"A informação de setembro [em que a taxa de inflação foi de 2,98%] vem no sentido descendente da minha última previsão de que a inflação iria ficar entre 2,3% e 2,7% este ano. Muito provavelmente será à volta de 2,55%", disse à agência Lusa o economista, apontando ser "muito provável que a inflação fique abaixo do número de 2010, mas não abaixo dos 2%".

A taxa de inflação de Macau em 2015 foi 4,56%, a mais baixa desde 2010, ano em que se fixou em 2,81%. Em 2014, fixou-se em 6,05%, contra 5,50% em 2013, 6,11% em 2012 e 5,81% em 2011. Para encontrar uma inflação anual inferior a 2% seria preciso recuar até 2009, ano em que foi de 1,18%.

Uma taxa inferior a 3% seria "bom", dado que esse constitui o patamar acima do qual é considerada "preocupante" em qualquer país, apontou Albano Martins.

"Todos os números acima de 3% são preocupantes em qualquer economia. É uma ilusão muito grande do poder de compra. Macau já chegou a ter números elevadíssimos, portanto, vem, de certo modo, no mesmo sentido do arrefecimento da economia", sublinhou, notando que o efeito "levou algum tempo a chegar", porque "o arrefecimento da economia já se faz desde 2014".

"Só agora é que chegou, mas chegou devido a vários fatores, entre os quais, de certo modo, a queda do imobiliário e o efeito das medidas tomadas pela China de tentativa de arrefecimento da economia de Macau através do jogo", observou o economista, para quem "a inflação começa a estar coerente com a situação económica em geral" da Região Administrativa Especial chinesa.

Segundo os cálculos de Albano Martins, os níveis de inflação manter-se-ão como atualmente até à primeira metade do próximo ano, "mas depois vão gradualmente continuar a subir".

Apesar de salientar que uma inflação até 3% é "tratável", Albano Martins adverte que quem tem depósitos no banco vai "continuar a sentir uma perda do poder de compra real da moeda, porque a inflação continua a ser bastante superior às taxas de juro".

"É um apelo para que as pessoas invistam na economia real e não na economia monetária, porque como as taxas de juro são baixíssimas, as pessoas vão tentar procurar outra aplicação das suas poupanças que seja capaz de gerar um valor superior à taxa de inflação, e isso é natural e saudável sobretudo quando a economia está em quebra", afirmou.

Arrastada pelo desempenho do setor do jogo -- a principal fonte de receita pública -- a economia de Macau encontra-se em queda desde o terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China, em 1999, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu (-0,9%).

Em 2015, o PIB caiu 20,3% e no primeiro semestre deste ano contraiu-se 10,3% em termos anuais homólogos.

A indústria do jogo de Macau esteve em queda entre junho de 2014 e julho deste ano, devido, segundo analistas, aos efeitos da campanha anticorrupção lançada por Pequim, ao golpe de confiança infligido por uma série de desfalques nas salas de jogo VIP (de grandes apostadores) -- que ainda representam mais de metade das receitas do setor -- e ao abrandamento da segunda economia mundial.

Em setembro, as receitas dos casinos registaram a segunda subida mensal consecutiva, em comparação com o mesmo período de 2015, mas analistas e operadores de jogo consideram ainda precoce falar numa reversão da tendência de contração.

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