Esta descida, novamente de cerca de cinco por cento face à semana anterior, foi constatada pela Lusa hoje, na habitual ronda semanal pelas ruas de Luanda, e acentua a tendência de quebra da cotação de moeda estrangeira no mercado informal desde os primeiros dias do ano.

Este novo mínimo contrasta com o pico de 500 kwanzas (2,85 euros) por cada dólar dos primeiros dias de janeiro, no mercado de rua, enquanto continuam as limitações no acesso a divisas nos bancos, inclusive nas contas em moeda estrangeira, tornando a venda paralela, para muitos nacionais e estrangeiros, a única forma de aceder a dólares ou euros em Angola.

Os empresários que necessitam de importar matéria-prima estão agora obrigados a dirigir uma carta ao Ministério da Indústria para solicitarem divisas nos bancos, enquanto os não residentes cambiais já não podem levantar moeda estrangeira nas próprias contas, por determinação do banco central.

Na ronda feita hoje pela Lusa, as 'kinguilas' de Luanda, como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, atividade ilegal, explicam a consecutiva quebra da cotação do mercado informal com a falta de kwanzas suficientes para realizar as trocas, valorizando dessa forma a moeda nacional.

A venda de cada dólar está hoje fixa nos 340 kwanzas no bairro do São Paulo (370 na semana anterior) e nos 350 kwanzas no bairro dos Mártires de Kifangondo (365 kwanzas). Na Mutamba, a nota de dólar norte-americano é transacionada a 340 kwanzas (380 kwanzas), o mesmo preço do praticado pelas 'kinguilas' do Maculusso (380 kwanzas).

Face à falta de dólares nos bancos, as taxas de rua já estiveram próximas dos 600 kwanzas por cada dólar em agosto e julho, depois de máximos de 630 kwanzas em junho.

A Lusa noticiou este mês que Angola tinha em circulação, em janeiro, notas e moedas no valor de 447.718 milhões de kwanzas (2.500 milhões de euros), uma quebra de 10% no espaço de um mês que também justifica a valorização da moeda nacional no mercado paralelo.

De acordo com dados do Banco Nacional de Angola (BNA) a que a Lusa teve acesso, sobre a Base Monetária Ampla do país, entre dezembro e janeiro deixaram de estar em circulação (física) no país 48.661 milhões de kwanzas (mais de 275 milhões de euros).

Em Luanda desde quarta-feira, para contactos prévios com as autoridades angolanas no âmbito das consultas anuais, o chefe da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) para Angola, Ricardo Velloso, admitiu que a retirada de circulação de moeda nacional é uma medida positiva, pelas repercussões no corte nas taxas de câmbio no mercado paralelo, que permanecem em mais do dobro do valor oficial.

"É uma medida muito importante, que ajuda no controlo da inflação e ajuda a reduzir o diferencial entre a taxa de câmbio do mercado de rua e a taxa oficial", destacou o chefe da missão do FMI, questionado pela Lusa.

Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre de 2016.

A taxa de câmbio oficial cifra-se atualmente em cerca de 166 kwanzas (95 cêntimos de euro) por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

PVJ // FPA

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