Em entrevista à Bloomberg, o diretor dos Serviços de Inspeção e Coordenação de Jogos (DICJ), Paulo Martins Chan, disse que a projeção do Governo de crescimento zero das receitas de jogo para o próximo ano foi "apenas cautelosa" por causa do abrandamento da economia chinesa, da depreciação da moeda chinesa e das incertezas em torno de uma nova administração dos Estados Unidos.

Macau cobra 35% de impostos diretos sobre as receitas dos casinos e 4% em indiretos, pelo que -- com base na estimativa do que irá arrecadar em impostos -- prevê, no Orçamento para 2017, que as receitas do jogo sejam de 200.000 milhões de patacas (23.340 milhões de euros), menos 13% relativamente às estimativas de cinco analistas consultados pela Bloomberg.

Trata-se de uma projeção sensivelmente idêntica à apresentada para o corrente ano, que se revelou conservadora, dado que esse valor foi já superado nos primeiros 11 meses do ano (203.395 milhões de patacas ou 24.002 milhões de euros).

"As receitas de jogo devem ter uma evolução estável no próximo ano e, espera-se, ascendente", afirmou o diretor da DICJ, sublinhando que "Macau começou a ver um crescimento saudável e sustentável".

O Executivo de Macau tem defendido e apostado na diversificação do próprio setor, tradicionalmente dependente dos grandes apostadores chineses, o chamado segmento VIP, voltando os holofotes para o mercado de massas.

"Vamos trabalhar mais na diversificação económica", disse Paulo Martins Chan, salientando: "Se dependermos apenas de um pequeno grupo de clientes VIP estaremos em risco quando a economia flutuar".

Apesar da aposta no segmento de massas, o jogo VIP continua a representar mais de metade das receitas dos casinos de Macau.

Segundo os dados mais recentes da DICJ, entre janeiro e setembro, as receitas do segmento VIP (angariadas nas salas de grandes apostas) ascenderam a 85.627 milhões de patacas (9.737 milhões de euros), correspondendo a 52,59% dos 162.792 milhões (18.513 milhões de euros) arrecadados pelos casinos.

No cômputo de 2015, a proporção do jogo VIP nas receitas totais dos casinos foi de 55,3%; enquanto em 2014 correspondeu a 60,4%.

As receitas dos casinos subiram em novembro pelo quarto mês consecutivo naquele que foi o primeiro crescimento a dois dígitos, depois das subidas em outubro (8,8%), setembro (7,4%) e agosto (1,1%), registadas após 26 meses consecutivos de diminuições anuais homólogas.

Em meados de setembro, a agência de notação financeira considerou ser improvável uma "recuperação em V", isto é, que à forte contração registada sucedesse uma forte recuperação e estimou que o setor do jogo estaria a aproximadamente a uma década de atingir o pico das receitas alcançado antes da contração.

As receitas dos casinos de Macau fecharam 2015 com uma queda de 34,3% face a 2014.

Tratou-se do segundo ano consecutivo de diminuição das receitas de jogo depois de, em 2014, terem diminuído 2,6%.

Arrastada pelo desempenho do setor do jogo, a economia de Macau entrou em queda no terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China, em 1999, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu (-1,2%, segundo dados oficiais revistos publicados no mês passado).

Ao fim de dois anos de contração, a economia voltou a crescer no terceiro trimestre deste ano, com o PIB a aumentar 4% face ao mesmo período de 2015.

O Fundo Monetário Internacional estimou em outubro que o PIB de Macau irá cair 4,7% este ano, uma contração menor do que os 7,2% estimados em abril.

Já no próximo ano espera que a capital mundial do jogo regresse ao crescimento (0,2%).

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