"Está em forja a criação de um amplo movimento nacional para concorrer às eleições legislativas numa perspetiva de unir as forças políticas e abrindo espaço às pessoas que nunca se filiaram em partido nenhum ou que já estiveram em partidos outros, mas que por uma razão ou outra estão afastados", afirmou, em entrevista à Lusa em Lisboa.

O objetivo, disse, "é acolher todas essas sensibilidades porque o país precisa".

"Juntos somos mais fortes e somos capazes. Dispersados, dificilmente vamos conseguir unir as forças e unir o país", referiu o presidente da Assembleia Nacional e dirigente do Partido de Convergência Democrática (PCD), que, juntamente com o Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social-Democrata (MLSTP/PSD) e a coligação UDD/MDFM, integra a chamada 'nova maioria', que suporta o Governo de Jorge Bom Jesus (MLSTP).

"Se houver esse movimento e se isso se concretizar, eu estarei lá", garantiu.

Delfim Neves não revelou, no entanto, se irá concorrer como cabeça de lista nas eleições legislativas que se realizam em 25 de setembro, a par das autárquicas e regional da ilha do Príncipe.

"Não sei se vou ser cabeça de lista porque não gosto de mandar nas coisas que não têm dono, porque é um movimento amplo. É terra de ninguém, ninguém pode impor, mas sim o coletivo analisará e saberá quem deverá liderar o grupo e assumir essa responsabilidade", referiu.

Para Delfim Neves, o país tem vindo a assistir a uma tendência de bicefalismo partidário, entre os partidos da 'nova maioria' e a Ação Democrática Independente (ADI, do ex-primeiro-ministro Patrice Trovoada, atualmente na oposição), mas com fracos resultados.

Patrice Trovoada liderou o Governo entre 2014 e 2018, sendo o primeiro, desde o início do multipartidarismo, no início da década de 1990, a conseguir concluir um mandato, e o atual executivo de Bom Jesus está a seis meses de terminar os quatro anos de governação.

"Grande parte das pessoas diz que já não acredita muito em nenhum dos partidos que existem em São Tomé e Príncipe. É uma deceção total. Todos falharam e ninguém pode vir aqui vangloriar-se que fez mais ou que fez menos", sublinhou Delfim Neves.

"Se anteriormente o argumento de não fazer era a instabilidade política (...) isto está completamente ultrapassado, nem um nem outro tem mais este argumento", acrescentou.

Segundo Delfim Neves, "é exatamente essa terceira via que se precisa para, primeiro, impedir essa bipolarização tendencial que se está a forjar e, segundo, porque esta terceira via será sim uma alternativa para se testar efetivamente se os quatro anos são pouco ou se a incompetência é que tem sido a maior causa do subdesenvolvimento de São Tomé e Príncipe".

Questionado sobre que partidos poderão integrar este movimento, o presidente do parlamento salientou que atualmente várias formações políticas são-tomenses estão a realizar os seus congressos para se posicionarem para o próximo ciclo eleitoral.

"Depois de concluído o processo dos congressos todos, vamos saber exatamente quais são os partidos que querem integrar este movimento, quais são as pessoas da sociedade civil que queiram participar. E, aí sim, vamos tomar uma decisão", afirmou.

A hipótese de uma coligação pré-eleitoral com o MLSTP está excluída.

"Garanto que com o MLSTP não vamos juntos. O MLSTP é um partido com a sua implantação, um partido que sempre concorreu a eleições de forma separada e dificilmente faz coligações pré-eleitorais e não somos nós que vamos propor isso, quando sabemos de antemão que dificilmente o MLSTP irá aceitar", explicou, admitindo, no entanto, a possibilidade de renovação da 'nova maioria', mas através de acordos pós-eleitorais.

"Este movimento será concorrente de todos, de todos os outros partidos e todas as outras forças. Vamos discutir, vamos apresentar todos os programas, vamos dizer ao povo o que queremos e o que podemos fazer. (...) O povo deve fazer essa escolha porque o povo já fez as outras duas escolhas e sabe qual foi o resultado", salientou.

Delfim Neves, que na primeira volta das eleições presidenciais de julho passado ficou em terceiro lugar e denunciou "fraude maciça" na votação, garante que, agora, vai "lutar" pelo cumprimento da lei eleitoral.

Segundo o responsável, a lei prevê que todas as mesas eleitorais tenham representantes de cada candidato, mas o que aconteceu nas presidenciais foi que apenas cinco representantes estavam em cada mesa eleitoral, deixando muitos candidatos apenas com delegados ou mesmo sem representação e, por isso, sem possibilidade de apresentar reclamação, que deve ser feita junto da mesa eleitoral.

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