A Acreditar – Associação de Pais e Amigos das Crianças com Cancro nasceu formalmente no dia 14 de outubro de 1994. Há 28 anos, portanto. E nasceu por causa de uma injustiça.

Porque há sempre injustiça se houver mais sofrimento por serem piores as circunstâncias sociais de um doente e da sua família.

Não se pode falar evidentemente de injustiça na doença propriamente dita, mas há injustiça quando se tem, ao mesmo tempo, que lidar com ela e com o agravamento de dificuldades económicas e sociais.

E, mesmo para os que tinham antes da doença uma vida equilibrada, os longos períodos de internamento e tratamento impõem muitas vezes o desemprego de um dos pais, deslocações prolongadas e despesas acrescidas insuportáveis.

E há também injustiça quando não há de todo um ombro para desabafar.

Ou se não tem acesso a um conselho necessário.

Quando, pelo meio da doença de um filho, há ainda solidão ou absoluta falta de tempo para um intervalo de descompressão.

Foi por isso que nasceu, há 28 anos, a Acreditar.

Para apoiar as famílias das crianças a quem é diagnosticado cancro, no que vai para lá do tratamento da doença em si.

E o que se conseguiu mudar entretanto foi notável.

Garantiu-se o apoio emocional promovido por centenas de voluntários devidamente preparados.

Assegurou-se apoio económico nos casos referenciados pelos Serviços Sociais.

Disponibilizou-se um programa de escolaridade para que as crianças possam continuar com os estudos durante o tempo dos tratamentos.

Publicaram-se numerosas edições com informação clara e simples.

Ofereceu-se diverso material aos hospitais.

Organizaram-se viagens e campos de férias.

Promoveram-se várias alterações legislativas, entre as quais, por exemplo, a recente sobre o alargamento do período do luto parental.

Em Outubro de 2002, atingiu-se um dos grandes objectivos, que foi a inauguração da primeira Casa, dando alojamento gratuito às famílias que vivem longe do hospital onde os filhos recebem tratamento. Foi em Lisboa.

Estas Casas existem hoje, para lá de Lisboa, em Coimbra e no Porto.

Vive-se ali um ambiente confortável, que permite, de alguma forma, reorganizar a vida familiar depois das horas passadas nos hospitais entre exames e tratamentos.

Naquelas situações, faz toda a diferença.

Pela Casa Acreditar de Lisboa já passaram cerca de 1.700 famílias.

A maior parte destas pessoas vêm da Madeira, Açores, Algarve e Alentejo.

Mas recebe igualmente as crianças que vêm dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), ao abrigo dos acordos de cooperação com o Estado e, neste momento, também uma família vinda em fuga da Ucrânia.

Com o passar dos anos a capacidade desta Casa de Lisboa veio a tornar-se insuficiente, com permanentes situações de listas de espera a que não se conseguia dar resposta.

A ampliação está neste momento em curso e passará a ter 32 quartos (anteriormente tinha 12).

A construção e a manutenção destas Casas assenta em contributos individuais de pessoas e de empresas.

Dando tempo em voluntariado ou apoiando financeiramente.

Boas vontades quotidianas que têm construído, ano após ano, uma obra sólida com frutos extraordinários.

O apoio do Estado é marginal.

As obras da Casa de Lisboa são agora uma grande prioridade. Esta ampliação é uma necessidade que vai ajudar muita gente que precisa de ser ajudada.

É um investimento grande e, mais uma vez, pago só com recurso a mecenato.

E, com o apoio de todos, vai-se certamente conseguir levar mais este barco a bom porto.

Tem sido sempre assim porque existe esta história de 28 anos de trabalho com uma notável sensibilidade e eficácia de meios.

É uma história que, no fim de contas, tem sido a soma de muitas respostas individuais a esta pergunta: o que é que eu posso fazer?

Fazer o que é preciso e está ao nosso alcance, melhorando com isso vidas concretas.

Reduzindo a injustiça.

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A Acreditar existe desde 1994 com o objectivo de minimizar o impacto da doença oncológica na criança, no jovem e na sua família. Presente em quatro núcleos regionais: Lisboa, Coimbra, Porto e Funchal, dá apoio em todos os ciclos da doença e desdobra-se nos planos emocional, logístico, social, jurídico entre outros. Em cada necessidade sentida, dá voz na defesa dos direitos das crianças e jovens com cancro e suas famílias. A promoção de mais investigação em oncologia pediátrica é uma das preocupações a que mais recentemente se dedica.