Os contratos que estão a ser divulgados são relativamente semelhantes, embora com perímetros suficientemente variáveis para não permitirem a comparação directa entre os três clubes. Não se podem comprar montantes globais de cada acordo porque o que está dentro de cada “frasco” é diferente - nuns casos há patrocínio principal para aparecer nas camisolas, noutros não, por exemplo - e os prazos são também diferenciados. É preciso fazer muitas contas e ler as letras mais pequenas dos acordos para que se possa chegar a uma conclusão sobre ganhadores e perdedores.

O menos importante é mesmo essa lógica de “o meu é melhor do que o teu” em que as tribos do futebol são doutoradas, tudo discutido, obviamente, com a mesma objectividade e honestidade intelectual com que avaliam o penalti que se marcou ou o que ficou por marcar.

O interessante é olhar para o que estes acordos nos dizem sobre o sector dos media e da distribuição de conteúdos, sejam eles de informação, entretenimento, grandes espectáculos desportivos, ficção ou o que quer que seja.

Eles confirmam, se é que isso ainda é necessário, que o conteúdo é rei. As plataformas de distribuição são cada vez mais e tecnologicamente mais diversas mas a principal batalha está nos conteúdos. A questão não é tanto saber como se distribui mas sim o que se distribui. Porque já está tudo em todo o lado, graças à convergência tecnológica. Temos canais de televisão acessíveis através do computador, dos tablet ou smartphones que podemos ver em qualquer lado. E temos televisores com acesso à internet através dos quais podemos ver o Youtube, os vídeos do SAPO ou de qualquer outra plataforma web. Os adolescentes cá de casa são quem passa mais tempo em frente ao aparelho de televisão mas para fazer tudo menos aquilo a que se convencionou chamar televisão: canais formais, com uma grelha pré-estabelecida. Sabemos que é isto que se passa na generalidade das casas, em Portugal ou em qualquer outro país desenvolvido.

Se os conteúdos reinam, dentro destes o futebol é imperador. As audiências confirmam-no há muitos anos e não há razão para pensar que vai deixar de ser assim nos próximos anos. Podem aparecer entretanto outros formatos vencedores, como há década e meia apareceram os “reality shows” e depois se impuseram os concursos de talentos. Mas há espaço para todos, sem que uns anulem o impacto dos outros.

Outro sinal importante é a diferenciação das ofertas dos quatro operadores que nos levam televisão a casa: MEO, NOS, Vodafone e Cabovisão (além destes há a plataforma TDT para o serviço básico dos quatro canais chamados aereais e ARTV). É uma tendência relativamente recente mas que está a acentuar-se. No início, as ofertas de canais de televisão de cada operador eram relativamente semelhantes e a escolha entre um ou outro era feita sobretudo pelo preço - também ele muito alinhado -, pelo pacote de serviços ou pela percepção das funcionalidades tecnológicas: a net é fiável e veloz? conseguimos recuar quantos dias para ver os programas que não vimos quando foram transmitidos? quantos cartões de telemóvel e com que tarifários estão no pacote?

Depois começaram a aparecer alguns canais em exclusivo num ou noutro operador. Mas poucos conteúdos têm o poder do futebol para fazer, só por si, muitos clientes mudar de operador. Essa tendência vai agora acentuar-se. Os exclusivos pagam-se e no futebol os exclusivos pagam-se caros. E se se pagam caros, têm depois que ser rentabilizados pelos operadores, com pacotes tambem diferenciados e canais fechados com assinatura própria.

Nesta lógica, esta corrida aos direitos de transmissão do futebol não surpreende.

O que pode surpreender nestes negócios feitos entre o MEO e a NOS, por um lado, com o Benfica, Porto e Sporting, por outro, é o prazo de extensão dos contratos. Para os clubes, estes contratos a 10 e 12 anos dão uma garantia de estabilidade de receita num horizonte temporal longo, o que é bom para qualquer gestão.

Mas numa área em permanente evolução e onde a revolução é frequente, não sabemos se daqui a cinco anos aquilo que hoje parece ser um bom negócio não se tornará num fardo para uma das partes. No caso do FCPorto e do Sporting, os acordos de direitos televisivos estendem-se até 2028, o que é uma eternidade.

Basta recordar que há uma década e meia não havia Youtube nem Facebook e a Netflix não era sequer uma promessa. Que o iPhone só apareceu há oito anos e os tablet depois disso. Em cerca de uma década mudámos profundamente a forma como vemos televisão - é mais correcto dizer vídeo - e acedemos ao que queremos ver. Paralelamente, os modelos de negócio com os conteúdos também mudaram e a mudança não vai ficar por aqui.

É fácil prever que em 2028 o futebol vai continuar a ser um espectáculo de massas mas poucos arriscarão apostar como é que vamos ver os jogos: em que aparelhos? e como vamos pagar por isso?

Era interessante conhecer com detalhe os contratos que estão a ser assinados, sobretudo que cláusulas de revisão contêm e em que condições, para perceber como uns e outros salvaguardam a necessária evolução.

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