Depois de uma missa em Rui Vaz, a localidade mais próxima do destacamento, presidida pelo cardeal e bispo de Santiago, D. Arlindo Furtado, dezenas de pessoas, entre familiares, amigos, curiosos, militares e altas entidades cabo-verdianas, dirigiram-se a Monte Txota.

Foi no local onde há um ano o então soldado Manuel Silva Ribeiro, mais conhecido por Entany, matou 11 pessoas, sendo oito militares e três civis, dois deles de nacionalidade espanhola.

À chegada a Monte Txota, um miradouro de Santiago, com 1.050 metros de altitude, os familiares das vítimas não aguentaram o choro, muitos deles na primeira vez que subiram ao monte, onde há sete torres com antenas da rádio, televisão e comunicações, naquele que é considerado o ponto nevrálgico das telecomunicações do país.

No pátio do destacamento militar, o ministro da Administração Interna de Cabo Verde, Paulo Rocha, e o chefe do Estado Maior das Forças Armadas cabo-verdianas, Anildo Morais, descerraram uma placa e depositaram coroas de flores num memorial de homenagem às vítimas.

O memorial grava os nomes de todos os militares e os três civis mortos, uma âncora e com o escrito "Fuzileiro uma vez, fuzileiro sempre".

A Embaixada da Espanha em Cabo Verde e os familiares das vítimas também depositaram flores na lápide, que para o soldado Joel Lopes relembra os "companheiros de luta" que foram "traídos", mas disse que o caso não abalou a "irmandade" nas Forças Armadas.

Vítor Martinez, filho de um dos civis espanhóis, Ângelo Martinez Ruiz, disse que ainda sente muita dor pela "falta" do pai e está também chateado pelos acontecimentos.

Agradecendo a homenagem do Estado cabo-verdiano, Vítor Martinez, afirmou, entretanto, que com o tempo vai recuperando da dor da perda do pai, que era técnico de uma empresa que prestava serviço no posto militar.

Consternada e de poucas palavras, Cátia Correia, irmã de um dos militares, também agradeceu a homenagem, considerando ser a "única coisa" que o país pode fazer para os familiares, que têm recebido pensões mensais de sobrevivência do Governo entre os 200 e os 360 euros.

O chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Anildo Morais, enalteceu a "dignidade" e "importância" da homenagem no primeiro ano do "incidente hediondo e sem precedentes" no país.

Anildo Morais, que sucedeu a Alberto Fernandes, que colocou o cargo à disposição na sequência das mortes, recordou o "triste episódio" que provocou consternação e dor no país, mas que levaram as Forças Armadas a tirar as "lições necessárias".

Por sua vez, o ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, recordou as mortes de Monte Txota como "um dos momentos mais negros da história recente de Cabo Verde", mas salientou que "não deve beliscar a grandeza" das Forças Armadas, mas sim "reforçar a coesão nacional".

Dizendo que o monumento pretende "refletir o sentir silencioso" após um ano das mortes, o ministro garantindo que o Governo cabo-verdiano vai continuar a prestar o seu "apoio incondicional" aos familiares das vítimas.

"Nada permaneceu igual na memória coletiva deste povo, que se sentiu atacado na mais profunda crença de que somos, no final das contas, todos irmãos", afirmou o ministro.

O autor confesso da morte das 11 pessoas, Manuel Silva Ribeiro, foi condenado no dia 03 de novembro do ano passado a 35 anos de cadeia pelo coletivo de juízes do Tribunal Militar.

RYPE // JPF

Lusa/Fim