Citando Bob Dylan, Álvaro Sobrinho disse que "os tempos estão a mudar" e "podem desaparecer os fatores que fazem com que as relações entre Europa e África sejam biunívocas", com o cada vez menor recurso a combustíveis fósseis pela Europa, em prol das renováveis, mas também pelo facto de a língua já não ser uma barreira aos negócios em África.

"É provável que as reservas petrolíferas de África se tornem um ativo bem menos valioso nas suas relações económicas com a Europa nas próximas décadas. Por outro lado, a língua é cada vez menos uma barreira nas relações de trabalho, porque os avanços tecnológicos facilitam a aprendizagem e tradução e é cada vez mais comum ver técnicos e CEO [presidente executivo] em África que não falam a língua local", declarou o antigo diretor do Banco Espírito Santo (BES) Angola, cuja operação é apontada como um dos fatores da queda do BES, tendo sido chamado à comissão de inquérito ao BES, no final de 2014.

No debate sobre "Educação, Instituições e Economia - A base das relações (biunívocas) entre África e Europa", promovido pelo International Club of Portugal, em Lisboa, Álvaro Sobrinho defendeu que "é concebível que nas próximas décadas o mercado de profissionais capazes de trabalhar em África se expanda significativamente além da Europa", uma vez que a língua deixa de ser um fator preferencial.

Em causa estão as relações entre Angola e Portugal, Senegal e França e as Filipinas e Inglaterra, lembrando que os três países europeus intervêm de forma diferente em África.

"Quando a Europa não se consegue entender, dificilmente consegue ter uma estratégia para África", lançou, admitindo que "as relações entre a Europa e África são algo" que o preocupa e que os dois continentes "deviam fortalecer as relações de benefício mútuo".

Para o empresário, "Europa e África têm que fazer maior esforço para assegurar que as relações continuem a ser biunívocas ou arriscam-se a enfraquecê-las. As relações entre os dois continentes têm que ir além dos temas económicos e abranger a educação e as instituições".

"É preciso encontrar novas formas de os dois continentes oferecerem valor um ao outro", disse, referindo a necessidade de apoiar África, alavancar a população jovem, quer acolhendo e formando jovens africanos, quer através do envio de formadores para África para ensinarem os jovens africanos.

Naquela que foi a "primeira conferência em Portugal", Álvaro Sobrinho explicou o trabalho que desenvolve enquanto presidente da Planet Earth Institute (PEI), organização internacional que ajudou a fundar e que trabalha para a independência científica de África, tendo recebido por parte da plateia várias manifestações de apoio para a causa, de recursos humanos até apoio financeiro e logístico.

O convidado mostrou-se "surpreendido pela disponibilidade para ajudar", revelada pelos presentes no almoço-debate do International Club of Portugal, de que passou a ser sócio honorário vitalício.

JNM // CSJ

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