A política parece um jogo da batata quente. Tanto o governo como a oposição congratulam-se pelas boas notícias, numa espécie de masturbação ao ego ou like nas próprias publicações de Facebook, e atiram as responsabilidades para o anterior ou atual governo sempre que alguma coisa corre mal. É a mesma lógica dos religiosos fanáticos: o que acontece de bom foi Deus, o que acontece de mal é porque cada um sabe de si e Deus não pode interferir.

A recente polémica devido ao número de mortos dos incêndios de Pedrogão Grande fez-me perceber ainda mais de que tudo não passa de um jogo para grande parte da classe política. É um reality show à escala nacional em que o que conta é a popularidade. Num concurso de talentos, os concorrentes falam sobre os traumas da sua vida e fazem-se de coitadinhos para apelar aos votos:

- O que nos vens cantar?
- Venho cantar Adele porque me lembra de quando eu fui abandonado pelos meus pais no dia do meu aniversário que foi também o dia em que descobri que tinha um uma hemorroida.
- Acho que podes ser o vencedor desta edição! Força.

Os políticos não podem dar-se a este luxo porque ninguém tem pena deles. Não é pelo facto de Pedro Passos Coelho ter a mulher doente que as pessoas lhe perdoam os desafinanços. Por isso, na política opta-se por atacar e denegrir a imagem do adversário sempre que aparece uma oportunidade. Não interessa se se usa uma tragédia e dezenas de mortos para conseguir os objectivos, já que a política é como o amor e a guerra em que vale tudo. Este aproveitamento da tragédia de Pedrogão que dura há tempo demais faz-me crer que a melhor opção será tornar tudo isto num jogo transmitido na televisão que sempre se lucrava alguma coisa e se equilibrava o défice com receitas de publicidade. Uma espécie de “Preço Certo”, mas em que se tentava adivinhar o número de mortos das tragédias em Portugal. Chamemos-lhe “Os mortos certos” só para ser um título autoexplicativo. Fazia-se na Assembleia - com o Fernando Mendes como moderador - e todos os deputados podiam mandar o seu palpite sobre o real número de mortos. No final, os que tivessem ficado mais perto ganhavam uma viagem patrocinada pela Galp ou pela Huawei que era da maneira que eles viajavam sem ser às nossas custas. Já sei que estão a pensar que isto seria uma perda de tempo e que mais valia ajudar as vítimas do que desperdiçar recursos a tentar adivinhar quantos mortos foram, e que oferecer viagens a políticos em nome de empresas pode não ser eticamente responsável, não é? Ah, pois.

Já agora, deixo aqui mais uns jogos que podiam ser adaptados para a política, só para tornar isto mais atractivo para as pessoas que há muito perderam o interesse:

  • Pictionary – Os debates do Estado da Nação seriam feitos sempre ao estilo Pictonary em que os deputados e ministros teriam de desenhar os seus argumentos.
  • Quem é quem? – Este jogo podia ser adaptado usando apenas caras de políticos. As perguntas «É um ser humano?» e «É corrupto?» não mudavam nada no jogo.
  • Batalha Naval – Usando o iate de Ricardo Salgado – aquele onde Marcelo Rebelo de Sousa costumava passar férias – podia fazer-se uma batalha naval. Paulo Portas levava os submarinos e o Porta Aviões era quem trouxesse a Joana Amaral Dias ao colo. Perceberam? Sou um génio sexista.
  • Quem quer ser milionário? – Jogo preferido de José Sócrates que não se conformou com os ordenados miseráveis de Primeiro Ministro.
  • Monopólio – Este é autoexplicativo: comprar e vender terrenos com trafulhices, ir preso e voltar a jogar. O Isaltino Morais chama ao monopólio “O Jogo da Vida”.
  • LEGO – O brinquedo favorito dos autarcas locais em véspera de eleições. Toca a brincar com as ruas das cidades como se fossem LEGOS, criando labirintos tal como eu fazia com o meu hamster.
  • Roda da Sorte – Só porque neste jogo dava para comprar vogais e um vogal também é um membro de uma comissão, junta ou assembleia que muitas vezes dá para comprar com uma viagem e uma sandes mista só de queijo.
  • Cluedo – Tem sido, basicamente, o dia a dia da vida de muitos políticos. Tentar descobrir de quem é a culpa e, já dizia José Mário Branco, se a culpa é de todos então a culpa não é de ninguém.

Por fim, sugiro que a política adopte o modelo do “Love On Top” já que em termos de promiscuidade não é muito diferente do mundo da política: faziam-se várias provas todas as semanas e o povo decidia quem era expulso da assembleia através de um número de valor acrescentado, poupando-se, assim, dinheiro nos focus group para saber a popularidade do Top Boy Político da semana. Para incentivar ao voto do povo, quem ligasse ficava habilitado ao sorteio de um estágio não remunerado numa qualquer empresa gerida por um ex-político. 

Sugestões e dicas de vida:

Não deixem os cães fechados no carro com este calor.

De 11 a 14 de Agosto há o Festival Bons Sons dedicado à música portuguesa.

Se estiverem à procura de um livro para levarem de férias e parecerem cultos na praia sugiro o livro do Doutor G.