A ativação fisiológica provocada pelas emoções é conhecida de todos nós. Quem nunca sentiu o coração a bater a descompasso quando está com medo, ou sentir o calor a subir quando está zangado? As emoções vivem no nosso corpo e interagem com ele, provocando sinais físicos.

No entanto, a repressão das nossas emoções pode também, por vezes, provocar sintomas por uma ativação que não pode acontecer, não teve caminho para se libertar. Um exemplo muito frequente desta situação é a sensação de nó na garganta quando nos controlamos para não chorar. Ou a dor de cabeça característica, por exemplo, de quando não nos permitimos zangar. Isto deverá fazer-nos pensar sobre a mensagem que passamos, por exemplo, às nossas crianças sobre gestão emocional: “Para lá de chorar” ou “É feio estares zangado” são ensinamentos que não promovem a saudável gestão emocional, favorecendo o aparecimento de sinais ou sintomas que já não poderão ser reprimidos ou suprimidos pela criança (como uma dor de barriga, por exemplo).

Numa perspetiva mais complexa, com certeza que todos já ouvimos dizer que este ou aquele sintoma físico “é psicológico”, que é causado por um estado emocional. Efetivamente estas situações são bastante comuns, mas geralmente são mal interpretadas. Na maioria das vezes, dizer que um sintoma “é psicológico” implica uma desvalorização do sofrimento físico que ele causa, como se fosse forjado pela própria pessoa – este é um mito que importa desconstruir. Os sintomas físicos de origem psicológica provocam tanto sofrimento, dor e incómodo como aqueles que têm uma origem estritamente física e não devem ser desvalorizados como elementos de categoria menor. Muitas vezes, as pessoas que estão a sofrer com estes sintomas, acabam por ter um obstáculo extra que é verem o seu sofrimento ser relativizado, ignorado ou não atendido.

Vários estudos demonstram que a ligação entre a nossa saúde emocional e a saúde física é muito estreita. Os resultados que se seguem dizem respeito a um estudo realizado nos Estados Unidos, mas permitem-nos compreender a importância desta ligação. Percebeu-se que pessoas expostas a acontecimentos de vida adversos, ou seja, pessoas que foram expostas a situações de alto stress traumático sobretudo na infância e adolescência, têm um risco aumentado até 15% de sofrerem uma das mais frequentes causas de morte, tais como bronquite obstrutiva crónica, doenças cardíacas ou hepáticas. Foi demonstrado ainda que tinham uma probabilidade duas vezes maior de ter um cancro e quatro vezes maior de ter um enfisema. 

A forma como lidamos, gerimos e nos adaptamos a acontecimentos adversos determina a nossa saúde emocional, mas também a nossa saúde física. O corpo não fica de fora quando vivemos desregulação emocional: ele faz parte de todo o processo e deve ser tido em conta como algo a cuidar, mas também como um aliado no processo de tratamento e recuperação do bem-estar.