.

Outro candidato, José Ramos-Horta recordou à Lusa que a decisão da CNE de atribuir o debate foi feita com base num concurso público, com a GMN "a oferecer melhores condições em termos de preço", notando que os problemas técnicos que surgiram demoraram imenso a ser resolvidos.

"Quando se chegou à parte das perguntas reservadas para português, já eram uma e tal da manhã e o pessoal estava cansado, o público tinha abandonado, e havia muitos protestos online sobre a demora, sobre qualidade do som e falhanços técnicos", disse o ex-Presidente.

Apesar de notar o esforço da CNE e da GMN, Ramos-Horta insistiu que deveria ter sido seguido outro modelo, com os 16 candidatos divididos, por sorteio, em vários debates, para permitir aprofundar os temas.

"Ontem não foi debate nenhum, foi cada um dizer umas tantas coisas que tiveram zero impacto na perceção do eleitorado", afirmou o Prémio Nobel da Paz em 1996.

Muito crítico mostrou-se igualmente Virgílio Guterres, que considerou que o formato foi mal escolhido, repetindo as críticas à escolha da GMN para transmissão e a opção de fazer o debate "até às 2:30 da manhã" na véspera de um dia cheio de ações de campanha.

"Não foram feitos testes aos microfones e, por isso, o eleitorado não conseguiu ouvir grande parte da minha intervenção", afirmou o candidato.

"As perguntas foram demasiado monótonas, não são perguntas de fundo que tocam questões de fundo. Não houve nada, por exemplo, sobre relações internacionais, uma das competências do Presidente. Consumiu-se muito tempo a falar de temas que não estão relacionados com a função do Presidente", vincou.

A campanha termina hoje e a votação decorre no sábado.

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