O jogo era decisivo. A comunicação social portuguesa especializada – que é como quem diz os jornais desportivos – esteve-se nas tintas e a Seleção de Futebol Feminino, que carrega a camisa com as cinco quinas, viu-se votada ao desprezo, mas sobretudo sem apoio. Dirão: Ah, mas perderam. 

Não perderam nada, senhores, empataram, podem vir para casa de cabeça bem erguida e felizes. 

Empataram com a equipa dos Estados Unidos da América a qual, já agora, é Campeã do Mundo em título. Isso que importa? 

Para o jornal A Bola, nada. Para o Record, tão-pouco e, para o jornal Jogo, nicles. Portanto, a coisa fica-se pelo costume: nas primeiras páginas os destaques foram, respectivamente, para Chermiti, que vai a caminho do Everton; para Huljman, que parece que vai a caminho de ser leão, e para Nico, cuja fome de títulos decerto o colocará noutros caminhos. 

Não, senhores, não há qualquer laivo de discriminação aqui, há só machismo puro e duro, daqueles que está de tal forma enraizado, que nem se deve dar conta de que existe. É como os anúncios de conferências e painéis à volta de grandes temas, que só incluem homens. Alguém chama a atenção e “Ups, não foi por mal”. Ou, pior, mas igualmente recorrente, “Não encontrámos nenhuma mulher disponível”. 

Navegadoras, daqui vos deixo a minha vénia. Terão muito caminho para trilhar, já se sabe, muitos obstáculos e mais críticas que muitos outros atletas. É da condição feminina ter os caminhos pejados de pouco apoio e muita soberba, pouco entusiasmo e muito julgamento. Vocês não precisam de provar seja o que for, já o conseguiram. Pelos vistos, a imprensa nacional não deu por isso num dia tão importante para a equipa portuguesa. Temos pena? Temos vergonha, mas siga, da próxima vez “eles compensam”. É da condição masculina.