Gostava de aproveitar estas crónicas para dar a conhecer, ao leitor, uma Bimby pouco usada (só fez sopa e Martinis) que tenho para vender por novecentos e noventa e nove euros e noventa cêntimos e as minhas irritações quinzenais. Confesso que, por um momento, pensei recusar escrever este texto porque o convite foi feito em Novembro e, normalmente, o que faz sentido nesta altura do ano, quando nos pedem alguma coisa, é dizer  - “epá, agora não dá porque mete-se o Natal e depois temos a passagem de ano”. É uma coisa que já está tão enraizada que nos sai naturalmente mesmo que estejamos desempregados e sem nada para fazer.

Posto isto,  a minha profunda irritação desta quinzena vai para os embrulhos de Natal. Veja o cada vez mais estimado leitor (começo a sentir um clima) que há filas de dezenas de quilómetros no Centro Comercial Colombo, junto à mesa das miúdas que fazem embrulhos de Natal. Muito contribuem para isso aquelas pessoas que compram vinte e seis embalagens de três Mon Cheri e, depois, pedem para embrulhar em embrulhos separados. Não satisfeitos com a sua dose cavalar de estupidez, ainda pegam numa caneta e escrevem o nome de cada uma das pessoas a quem vão dar a prenda. Não vá o avô abanar a caixa de Mon Cheri e partir tudo o que lá vai dentro. Alguns, não contentes com isso, resolvem entrar na  categoria dos quadrúpedes que se queixam que o embrulho não está bonito. Como se a miúda que faz laços, e usa a fita-cola, tivesse obrigação de dar dignidade a uma prenda que custou dois euros e trinta cêntimos.

É como as garrafas de whisky e outros derivados alcoólicos. No Natal uma garrafa de whisky tem de ter uma caixa bonita à volta para fingir que aquela garrafa que custou onze euros no supermercado vale o mesmo que uma com 50 anos, de malte envelhecido em cascos de virgens escocesas canhotas. Na verdade, aquilo é apenas uma garrafa de VAT69 vulgaríssima vestida para domingo. Vamos lá ver uma coisa, se pegarmos num bêbedo de tasca e o enfiarmos dentro de um fato de metal com castelos escoceses ele não fica a parecer um artista conhecido que bebe uns copos.

Resumindo, por favor, parem de embrulhar prendas. É desperdício de papel e, acima de tudo, de tempo. Tapem os olhos às pessoas e ponham-lhes a prenda à frente. É surpresa na mesma e se uma pessoa já tem, e tem de ir trocar, escusa de estar ali a perder tempo a desembrulhar.

Além do mais, é muito mais fácil percebemos pela cara das pessoas se realmente gostaram. Aquele tempo, em que já sabemos o que é a prenda (e já percebemos que não nos agrada) mas ainda estamos a rasgar o papel é, normalmente, aproveitado para inventarmos uma mentira para dizer que vamos ter de trocar, e o Natal não deve ser sinónimo de hipocrisia. Vamos acabar com isso, está bem? Obrigado.

Sugestões do autor para a semana que passou:

A faixa - “Broke Me In Two”, de Joan As Police Woman com Benjamin Lazar.

A notícia -  na semana da morte do astronauta John Glenn, a revelação feita pela NASA de imagens do local mais frio de Marte (aprecio o frio).

E ainda na ficção científica - o livro -  Bíblia - Livro 1: Novo Testamento: Os Quatro Evangelhos segundo uma tradução de Frederico Lourenço, Prémio Pessoa 2016, que levantou alguma polémica e que fica bem em qualquer gaveta de quarto de hotel.

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