"Significa mudança de paradigma em relação a quem pode ocupar cargos de representação do Estado em Moçambique", disse Domingos, em declarações aos jornalistas, na cidade da Beira, capital da província de Sofala, centro do país.

A decisão do Presidente da República, Filipe Nyusi, representa um corte na tradição de apenas membros da Frente de Libertação de Moçambique (Frelmo), partido no poder, ocuparem altos cargos na hierarquia do Estado moçambicano.

"Foi preciso coragem da parte do Presidente da República", porque, habitualmente, "só pessoas pertencentes ao partido no poder, o partido ganhador de eleições, é que eram indicadas para esse tipo de cargos", acrescentou.

Raul Domingos salientou que a sua indicação para o posto de embaixador de Moçambique na Santa Sé concretiza o discurso de inclusão que tem sido reiterado por Filipe Nyusi.

"Ele [o chefe de Estado] partiu agora para demonstrar, na prática, o que é que isso significa, portanto, trazendo alguém da oposição para representar o Estado na qualidade de embaixador", enfatizou aquele político.

Sobre as expectativas em relação à sua missão no Vaticano, Raul Domingos avançou que vai fazer consultas a diversas entidades sobre o papel que vai desempenhar.

O representante pessoal do secretário-geral da ONU para o processo de paz em Moçambique, Mirko Manzoni, considerou hoje "histórica" a nomeação de Raul Domingos para embaixador na Santa Sé, a primeira vez que um opositor ocupa um cargo do género no país.

"É um momento histórico para o país, pois marca a primeira vez que um membro da oposição é nomeado embaixador. Um cenário inimaginável há poucos anos", disse Manzoni, em comunicado.

Para o diplomata, a indicação de Raul Domingos "é mais uma evidência dos avanços que têm sido feitos pelo Governo para construir um Moçambique mais inclusivo e é um exemplo do compromisso contínuo com o processo de paz e reconciliação nacional".

O Presidente moçambicano nomeou na segunda-feira Raul Domingos, antigo dirigente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, embaixador extraordinário e plenipotenciário na Santa Sé.

Domingos foi chefe da equipa da Renamo nas negociações com o Governo da Frelimo, para o Acordo Geral de Paz, assinado em 1992, em Roma.

As negociações contaram com a mediação da Comunidade de Sant´Egídio, entidade ligada à Igreja Católica.

Após as primeiras eleições multipartidárias na história de Moçambique, em 1994, Raúl Domingos chefiou a bancada do principal partido da oposição na Assembleia da República, mas acabou sendo expulso da Renamo, após desentendimentos com o então líder do movimento Afonso Dhlakama, na sequência das eleições gerais de 1999.

Depois de sair da Renamo, fundou o Partido para a Democracia e Desenvolvimento (PDD), uma força política extraparlamentar que nunca conseguiu eleger representantes para órgãos eletivos nacionais.

O político é conselheiro de Estado por nomeação do atual chefe de Estado moçambicano.

A sua nomeação para embaixador tem sido muito comentada no país, por ser a primeira vez que uma figura da oposição é apontada para um cargo do género e onde os lugares de topo na hierarquia do Estado moçambicano são quase exclusivamente ocupados por militantes da Frelimo.

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