"O camarada Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, tinha manifestado o interesse de estar connosco, aqui, neste congresso. Por razões alheias à vontade dele, não pôde estar aqui connosco, só amanhã [sábado] virá uma representante do PAIGC para estar connosco no congresso. Isso aconteceu num contexto meio estranho. Estranho porque o PAIGC foi impedido de realizar o seu congresso a 19 de março", afirmou Rui Semedo, no discurso de abertura do congresso do PAICV, na cidade da Praia.

Em causa está o 10.º congresso do Partido Africano da Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC, oposição), que devia ter acontecido, em Bissau, de 19 a 21 de março últimos, com 1.400 delegados esperados, mas que não se realizou após a intervenção da polícia.

Fonte do Ministério do Interior disse na ocasião à Lusa que a Polícia de Intervenção Rápida (PIR) foi mandada à sede do PAIGC para "fazer cumprir a lei", na sequência de uma determinação do juiz que está a apreciar o contencioso judicial entre o militante Bolom Conté e o partido.

"Em Democracia, há armas claras, há normas, há princípios, há valores. Em Democracia, as disputas têm que ser feitas com base em regras. E em Democracia não podem ser instrumentalizadas instituições para impedir que atores políticos possam exercer de forma livre o seu papel enquanto partido, enquanto organização política", disse ainda Rui Semedo.

"Daqui deste púlpito e daqui da cidade da Praia, queríamos endereçar ao camarada Domingos e ao PAIGC o nosso abraço de solidariedade e dizer claramente que nós repudiamos todos os atos que ponham em causa o exercício livre da política, o funcionamento livre dos partidos políticos", acrescentou o líder do PAICV, recordando a génese dos dois partidos, o nacionalista Amílcar Cabral.

O PAICV reúne até domingo, no edifício da Assembleia Nacional, na Praia, o XVII congresso nacional, durante o qual 381 delegados vão apreciar a moção de estratégia do novo líder, Rui Semedo, eleito em dezembro.

O congresso do maior partido da oposição em Cabo Verde, que esteve no poder de 2001 a 2016, prevê a eleição do Conselho Nacional, Comissão Política e da Comissão Nacional de Jurisdição e Fiscalização, que assim se juntam ao presidente eleito, para conduzir os destinos do PAICV nos próximos três anos.

A agenda da reunião do órgão máximo do partido, com o lema "Juntos por Cabo Verde", prevê a apreciação da Moção de Estratégia de Orientação Política Nacional para o triénio 2022-2025, já sufragada na última eleição direta para o cargo de presidente do PAICV, realizada em 19 de dezembro de 2021, em que Rui Semedo foi o único candidato.

Cabo Verde encerrou, em 17 de outubro de 2021, com eleições presidenciais -- que elegeram à primeira volta o antigo primeiro-ministro e antigo líder do PAICV José Maria Neves como Presidente da República - o ciclo eleitoral iniciado em 25 de outubro de 2020, com eleições autárquicas.

Seguiram-se as eleições legislativas em 18 de abril do ano seguinte, em que o Movimento para a Democracia (MpD) revalidou a maioria absoluta, o que levou a então líder do PAICV, Janira Hopffer Almada, a apresentar a demissão, antecipando a escolha de um novo presidente e dos novos órgãos do partido.

O próximo ciclo eleitoral em Cabo Verde deverá iniciar-se em finais de 2024, prosseguindo dois anos depois com a realização de legislativas e presidenciais.

São esperados no congresso cerca de uma centena de convidados e representantes de partidos políticos estrangeiros, nomeadamente da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), segundo a organização.

O presidente do Partido Socialista (PS) de Portugal, Carlos César, e o secretário do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) para as Relações Internacionais, Manuel Domingos Augusto, são alguns dos representantes dos partidos estrangeiros presentes na Praia.

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