Recordam-no como "um herói", sem saber o seu nome, referiu à Lusa Avelino Campange, secretário do bairro Chingozi.

Na manhã de terça-feira, quando o caudal subiu repentinamente, viram-no correr para salvar o chefe de batalhão, a quem estendeu a mão, conta.

Depois avançou pelo bairro onde a água subia a cada segundo, para ajudar mais habitantes, mas quando se preparava para prestar ajuda, "escorregou e caiu", relatou Campange à Lusa.

Ninguém mais o viu no meio da água turva.

"Isto aconteceu na unidade de Nhacumbi, nome de riacho que desagua no Revuboé" e que desta vez foi fatal, diz o secretário de bairro.

Chingozi é o bairro mais populoso de Tete, um subúrbio composto por várias unidades administrativas e encalhado entre os rios Rovuboé e Zambeze, com 58 quarteirões.

A maioria ficou submersa durante as inundações, que esventraram tudo.

A marca mais visível na paisagem está na ponte sobre o Revuboé, importante ligação rodoviária, partida ao meio, sinal da força das águas.

As correntes surgiram em poucos minutos na terça de manhã e instalaram-se, recorda Pedro Jonesten, morador.

"Nem deu tempo para apanhar as coisas que queríamos", relata, com o olhar angustiado de quem viu os seus bens arrastados pela água, mesmo à frente dos seus olhos.

E ficam os relatos de mortes a multiplicarem-se.

A poucos metros da casa de Marta Tivane, quatro crianças morreram afogadas.

"A mãe tentou colocar alguns bens a salvo, mas quando regressou, a casa já estava inundada" e já não consegui agarrar os filhos, contou, suspeitando que a contagem das vítimas ainda esta longe de terminada.

Agora, tenta sair do mar de lama que se formou em frente à sua casa.

Lá dentro, a água chegou até ao teto e pelo chão há mais lama, a mesma que enche carteiras, cobre roupa e mobiliário.

A casa ficou de pé, mas outras nas imediações não aguentaram e foi por entre essas que andou Inácio Cambé, chefe de quarteirão.

Durante os dias de tempestade, que só hoje amainou, conseguiu salvar 20 pessoas e ainda deu abrigo a 10 na sua esquálida casa.

"Tinha acabado de acordar, ainda a pensar no plano do dia, quando ouvi gritos de pessoas a dizer 'água, água'. Corremos e algumas casas já estavam dentro de água", recorda.

Seguiu-se uma "luta contra a corrente" e, ao mesmo tempo, a "avisar as pessoas para pelo menos salvarem a vida".

O número de mortes provocadas pela tempestade tropical Ana em Moçambique subiu hoje para 20, segundo dados das autoridades locais e proteção civil, e a população vive por entre um rasto de destruição em vários distritos do norte e centro.

O país enfrenta a época ciclónica sazonal e a tempestade tropical Ana - que, entretanto, perdeu força e se transformou numa depressão - foi a primeira e única até ao momento a atingir o país.

AYAC/LFO // PJA

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