Vinda de onde vem, a conversa faz-me lembrar os recorrentes debates sobre a pena de morte - sempre acordados quando há um daqueles crimes que nos revolvem as entranhas e deixam em causa a mais pacifica forma de entender a vida.
Em ambos os casos, o que está em causa é mais básico e simples. E tem um nome: legitimidade. O Presidente eleito Donald Trump, por mais ameaçador que nos pareça (e parece!), por mais improvável que o vejamos naquele lugar (e é!), por mais imprevisível que seja (e é!), chega ao mais poderoso lugar do planeta com legitimidade e uma legião de apoiantes que faz inveja ao mais miserável ditador que por aí rasteje.
Pode custar a aceitar, mas a maioria que elegeu Barack Obama é basicamente a mesma que escolheu Trump - a população que nos habituámos a ver e considerar como uma “nova geração”, indiferente à cor da pele ou ao sexo, moderna e sabendo olhar o futuro. Conforme o seu voto, assim vamos nós atrás dos seus encantos ou desencantos. Em escassos cinco anos, esta massa humana não poderia mudar, nem morrer e renascer. Mas podia fartar-se…
Uma vez mais, a ocasião faz o ladrão - e Trump aproveitou o momento. Resta-nos aceitar o veredicto e admitir que os revezes da democracia são também as suas glórias, e que o sistema está desenhado para que o fantasma do passado recente não volte a pairar sobre um regime democrático.
O mesmo é válido para as ameaças que preocupam a Europa, e que parecem uma repetição dos piores traumas com que viveram os nossos pais e avós. O ser humano pode não ter mudado muito - mas o regime criou mecanismos que tomam conta das tentações mais perigosas. Talvez por isso, entro no comboio daqueles que vêm Donald Trump na presidência dos EUA como um tropeção do regime, um erro, um “bug”, que a História se encarregará de corrigir. Se calhar em menos de cinco anos.
E visto assim, o erro é um passo em frente no sentido de aperfeiçoar o regime, de o tornar menos vulnerável, e de não fazer de uma maioria fantástica - a que elegeu Obama -, uma maioria menor, que ninguém quer saber de onde veio. Porque veio do mesmo lugar para onde irá…
Olhares sobre um país no centro do Mundo
Para a revista Time, e face a um generoso conjunto de dados, a América que agora consagra Donald Trump é muito diferente daquela que, há oito anos, escolheu Barack Obama. Ainda que os cidadãos sejam os mesmos…
Aos olhares menos atentos, a relação de Donald Trump com os jornais e os jornalistas parece péssima e sempre em oposição. O Washington Post vem contrariar esta ideia, demonstrando o amor dos tablóides pelo novo Presidente. E vice-versa…
Excelente matéria da revista Newsweek sobre as consequências da morte anunciada do plano de saúde, conhecido por Obamacare, nas populações rurais que tanto contribuíram para a vitória de Trump. Revelador.
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