“Eu podia ser o homem mais popular de Portugal, um one-man show”, diz-nos. É assim, Bruno, eu não teria tanta certeza. Temos de concordar de que o público do circo futebolístico não é o mesmo que alegadamente lhe encheria salas de espetáculos. Pode tentar, mas o caminho vai ser difícil. É verdade que as televisões lhe concedem de bom grado, a qualquer altura, um espaço na grelha para o seu solo de stand-up comedy, mas audiência não significa qualidade, Bruno.
Parece-me a mim que ao Bruno lhe faltará uma consciência de si próprio, uma capacidade de autocrítica, uma fluência na autoironia que, dado o seu ego do tamanho de Myanmar, não consegue ter. O seu humor passa muito pelo bashing gratuito. É um estilo? É. Mas agora, com a pressão do politicamente correto sobre a produção cultural, julga que tiradas como aquela em que insinua que o comentador Rui Santos tem um “piquinho a azedo” lhe granjearão reconhecimento na comédia? Difícil, Bruno. Homofobia, enfim, é um caminho. Mas sem punchline não vamos lá. Procure criar um humor mais relacionável e pessoal, como as vicissitudes de ser pai, os dramas de um viciado no Facebook ou as desventuras e angústias de organizar uma puta de uma gala.
A verdade é que os exemplos de trabalho humorístico que nos vem apresentando, não lhe asseguram o sucesso, pelo menos para já. Com um acting forçado e zero ritmo, o sketch em que anuncia que vai ser pai, é o cringe no seu estado mais puro. Mas atenção, talvez o problema esteja no formato. Aliás, caso se venha a confirmar a sua saída do Sporting – e se pretender efetivamente optar pela criação de conteúdos como saída profissional - talvez não fosse descabido inaugurar um canal de YouTube, daqueles que apelam a um público infantil. Tem algumas coisas em comum com tais YouTubers, como a disponibilidade para fazer qualquer coisa por atenção, estar constantemente aos berros ou a falta de espírito crítico dos seus seguidores. Só não acredito que ingira pastilhas Tide, apenas porque vêm nas cores que representam os rivais. De resto, fico à espera do react à conquista da Taça da Liga e da diss track ao Madeira Rodrigues.
Em todo o caso, não me interprete mal: o facto de eu considerar que o Bruno não irá suceder como criador de comédia, não me impede de vê-lo como uma excelente personagem humorística. Como é sabido, há profícuos argumentistas da área que o apoiam fervorosamente, pelo que não me surpreenderia que, daqui a uns anos, se viesse a saber que tudo isto não teria passado de uma sofisticada performance satírica, executada a partir de um guião extremamente competente. Seria discutivelmente a obra maior da comédia nacional – e um grande alívio para os apreciadores de futebol.
Por agora, caso esteja empenhado nesta mudança de vida, resta-me sugerir-lhe que trabalhe um pouco o texto. É que “eu quando durmo, durmo com os três olhos fechados”? Um pouco escatológico demais, não considera? O público português, hoje, está mais exigente. Essa abordagem está desatualizada. Humor sobre orifícios? Já não se faz desde 2002. Sabe o que é que também não se faz desde 2002? Oh, não. Fogo. Piada fácil. Vou-me coibir, Bruno. Vou-me coibir.
PS: Despeça o Jesus e vá buscar o Henrique Calisto, que treinou na Tailândia. Quem já jogou com monções não culpará o vento pela derrota.
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